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SISTEMA PRISIONAL
Governo diz que rebeliões simultâneas foram reação à ação da Tropa de Choque em motim na segunda
Presos se rebelam em mais 4 cidades de SP
GILMAR PENTEADO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O sistema prisional de São Paulo
já registra em 2006, num período
de menos de três meses, o mesmo
número de rebeliões em presídios
que em todo o ano passado. Ontem, pela segunda vez neste ano,
presos de diferentes cadeias organizaram protestos simultâneos
como demonstração de força.
Houve muita destruição, e 33 funcionários foram feitos reféns em
quatro presídios. Oito agentes e
três presos ficaram feridos.
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, as rebeliões simultâneas realizadas ontem foram uma reação dos presos
a uma ação da Tropa de Choque
da Polícia Militar, que invadiu
uma penitenciária em Iperó (120
km da capital paulista), anteontem à tarde, para acabar com o
motim. Quinze detentos ficaram
feridos. Os presos reclamam de
que a invasão da PM ocorreu antes do término da negociação.
As rebeliões de ontem revelaram a capacidade de organização
dos presos, que usam celulares
como principal instrumento de
comunicação. Por mês, uma média de 200 aparelhos são apreendidos no sistema prisional, segundo a secretaria.
Em uma das unidades rebeladas
ontem, presos desenharam a sigla
PCC (Primeiro Comando da Capital) no telhado usando lençóis,
segundo agentes. A secretaria diz
que essa ação organizada ainda
está sob investigação. A pasta não
esclareceu como os detentos conseguiram se organizar e se a iniciativa partiu do PCC.
Todas as rebeliões tinham sido
controladas até o começo da noite
de ontem, de acordo com o governo estadual.
De janeiro até o começo da noite de ontem, o sistema prisional
administrado pelo governador
Geraldo Alckmin, candidato virtual do PSDB à Presidência da República, registrou 27 revoltas,
mesmo número contabilizado em
todo o ano passado -a secretaria
separa as ocorrências entre motins, quando os presos dominam
apenas uma parte da unidade, e
rebeliões, quando os presos controlam toda a cadeia.
A situação registrada em 2006
só não é pior que a de 2001, ano da
megarrebelião dos presídios. Em
um só dia, presos de 29 unidades
se rebelaram.
Reação em série
As quatro rebeliões começaram
logo após o fim do motim na penitenciária de Iperó. A primeira
prisão a aderir foi a Penitenciária
3 de Franco da Rocha, na Grande
São Paulo. A rebelião começou na
noite de anteontem, quando 16
funcionários foram feitos reféns
pelos detentos.
Sete agentes e três presos sofreram ferimentos leves, segundo a
secretaria. Os detentos destruíram vários pavilhões.
A reação em série seguiu no
CDP de Mogi das Cruzes, na
Grande São Paulo, quando os presos fizeram 11 reféns, às 10h de ontem. Um dos agentes sofreu um
corte na cabeça.
Às 11h30, foi a vez dos detentos
do CDP de Caiuá (632 km de SP),
que capturam um funcionário.
Um dos pavilhões foi totalmente
destruído pelos rebelados.
Quinze minutos depois, os presos do CDP de Mauá, também na
Grande São Paulo, completavam
a suposta rede de solidariedade,
fazendo cinco funcionários reféns. Na negociação, os presos entregaram à direção da unidade
uma pistola .40, arma de uso exclusivo da polícia.
À tarde, os detentos suspenderam os motins. Em fevereiro, presos fizeram cinco rebeliões simultâneas no Estado. Na ocasião, o
governo negou que as ações fossem articuladas. Para o Ministério
Público, na época, os motins foram uma demonstração de força
do PCC.
Alckmin
O secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
não quis falar com a reportagem.
Pela manhã, quando as rebeliões
estavam em andamento, o governador Geraldo Alckmin afirmou
que o fato de ter havido cinco rebeliões no Estado desde domingo
não é coincidência e que pode haver uma ação organizada por trás
das revoltas.
O governador afirmou, porém,
desconhecer a origem delas: "São
rebeliões sem pauta de reivindicação". Alckmin citou a baixa porcentagem de fugas em presídios
do Estado em 2005 (0,11%) como
uma possível explicação. E procurou se mostrar despreocupado:
"Estou absolutamente zen. Vão
brigar sozinhos, porque comigo
não vão conseguir".
Alckmin também afirmou que
os líderes desses movimentos vão
para o RDD (Regime Disciplinar
Diferenciado). Ontem, presos de
unidades destruídas já começaram a ser transferidos. Detentos
também reclamaram de superlotação -todas as unidades rebeladas estavam com presos acima de
sua capacidade-, e reivindicaram a transferência de condenados. Os CDPs são unidades com
menos infra-estrutura destinadas
a presos provisórios.
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