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Marcha contra racismo reúne 2.500
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ontem, 21 de março, foi Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. Para as cerca
de 2.500 pessoas, segundo a Polícia Militar, que participaram ontem de uma marcha contra a impunidade, a violência policial e o
racismo, havia muito pouco o que
comemorar no Brasil.
"A violência racial sempre foi
prática do Estado brasileiro. E a
cartilha vigente entre os policiais
diz que negro parado é suspeito e
correndo é ladrão", afirma José
Galdino, 49, secretário estadual
do PT de combate ao racismo e
um dos líderes do movimento negro organizado.
A marcha, organizada pela
Frente Parlamentar pela Igualdade Racial da Assembléia Legislativa de São Paulo, percorreu parte
do centro da cidade, a partir da
praça da Sé, onde houve um ato
multirreligioso com a presença de
católicos, budistas, muçulmanos,
judeus e membros de religiões
afro-brasileiras.
"A desigualdade racial é o câncer da sociedade contemporânea.
Todos são vítimas", afirmou o rabino Henry Sobel, presente na
passeata.
"Precisamos assumir que o racismo existe. Vivemos uma cultura da violência e precisamos criar
uma cultura de paz, justiça e cura
da Terra. O policial deve andar
com uma arma, mas desde que
esteja desarmado no coração",
disse a monja Coen.
O ato teve ainda a presença de
parlamentares petistas ligados à
Frente, como os deputados estaduais Sebastião Arcanjo, Renato
Simões e Roberto Feliciano, e o
deputado federal Vicentinho.
"É preciso uma resposta efetiva
do Estado para a violência racial.
O governador Geraldo Alckmin
se comprometeu com a introdução de um curso de tutela penal da
igualdade racial no currículo dos
PMs. Estamos aguardando que isso se concretize", disse Hédio Silva Jr., presidente da Comissão de
Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Após a cerimônia, a marcha seguiu até o prédio do Comando
Geral da Polícia Militar, no Bom
Retiro, onde os manifestantes
chegaram segurando velas acesas
em memória das vítimas da violência e da discriminação racial.
Muitos manifestantes vestiam
camisetas com a imagem do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, 28,
morto por policiais militares em
São Paulo, em fevereiro deste ano.
O caso foi o principal mote do
protesto. "Perdi um ente querido,
mas a sociedade perdeu um homem de muita honra", desabafou
Marinela Ferreira Sant'Ana, 31, irmã de Flávio.
Ao final da passeata, foi entregue ao Comando Geral da Polícia
Militar uma carta que exige medidas de proteção da população negra contra práticas racistas e de
promoção de ações afirmativas.
Entre elas, estão dois projetos do
senador Paulo Paim (PT-RS): um
que prevê o agravo da pena para
crimes motivados por racismo e
outro que disciplina a prática da
busca pessoal, mais conhecida como revista policial. "A lei diz que a
busca pessoal deve ocorrer por
suspeitas bem fundadas, mas a
prática ficou banalizada, especialmente entre negros. O projeto
prevê o preenchimento de um registro por parte do policial, justificando a sua suspeita", explica o
presidente da comissão da OAB.
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