São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Sem placas, consumidor se diz perdido

Estabelecimentos da capital ainda estão se adaptando à Lei Cidade Limpa, que restringe o tamanho de suas fachadas

Dificuldade para encontrar lojas é maior nas ruas de comércio popular; em várias delas, a retirada dos letreiros revela a sujeira


DA REPORTAGEM LOCAL

Onde fica a Lustres Yamamura, na rua da Consolação? E aquela loja de tecidos e vestidinhos da José Paulino?
A Cidade Limpa, lei que eliminou a propaganda e limitou as fachadas da capital, deixou São Paulo perdida. Ao menos por enquanto. Sem referências e identificação, consumidores têm dificuldade para encontrar lojas e endereços.
Conhecida pelas lojas de móveis e de instrumentos musicais, a Teodoro Sampaio, em Pinheiros, está parcialmente sem placas ou letreiros. Nem faixas que identifiquem as lojas. "Muitas vezes passo em frente sem me dar conta de que o lugar era ali", diz o administrador José Henrique Cavalcante, 34.
A partir da esquina da Teodoro com a João Moura, uma farmácia, uma loja de antigüidades, um salão de beleza, uma lanchonete, uma casa de material de construção e uma loja de instrumentos musicais não têm uma placa de identificação sequer. Nenhuma.
Dono da Bicampeão Ferragens, na quadra sem nomes, o comerciante português Antônio Murias, 62, diz que vai gastar "muito dinheiro" para adaptar a fachada às dimensões da Cidade Limpa. Muito dinheiro: uns R$ 3.000, pelas contas que fez. "Não vou pôr nada enquanto não acertarem a lei. Ainda não posso confiar. Nem o prefeito sabe o que quer. Vai ficar assim mesmo, sujo como está."
A confusão dos consumidores ocorre principalmente nas ruas de comércio popular, como a 25 de Março, José Paulino e Silva Pinto, Santa Ifigênia, Maria Marcolina e Oriente.
"Por que os lojistas não colocam faixas dizendo que estão atendendo normalmente? Isso não é multado, é informação pública. É só respeitar o tamanho da lei", avalia Regina Monteiro, diretora de projetos e paisagem urbana da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) de São Paulo.

Luminárias no escuro

A rua da Consolação, que concentra casas de luminárias, também está sem letreiros. Com lojas parecidas ou quase padronizadas, consumidores têm se queixado por não achar o que procuram.
"Faz meia hora que ando, ando, ando e não acho a lojinha que me dava desconto. A lei do outdoor melhorou a cidade, mas ainda estou perdida", diz a psicóloga Fernanda Abreu, 39.
Urbanistas avaliam que São Paulo vive uma fase de transição, em que lojas e consumidores precisam encontrar novas identidades visuais. À primeira vista, a retirada das placas revela fachadas malcuidadas. Com tempo, crê Regina Monteiro, a cidade se reconstruirá.
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)


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