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MARIA INÊS DOLCI
Os donos do mercado
Para o consumidor, é uma lástima ter poucas opções ao comprar. É muito bom para quem se apodera do mercado
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FUSÕES E AQUISIÇÕES se aceleraram, no Brasil, nos últimos
anos, principalmente de 2005
para cá. Depois da onda -pós-Plano
Real- no segmento financeiro, alastraram-se por toda a economia. Vamos recapitular algumas.
Transporte aéreo: Gol comprou a
Nova Varig. Planos de Saúde: Amil
fez opção de compra da Blue Life,
depois de já ter ficado com a carteira
de planos individuais da Porto Seguro; a Medial comprou a Amesp. Supermercados: Wal-Mart adquiriu as
141 lojas do Grupo Sonae; Carrefour
contra-atacou, e pagou R$ 2,27 bilhões pelo Atacadão, e lidera o mercado brasileiro. Telefonia: segundo
matéria publicada nesta "Folha",
"para o presidente da Comissão de
Ciência, Tecnologia e Comunicação
da Câmara, Júlio Semeghini (PSDB-SP), a tendência é a de que, rapidamente, restem duas grandes operadoras no Brasil, uma ligada à Telmex
e outra à Telefónica".
Energia e petroquímica: Petrobrás, Braskem, Grupo Ultra são os
novos donos do Grupo Ipiranga. Locadoras de DVD: Americanas.com,
que já tem a Blockbuster no Brasil,
agora estaria interessada na rede
2001, em São Paulo. Comércio pela
Internet: Americanas e Submarino
fundiram suas operações no final do
ano passado; em 2005, Americanas.com já havia adquirido a TV Sky
Shop, dona do site Shoptime.com.
Bebidas: Ambev (Brahma + Antarctica) somou a Cervejaria Cintra
à sua carteira, e chegou a 66% do
mercado de cervejas; Coca-Cola assumiu o controle dos mais de 60
produtos da Matte Leão em dezembro de 2006 e, com a Femsa (engarrafadora de Coca-Cola e dona da
Cervejaria Kaiser), comprou a mexicana Sucos Del Valle.
Além de proporcionar uma bela
dor de cabeça ao Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica), do Ministério da Justiça -a
quem cabe aprovar, com ou sem restrições, ou vetar esses negócios-,
fusões e aquisições afetam diretamente o consumidor. É fácil entender o por quê.
Até hoje, quando um grupo de meninos joga bola, o mais importante
do time não é o goleador, nem o goleiro que defende pênaltis. O líder é
o dono da bola, que pode acabar com
o jogo num piscar de olhos. Isso
também vale para a economia.
Quem detém mais da metade de um
mercado isoladamente, ou por meio
de associações com concorrentes
-os cartéis-, manda.
É por isso que monopólios (em
que só um controla o mercado), oligopólios (em que poucos controlam) e cartéis são (ou eram) palavrões no capitalismo. O livre-mercado, de verdade, não coabita com
meia dúzia de empresas que ditem
as regras da oferta e da procura.
Para o consumidor, é uma lástima
(e uma ameaça) ter poucas opções
na hora de comprar a passagem aérea, de alugar um filme, de fazer supermercado, de abastecer o carro,
de dar um telefonema.
É um negócio muito bom para
quem se apodera do mercado. Nada
bom para nós, em preços, na qualidade dos serviços e na oferta de produtos em segmentos, modalidades
ou locais que não interessem aos
empresários monopolistas. Quem
pode mais, chora menos.
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