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Salvador legitima sabedoria popular
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
A cena é muito comum no Candeal, bairro localizado no centro
de Salvador. Antes de procurarem
os médicos, os dentistas, os enfermeiros e os agentes comunitários
que trabalham no único posto de
saúde do local, os moradores costumam comparecer à casa de Maria José Menezes dos Santos, 63,
que há mais de quatro décadas
"receita" e produz medicamentos
fitoterápicos -à base de plantas- para os seus "pacientes".
"Os meus remédios curam a
tosse, a bronquite, a asma, a anemia, a rouquidão, o colesterol
prejudicial à saúde e qualquer tipo de dor", diz Santos, que não
concluiu a quarta série do ensino
fundamental. "Todos os meus oito filhos e os quatro netos foram
criados com remédios naturais."
De fato, a tradição do bairro levou a Prefeitura de Salvador a
inaugurar, no final de 2003, o primeiro posto de saúde do município voltado à fitoterapia. Uma
horta, com 39 espécies de plantas
medicinais, cerca a unidade. Outras 40 mudas devem ser plantadas nos próximos dois meses.
"A sabedoria popular jamais
pode ser desprezada. Verbalmente, costumo receitar ervas para os
meus pacientes", disse a médica
Lícia Regina Peixinho, 45, que trabalha no posto de saúde.
Antes da inauguração do posto,
médicos da prefeitura e funcionários do departamento do curso de
farmácia da FTC (Faculdade de
Tecnologia e Ciências) identificaram e cadastraram 92 espécies de
plantas medicinais utilizadas pelos moradores do bairro. "Nós
apenas legitimamos a sabedoria
popular", disse a secretária municipal da Saúde, Aldely Rocha, 53.
Segundo a dentista Tânia Carvalho, 47, que também trabalha
no posto, "os remédios à base de
folhas não têm contra-indicação".
Mesmo em seu consultório, fora
do posto, a dentista costuma receitar um chá de malva aos pacientes que necessitam de um medicamento antiinflamatório.
"Rezadeira" do bairro, Marinalva Ventura de Almeida, 45, disse
também tomar medicamentos à
base de folhas. "Algumas plantas
têm eficácia comprovada há mais
de um século." De acordo com a
secretária Aldely Rocha, o primeiro posto a aceitar a fitoterapia em
Salvador promoveu uma "inclusão" social em Candeal. "Antes da
inauguração, os moradores já
consumiam as ervas. Nós não temos o direito de mudar uma
crença. Afinal, qual o brasileiro
que não foi criado tomando chá?"
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