São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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SISTEMA PRISIONAL

Governo diz que rebeliões simultâneas foram reação à ação da Tropa de Choque em motim na segunda

Presos se rebelam em mais 4 cidades de SP

GILMAR PENTEADO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sistema prisional de São Paulo já registra em 2006, num período de menos de três meses, o mesmo número de rebeliões em presídios que em todo o ano passado. Ontem, pela segunda vez neste ano, presos de diferentes cadeias organizaram protestos simultâneos como demonstração de força. Houve muita destruição, e 33 funcionários foram feitos reféns em quatro presídios. Oito agentes e três presos ficaram feridos.
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, as rebeliões simultâneas realizadas ontem foram uma reação dos presos a uma ação da Tropa de Choque da Polícia Militar, que invadiu uma penitenciária em Iperó (120 km da capital paulista), anteontem à tarde, para acabar com o motim. Quinze detentos ficaram feridos. Os presos reclamam de que a invasão da PM ocorreu antes do término da negociação.
As rebeliões de ontem revelaram a capacidade de organização dos presos, que usam celulares como principal instrumento de comunicação. Por mês, uma média de 200 aparelhos são apreendidos no sistema prisional, segundo a secretaria.
Em uma das unidades rebeladas ontem, presos desenharam a sigla PCC (Primeiro Comando da Capital) no telhado usando lençóis, segundo agentes. A secretaria diz que essa ação organizada ainda está sob investigação. A pasta não esclareceu como os detentos conseguiram se organizar e se a iniciativa partiu do PCC.
Todas as rebeliões tinham sido controladas até o começo da noite de ontem, de acordo com o governo estadual.
De janeiro até o começo da noite de ontem, o sistema prisional administrado pelo governador Geraldo Alckmin, candidato virtual do PSDB à Presidência da República, registrou 27 revoltas, mesmo número contabilizado em todo o ano passado -a secretaria separa as ocorrências entre motins, quando os presos dominam apenas uma parte da unidade, e rebeliões, quando os presos controlam toda a cadeia.
A situação registrada em 2006 só não é pior que a de 2001, ano da megarrebelião dos presídios. Em um só dia, presos de 29 unidades se rebelaram.

Reação em série
As quatro rebeliões começaram logo após o fim do motim na penitenciária de Iperó. A primeira prisão a aderir foi a Penitenciária 3 de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. A rebelião começou na noite de anteontem, quando 16 funcionários foram feitos reféns pelos detentos.
Sete agentes e três presos sofreram ferimentos leves, segundo a secretaria. Os detentos destruíram vários pavilhões.
A reação em série seguiu no CDP de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, quando os presos fizeram 11 reféns, às 10h de ontem. Um dos agentes sofreu um corte na cabeça.
Às 11h30, foi a vez dos detentos do CDP de Caiuá (632 km de SP), que capturam um funcionário. Um dos pavilhões foi totalmente destruído pelos rebelados.
Quinze minutos depois, os presos do CDP de Mauá, também na Grande São Paulo, completavam a suposta rede de solidariedade, fazendo cinco funcionários reféns. Na negociação, os presos entregaram à direção da unidade uma pistola .40, arma de uso exclusivo da polícia.
À tarde, os detentos suspenderam os motins. Em fevereiro, presos fizeram cinco rebeliões simultâneas no Estado. Na ocasião, o governo negou que as ações fossem articuladas. Para o Ministério Público, na época, os motins foram uma demonstração de força do PCC.

Alckmin
O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, não quis falar com a reportagem. Pela manhã, quando as rebeliões estavam em andamento, o governador Geraldo Alckmin afirmou que o fato de ter havido cinco rebeliões no Estado desde domingo não é coincidência e que pode haver uma ação organizada por trás das revoltas.
O governador afirmou, porém, desconhecer a origem delas: "São rebeliões sem pauta de reivindicação". Alckmin citou a baixa porcentagem de fugas em presídios do Estado em 2005 (0,11%) como uma possível explicação. E procurou se mostrar despreocupado: "Estou absolutamente zen. Vão brigar sozinhos, porque comigo não vão conseguir".
Alckmin também afirmou que os líderes desses movimentos vão para o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Ontem, presos de unidades destruídas já começaram a ser transferidos. Detentos também reclamaram de superlotação -todas as unidades rebeladas estavam com presos acima de sua capacidade-, e reivindicaram a transferência de condenados. Os CDPs são unidades com menos infra-estrutura destinadas a presos provisórios.


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