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Após aborto, garota de nove anos recebe apoio psicológico
Mãe não quer retornar a Alagoinha por temer que filhas fiquem marcadas e não consigam retomar as suas vidas
Secretaria Especial da Mulher afirma que menina passa bem e não faz ideia de que passou por um aborto para interromper a gravidez
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALAGOINHA (PE)
Pouco mais de duas semanas
após ter sido submetida a um
aborto, a menina de nove anos
que foi abusada sexualmente
pelo padrasto em Alagoinha
(PE) passa os dias desenhando,
pintando e brincando com bonecas em um abrigo em Recife,
com a mãe e a irmã, de 14 anos.
A Secretaria Especial da Mulher, órgão estadual responsável pela tutela da menina, afirma que ela passa bem, tem recebido apoio médico e psicológico e não faz ideia de que passou por um aborto para interromper a gravidez de gêmeos
-que estava no quarto mês.
O aborto ganhou repercussão até mesmo na mídia internacional quando o arcebispo de
Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, tentou barrar o
procedimento procurando os
pais da menina, diretores do
hospital onde ela estava internada e o Tribunal de Justiça.
Sem sucesso, ele lembrou,
após o aborto, a lei canônica e
afirmou que a mãe e os médicos
que participaram do aborto estavam automaticamente excomungados da Igreja Católica.
Dias depois, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) declarou que cada caso
deve ser analisado diante de
suas próprias circunstâncias e
que nenhum familiar da menina estava excomungado.
A secretária da Mulher, Cristina Buarque, afirmou, logo depois do aborto, que a menina
pensava que havia sido submetida a um procedimento para se
livrar de vermes. A secretária-executiva da pasta, Lucidalva
Nascimento, diz que a garota
não entende o que passou pois
é "muito menina", e que ela
realmente acredita que estava
apenas com verminose.
Alagoinha
Segundo Nascimento, a mãe
não quer retornar a Alagoinha
porque teme que as filhas fiquem estigmatizadas na cidade, de 14 mil habitantes, e não
consigam retomar suas vidas.
A casa alugada em que o padrasto, a mãe e as duas meninas
viviam, na zona urbana de Alagoinha, está trancada desde 27
de fevereiro, quando a menina
foi internada em Recife. Segundo vizinhos, o proprietário do
imóvel -de dois quartos, sala,
banheiro e cozinha- está
aguardando a retirada dos pertences da família para poder
alugá-lo a outras pessoas.
Lucidalva Nascimento diz
que a menina gosta de participar das atividades lúdicas e recreativas promovidas pelo abrigo e que tanto ela como a irmã,
que também sofreu abusos sexuais do padrasto, voltarão a
estudar assim que retornarem
à rotina em uma outra cidade.
Na creche municipal onde
estudava o segundo ano do ensino fundamental, em Alagoinha, professoras dizem que ela
era "carinhosa e nunca faltava
às aulas". Mesmo assim, apresentava déficit de aprendizado
que a fez repetir o ano passado.
O pai das meninas
O pai das meninas, que está
separado da mãe delas há cerca
de dois anos e meio, afirmou à
reportagem, na casa onde mora
em Alagoinha, que não tem notícias delas. "A última vez que vi
minha filha foi no hospital.
Ninguém me conta nada."
O lavrador diz que quando a
viu, na véspera do aborto, ela
apontou para a barriga e disse
que teria duas crianças. "Ela falou que ia ser uma dela e outra
para a irmã brincar. Ela sabia
que estava grávida."
Ele afirma que só permitiu o
aborto porque disseram a ele
que a filha -que tem 1,36 metro e 33 quilos- ia morrer.
Segundo ele, os encontros
com as filhas não eram frequentes porque a separação
com a mulher foi traumática.
No dia em que o padrasto foi
detido pela polícia e confessou
ter abusado sexualmente das
duas meninas por cerca de três
anos, o pai diz que foi chamado
por amigos e vizinhos para ir à
delegacia, mas preferiu não seguir ao local. Segundo ele, se for
preciso, vai pedir para ter a
guarda das meninas.
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