São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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SAÚDE/ GASTROENTEROLOGIA

Cresce doença inflamatória intestinal entre crianças

Retocolite ulcerativa e doença de Crohn causam diarréia constante e dor abdominal

Excesso de higiene deixaria sistema imunológico sem condições de reagir a estímulos, detonando um problema genético

CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL

As doenças inflamatórias intestinais estão se tornando cada vez mais comuns em crianças e adolescentes no Brasil, seguindo uma tendência observada nos países industrializados.
Os dois principais tipos de doença inflamatória intestinal (DII) são a retocolite ulcerativa e doença de Crohn. Nas duas, a superfície do intestino fica inflamada. Há diferenças, mas ambas são marcadas por diarréia persistente, dor abdominal, sangramento, febre e perda de peso.
A professora de gastroenterologia pediátrica da Unifesp Vera Lucia Sdepanian fez um levantamento no ambulatório pediátrico entre 91 e 2006 e constatou um aumento no número de casos entre crianças. Em 91, havia um paciente com o problema; em 2002, 12 entre os cerca de 900 atendidos mensalmente; e em 2006, 16 dos 900 atendimentos por mês.
"As doenças inflamatórias intestinais eram mais freqüentes em adultos jovens, mas agora também estão afetando as crianças, como não acontecia antes. Há uma tendência estatística crescente", afirma.
Não existe cura para o problema. O tratamento medicamentoso é focado em evitar que ocorram novas crises e nos seus sintomas. Um especialista identifica a gravidade do caso e o tratamento correto, com antiinflamatórios, antibióticos e terapias biológicas na veia etc. Em casos mais graves pode ser necessário fazer uma cirurgia.
A dieta também pode ser alterada. No entanto, a maioria das crianças requer pouca ou nenhuma alteração na dieta.
Entre as recomendações estão a diminuição do sal quando o paciente toma corticóides, pouca fibra e menos laticínios. Suplementos vitamínicos podem ser bem-vindos. Em último caso, há dietas líquidas nutricionalmente completas, que podem ser usadas sozinhas ou com alimento normal.
Ainda não há explicação definitiva para a causa da doença nem motivo para que as crianças passem a ser vítimas dela.
Para Flavio Steinwurz, presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn, a hipótese mais importante é de que haja uma predisposição genética para o problema. Em algum momento, surgiria um "gatilho" para desencadear o problema.
"O indivíduo entra em contato com algo do ambiente e tem uma resposta exagerada. A inflamação é uma defesa exagerada, que acaba causando lesão no organismo", explica.
Mas o que seria esse gatilho? Uma das teorias citadas por Vera Sdepanian é a dieta, cada vez mais rica em "produtos industrializados, com mais conservantes, adulterantes etc.".
A teoria mais aceita, porém, está relacionada ao excesso de higiene. "Em crianças cuidadas numa redoma, que não podem engatinhar, não podem colocar nada na boca, o sistema imunológico não tem condições de aprender a reagir aos estímulos com que as pessoas entram em contato", diz Magaly Gemio Teixeira, coloproctologista do Hospital das Clínicas.
"No dia em que entra em contato com um microorganismo, que pode até não ser nocivo, ela vai desenvolver uma reação imunológica exacerbada."
Segundo Magaly, há outras manifestações, como dor nas articulações, manifestações cutâneas, hepáticas e renais.


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