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SAÚDE/ GASTROENTEROLOGIA
Cresce doença inflamatória intestinal entre crianças
Retocolite ulcerativa e doença de Crohn causam diarréia constante e dor abdominal
Excesso de higiene deixaria sistema imunológico sem condições de reagir a estímulos, detonando um problema genético
CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL
As doenças inflamatórias intestinais estão se tornando cada vez mais comuns em crianças e adolescentes no Brasil, seguindo uma tendência observada nos países industrializados.
Os dois principais tipos de
doença inflamatória intestinal
(DII) são a retocolite ulcerativa
e doença de Crohn. Nas duas, a
superfície do intestino fica inflamada. Há diferenças, mas ambas são
marcadas por diarréia persistente, dor abdominal, sangramento, febre e perda de peso.
A professora de gastroenterologia pediátrica da Unifesp
Vera Lucia Sdepanian fez um
levantamento no ambulatório
pediátrico entre 91 e 2006 e
constatou um aumento no número de casos entre crianças.
Em 91, havia um paciente com
o problema; em 2002, 12 entre
os cerca de 900 atendidos mensalmente; e em 2006, 16 dos
900 atendimentos por mês.
"As doenças inflamatórias
intestinais eram mais freqüentes em adultos jovens, mas agora também estão afetando as
crianças, como não acontecia
antes. Há uma tendência estatística crescente", afirma.
Não existe cura para o problema. O tratamento medicamentoso é focado em evitar que
ocorram novas crises e nos seus
sintomas. Um especialista
identifica a gravidade do caso e
o tratamento correto, com antiinflamatórios, antibióticos e
terapias biológicas na veia etc.
Em casos mais graves pode ser
necessário fazer uma cirurgia.
A dieta também pode ser alterada. No entanto, a maioria
das crianças requer pouca ou
nenhuma alteração na dieta.
Entre as recomendações estão a diminuição do sal quando
o paciente toma corticóides,
pouca fibra e menos laticínios.
Suplementos vitamínicos podem ser bem-vindos. Em último caso, há dietas líquidas nutricionalmente completas, que
podem ser usadas sozinhas ou
com alimento normal.
Ainda não há explicação definitiva para a causa da doença
nem motivo para que as crianças passem a ser vítimas dela.
Para Flavio Steinwurz, presidente da Associação Brasileira
de Colite Ulcerativa e Doença
de Crohn, a hipótese mais importante é de que haja uma predisposição genética para o problema. Em algum momento,
surgiria um "gatilho" para desencadear o problema.
"O indivíduo entra em contato com algo do ambiente e tem
uma resposta exagerada. A inflamação é uma defesa exagerada, que acaba causando lesão
no organismo", explica.
Mas o que seria esse gatilho?
Uma das teorias citadas por Vera Sdepanian é a dieta, cada vez
mais rica em "produtos industrializados, com mais conservantes, adulterantes etc.".
A teoria mais aceita, porém,
está relacionada ao excesso de
higiene. "Em crianças cuidadas
numa redoma, que não podem
engatinhar, não podem colocar
nada na boca, o sistema imunológico não tem condições de
aprender a reagir aos estímulos
com que as pessoas entram em
contato", diz Magaly Gemio
Teixeira, coloproctologista do
Hospital das Clínicas.
"No dia em que entra em
contato com um microorganismo, que pode até não ser nocivo, ela vai desenvolver uma reação imunológica exacerbada."
Segundo Magaly, há outras
manifestações, como dor nas
articulações, manifestações cutâneas, hepáticas e renais.
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