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Queria protestar contra atrasos, diz preso
Os seis detidos sob acusação de parar os trens serão indiciados pelo crime de perigo de desastre ferroviário, inafiançável
Passageiros reclamam que não receberam ajuda
para retirar dos vagões as pessoas que começaram a passar mal devido à lotação
JULIANA CARIELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um dos seis presos ontem
sob acusação de apertar o botão
de parada de emergência de um
trem da CPTM (Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos) e obstruir os trilhos com
paus e pedras, o estudante Elizeu Adalgiso Souza Rocha, 29,
disse à polícia que "sua intenção foi chamar a atenção para o
problema que enfrenta diariamente com atrasos freqüentes
e o descaso das autoridades",
segundo o que foi registrado
em seu depoimento.
Ele foi preso em flagrante em
companhia do ajudante geral
Fernando Augusto da Conceição, 19, do vendedor Cledivaldo
Clementino de Araújo Silva, 26,
do gesseiro Ivan da Silva Vieira,
22, do ajudante Robson Henrique da Silva, 24, e do auxiliar de
serviços gerais Edson Vieira
Lopes, 34, por volta das 7h30.
Os seis devem ser indiciados
pelo crime de perigo de desastre ferroviário, que prevê pena
de reclusão de dois a cinco anos
de prisão. Embora nenhum deles tenha antecedentes criminais, serão enviados a um CDP
(Centro de Detenção Provisória), pois o crime é inafiançável.
Segundo o delegado Marco
Antônio Bernardino Campos,
do Setor de Investigações Gerais da 5ª Delegacia Seccional
(Leste), o grupo não se conhecia previamente e era composto por trabalhadores.
Entre 40 e 50 pessoas que
também participaram do protesto conseguiram fugir.
"O grupo alegou que não
agüentava mais sair de casa três
ou quatro horas antes de pegar
no serviço e, com os atrasos dos
trens, ainda chegar tarde", disse Campos.
A Folha não conseguiu ontem contato com os seis detidos ou com seus advogados.
Eles foram levados para o 31º
DP (Vila Carrão).
Pressa
Muitos passageiros que
abandonaram os cinco trens
paralisados tinham como justificativa a pressa para chegar ao
trabalho e o auxílio a pessoas
que estavam passando mal por
causa da lotação dos vagões.
"Eu vi muitas senhoras passando mal e até uma mulher
com uma criança no colo que
não conseguia descer do trem.
Não apareceu nenhum guarda
para ajudar. Tivemos que nos
revezar para ajudar as pessoas a
descer até os trilhos. Eu torci o
pé", disse a vendedora Valdinéia Aparecida da Luz, 28.
A CPTM informou que os
agentes de segurança enviados
para o local não foram suficientes para ajudar 6.000 pessoas.
"As pessoas ficaram nervosas
e começaram a chutar a porta
até ela abrir. Eu pulei um muro
para tentar pegar o metrô e machuquei o braço", disse a balconista Ana Lúcia Alves, 34.
Passageiros ouvidos pela Folha afirmaram que entre 30 e
50 minutos se passaram entre a
parada do primeiro trem e o
anúncio do maquinista de que a
composição retornaria à estação Tatuapé -o que provocou o
abandono do veículo. A CPTM
afirmou que o intervalo foi de
no máximo 15 minutos.
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