São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

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Para polícia, gritos de ajuda podem ter sido do irmão de Isabella

Hipótese ganhou força após laudos apontarem para a possibilidade de Isabella ter chegado já inconsciente ao apartamento da família

Por ora, a polícia não deverá ouvir o menino, de 3 anos; mais à frente, no entanto, ele poderá ser incluído em programa da Justiça

ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE

DA REPORTAGEM LOCAL

Os gritos de uma criança ouvidos na noite em que Isabella Nardoni foi assassinada podem ser, para a polícia de São Paulo, do irmão de três anos da menina. Essa é uma das possibilidades admitidas pela polícia para os gritos de "papai, papai, papai... pára... pára", relatados por duas testemunhas vizinhas do pai, Alexandre Alves Nardoni, 29, e da madrasta, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, 24, na Vila Isolina Mazzei (zona norte de São Paulo).
A tese de ter sido o menino e não Isabella o responsável pelos gritos ganhou força após os laudos da perícia apontarem para a possibilidade de a menina ter chegado inconsciente ao apartamento do pai.
Como considera a investigação já concluída -com o pai e a madrasta de Isabella sendo apontados como os dois únicos suspeitos do crime-, a polícia descarta a necessidade de ouvir o menino, pelo menos por ora.
Mais à frente, no entanto, a possibilidade pode ser reavaliada. Quando se tornar um processo, a Justiça poderá determinar que o menino seja submetido ao programa "Justiça Sem Dor".
Por esse método, já utilizado no país, psicólogos são colocados para brincar com o garoto e, em meio às brincadeiras, tentam fazer com que a criança diga tudo o que viu e ouviu em determinada ocasião -nesse caso, na noite de 29 de março, quando a menina foi morta.
Nardoni e Anna negaram domingo a participação do casal na morte de Isabella. Assim como seus advogados de defesa, o casal alega que uma terceira pessoa entrou no apartamento, por motivos desconhecidos, e jogou a menina pela janela do sexto andar.
A defesa já disse que os gritos de "pára...pai" poderiam ser um pedido de socorro para que Nardoni intercedesse contra essa suposta terceira pessoa.

Testemunhas
Uma das testemunhas dos gritos é o professor Antonio Lúcio Teixeira, 61, também morador do edifício London. Teixeira foi uma das primeiras pessoas a ligar para a polícia relatando a queda da menina.
O professor diz que que ouviu os gritos de "papai, papai, papai... pára... pára" cinco minutos antes de escutar o barulho do impacto do corpo da menina no jardim do prédio. "A impressão que teve foi que a criança gritava de um dos apartamentos", disse ele à polícia.
A advogada Geralda Afonso Fernandes, 64, moradora de uma casa na mesma rua do edifício London, também relata uma versão semelhante. Disse que acordou com os gritos de "papai, papai, papai", "não sabendo determinar o sexo", apenas "gritos de criança".
"Esclarece que o grito era alto e dava a impressão de ser um grito de chamado pelo pai, como se ele não estivesse ao lado dessa criança. Era um grito confiante, no sentido de saber que o pai iria ouvi-la e atendê-la", afirmou a advogada.
Além de ter firmado, com base em laudos técnicos de peritos e legistas, a convicção de que Nardoni atirou a filha pela janela, após a madrasta ter tentado asfixiá-la, a polícia também se apega em detalhes de tempo para produzir mais provas contra os dois.
Uma das investigações é centrada na permanência do casal no edifício London antes da morte de Isabella. Para os policiais, Nardoni e a família entraram na garagem do prédio às 23h36; às 23h49, a menina foi jogada pela janela.
Hoje, o pai e a irmã de Alexandre -Antonio Nardoni e Cristiane- serão interrogados no 9º DP (Carandiru).


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