São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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URBANISMO

Peças na Nove de Julho foram recuperadas por R$ 300 mil na gestão José Serra; prefeitura alega problema no encanamento

Recém-reformada, fonte pára de funcionar

Caio Guatelli/Folha Imagem
Espelho d'água da fonte inativa na avenida Nove de Julho, no centro de São Paulo, que passou por reforma há menos de três meses


RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de três meses depois de reformadas, as duas fontes que adornam, uma de cada lado, a entrada do túnel Daher Elias Cutait, na avenida Nove de Julho (centro de São Paulo), já estão em processo de deterioração. Uma das peças está desligada, e a única que funciona apresenta infiltrações. Algumas das palmeiras plantadas para embelezar os jardins ao redor estão morrendo por falta de irrigação diária.
As fontes, construídas na década de 40, foram entregues pela prefeitura em 2 de fevereiro, dentro do pacote de melhorias anunciado pelo então prefeito José Serra (PSDB), pré-candidato ao governo do Estado, para o 452º aniversário da cidade. A reforma custou cerca de R$ 300 mil, bancados pela empresa Racional Engenharia.
Até a reforma, iniciada em dezembro, as fontes estavam desligadas, com a pintura desgastada e eram utilizadas como banheira por moradores de rua do centro. De acordo com um texto divulgado pela prefeitura em 20 de janeiro, a reforma incluiu a instalação de novas bombas para as cascatas d'água, a recuperação dos sistemas elétrico e hidráulico, o conserto de vazamentos e a implantação de iluminação especial.
Para evitar depredações, uma equipe da GCM (Guarda Civil Metropolitana) passou a vigiar o local 24 horas por dia.
O carro da GCM continua a guardar as fontes. Não há pichações, e os banhos de chafariz acabaram. A iluminação, instalada na parte mais alta do muro -atrás das fontes, para evitar furtos-, funciona. Mas os problemas não são poucos.
No sentido centro-bairro, por exemplo, a fonte deixou de funcionar. A água, de tom esverdeado, está parada, e o seu cheiro é ruim.
"Funcionou um tempo depois da inauguração, aí parou", diz um funcionário municipal, que não quis se identificar. Segundo a prefeitura, a peça apresentou um problema no encanamento e será inspecionada na próxima semana (leia texto nesta pág.).
Do outro lado da avenida, o chafariz continua a funcionar, mas as paredes estão com filetes escuros, típicos de umidade.
Dos dois lados da avenida, o paisagismo feito durante a revitalização mostra, exceção feita à grama aparada, sinais de abandono. Entre as 23 palmeiras que cresceram dos dois lados, nove estavam com parte das folhas caídas e amareladas. Segundo o servidor público ouvido pela Folha, as palmeiras não são regadas há mais de 15 dias.
De acordo com o biólogo Amauri Cesar Marcato, pesquisador do Instituto de Botânica da USP, a coloração das palmeiras sugere que elas podem ter morrido -ele comentou em tese, sem ver as plantas. "Se a planta não é cuidada, não há milagre. O ideal seria regar diariamente. Mas, se ela entrou nesse processo de senescência [envelhecimento], pode já estar morta."
Segundo ele, as palmeiras não rebrotam, ou seja, se mortas, têm que ser arrancadas. A prefeitura informou que as palmeiras não estão mortas -somente precisam de água.

Chafariz
A exemplo das fontes, o chafariz da Ladeira da Memória, no Anhangabaú (centro), está vazio. Ao lado da fonte fica o obelisco, o mais antigo monumento da cidade, construído em 1814 e restaurado em dezembro.
"A prefeitura trocava a água todo dia. Faz uns 15 dias que não vieram mais", disse um ambulante, que montou uma barraca de CDs e DVDs piratas ao lado do obelisco. De acordo com a prefeitura, ocorreu um problema no encanamento.
O ambulante disse que meninos e moradores de rua usavam o chafariz para tomar banho e jogar sacos com cola de sapateiro usados. "Era só a prefeitura limpar para eles [usuários] sujarem de novo." Anteontem, crianças com sacos com uma pasta amarela dentro, característico de cola, circulavam pelo local. Não usavam, no entanto, o chafariz.
Um funcionário público disse à Folha que, para evitar que moradores de rua tomassem banho e bebessem água da fonte, a prefeitura misturou água sanitária à água. A subprefeitura nega.
O largo da Memória, onde fica a Ladeira da Memória, era ponto das caravanas de tropeiros que chegavam a São Paulo no século 19. A restauração do obelisco, que incluiu a remoção das pichações, durou seis meses e custou R$ 330 mil, pagos pela CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), do Grupo Votorantim.


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