São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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MARIA INÊS DOLCI

Os donos do mercado


Para o consumidor, é uma lástima ter poucas opções ao comprar. É muito bom para quem se apodera do mercado

FUSÕES E AQUISIÇÕES se aceleraram, no Brasil, nos últimos anos, principalmente de 2005 para cá. Depois da onda -pós-Plano Real- no segmento financeiro, alastraram-se por toda a economia. Vamos recapitular algumas.
Transporte aéreo: Gol comprou a Nova Varig. Planos de Saúde: Amil fez opção de compra da Blue Life, depois de já ter ficado com a carteira de planos individuais da Porto Seguro; a Medial comprou a Amesp. Supermercados: Wal-Mart adquiriu as 141 lojas do Grupo Sonae; Carrefour contra-atacou, e pagou R$ 2,27 bilhões pelo Atacadão, e lidera o mercado brasileiro. Telefonia: segundo matéria publicada nesta "Folha", "para o presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara, Júlio Semeghini (PSDB-SP), a tendência é a de que, rapidamente, restem duas grandes operadoras no Brasil, uma ligada à Telmex e outra à Telefónica".
Energia e petroquímica: Petrobrás, Braskem, Grupo Ultra são os novos donos do Grupo Ipiranga. Locadoras de DVD: Americanas.com, que já tem a Blockbuster no Brasil, agora estaria interessada na rede 2001, em São Paulo. Comércio pela Internet: Americanas e Submarino fundiram suas operações no final do ano passado; em 2005, Americanas.com já havia adquirido a TV Sky Shop, dona do site Shoptime.com.
Bebidas: Ambev (Brahma + Antarctica) somou a Cervejaria Cintra à sua carteira, e chegou a 66% do mercado de cervejas; Coca-Cola assumiu o controle dos mais de 60 produtos da Matte Leão em dezembro de 2006 e, com a Femsa (engarrafadora de Coca-Cola e dona da Cervejaria Kaiser), comprou a mexicana Sucos Del Valle.
Além de proporcionar uma bela dor de cabeça ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), do Ministério da Justiça -a quem cabe aprovar, com ou sem restrições, ou vetar esses negócios-, fusões e aquisições afetam diretamente o consumidor. É fácil entender o por quê.
Até hoje, quando um grupo de meninos joga bola, o mais importante do time não é o goleador, nem o goleiro que defende pênaltis. O líder é o dono da bola, que pode acabar com o jogo num piscar de olhos. Isso também vale para a economia. Quem detém mais da metade de um mercado isoladamente, ou por meio de associações com concorrentes -os cartéis-, manda.
É por isso que monopólios (em que só um controla o mercado), oligopólios (em que poucos controlam) e cartéis são (ou eram) palavrões no capitalismo. O livre-mercado, de verdade, não coabita com meia dúzia de empresas que ditem as regras da oferta e da procura.
Para o consumidor, é uma lástima (e uma ameaça) ter poucas opções na hora de comprar a passagem aérea, de alugar um filme, de fazer supermercado, de abastecer o carro, de dar um telefonema.
É um negócio muito bom para quem se apodera do mercado. Nada bom para nós, em preços, na qualidade dos serviços e na oferta de produtos em segmentos, modalidades ou locais que não interessem aos empresários monopolistas. Quem pode mais, chora menos.


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