São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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Marcha contra racismo reúne 2.500

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem, 21 de março, foi Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. Para as cerca de 2.500 pessoas, segundo a Polícia Militar, que participaram ontem de uma marcha contra a impunidade, a violência policial e o racismo, havia muito pouco o que comemorar no Brasil.
"A violência racial sempre foi prática do Estado brasileiro. E a cartilha vigente entre os policiais diz que negro parado é suspeito e correndo é ladrão", afirma José Galdino, 49, secretário estadual do PT de combate ao racismo e um dos líderes do movimento negro organizado.
A marcha, organizada pela Frente Parlamentar pela Igualdade Racial da Assembléia Legislativa de São Paulo, percorreu parte do centro da cidade, a partir da praça da Sé, onde houve um ato multirreligioso com a presença de católicos, budistas, muçulmanos, judeus e membros de religiões afro-brasileiras.
"A desigualdade racial é o câncer da sociedade contemporânea. Todos são vítimas", afirmou o rabino Henry Sobel, presente na passeata.
"Precisamos assumir que o racismo existe. Vivemos uma cultura da violência e precisamos criar uma cultura de paz, justiça e cura da Terra. O policial deve andar com uma arma, mas desde que esteja desarmado no coração", disse a monja Coen.
O ato teve ainda a presença de parlamentares petistas ligados à Frente, como os deputados estaduais Sebastião Arcanjo, Renato Simões e Roberto Feliciano, e o deputado federal Vicentinho.
"É preciso uma resposta efetiva do Estado para a violência racial. O governador Geraldo Alckmin se comprometeu com a introdução de um curso de tutela penal da igualdade racial no currículo dos PMs. Estamos aguardando que isso se concretize", disse Hédio Silva Jr., presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Após a cerimônia, a marcha seguiu até o prédio do Comando Geral da Polícia Militar, no Bom Retiro, onde os manifestantes chegaram segurando velas acesas em memória das vítimas da violência e da discriminação racial.
Muitos manifestantes vestiam camisetas com a imagem do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, 28, morto por policiais militares em São Paulo, em fevereiro deste ano. O caso foi o principal mote do protesto. "Perdi um ente querido, mas a sociedade perdeu um homem de muita honra", desabafou Marinela Ferreira Sant'Ana, 31, irmã de Flávio.
Ao final da passeata, foi entregue ao Comando Geral da Polícia Militar uma carta que exige medidas de proteção da população negra contra práticas racistas e de promoção de ações afirmativas. Entre elas, estão dois projetos do senador Paulo Paim (PT-RS): um que prevê o agravo da pena para crimes motivados por racismo e outro que disciplina a prática da busca pessoal, mais conhecida como revista policial. "A lei diz que a busca pessoal deve ocorrer por suspeitas bem fundadas, mas a prática ficou banalizada, especialmente entre negros. O projeto prevê o preenchimento de um registro por parte do policial, justificando a sua suspeita", explica o presidente da comissão da OAB.


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