São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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Queria protestar contra atrasos, diz preso

Os seis detidos sob acusação de parar os trens serão indiciados pelo crime de perigo de desastre ferroviário, inafiançável

Passageiros reclamam que não receberam ajuda para retirar dos vagões as pessoas que começaram a passar mal devido à lotação

JULIANA CARIELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um dos seis presos ontem sob acusação de apertar o botão de parada de emergência de um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e obstruir os trilhos com paus e pedras, o estudante Elizeu Adalgiso Souza Rocha, 29, disse à polícia que "sua intenção foi chamar a atenção para o problema que enfrenta diariamente com atrasos freqüentes e o descaso das autoridades", segundo o que foi registrado em seu depoimento.
Ele foi preso em flagrante em companhia do ajudante geral Fernando Augusto da Conceição, 19, do vendedor Cledivaldo Clementino de Araújo Silva, 26, do gesseiro Ivan da Silva Vieira, 22, do ajudante Robson Henrique da Silva, 24, e do auxiliar de serviços gerais Edson Vieira Lopes, 34, por volta das 7h30.
Os seis devem ser indiciados pelo crime de perigo de desastre ferroviário, que prevê pena de reclusão de dois a cinco anos de prisão. Embora nenhum deles tenha antecedentes criminais, serão enviados a um CDP (Centro de Detenção Provisória), pois o crime é inafiançável.
Segundo o delegado Marco Antônio Bernardino Campos, do Setor de Investigações Gerais da 5ª Delegacia Seccional (Leste), o grupo não se conhecia previamente e era composto por trabalhadores.
Entre 40 e 50 pessoas que também participaram do protesto conseguiram fugir.
"O grupo alegou que não agüentava mais sair de casa três ou quatro horas antes de pegar no serviço e, com os atrasos dos trens, ainda chegar tarde", disse Campos.
A Folha não conseguiu ontem contato com os seis detidos ou com seus advogados. Eles foram levados para o 31º DP (Vila Carrão).

Pressa
Muitos passageiros que abandonaram os cinco trens paralisados tinham como justificativa a pressa para chegar ao trabalho e o auxílio a pessoas que estavam passando mal por causa da lotação dos vagões.
"Eu vi muitas senhoras passando mal e até uma mulher com uma criança no colo que não conseguia descer do trem. Não apareceu nenhum guarda para ajudar. Tivemos que nos revezar para ajudar as pessoas a descer até os trilhos. Eu torci o pé", disse a vendedora Valdinéia Aparecida da Luz, 28.
A CPTM informou que os agentes de segurança enviados para o local não foram suficientes para ajudar 6.000 pessoas.
"As pessoas ficaram nervosas e começaram a chutar a porta até ela abrir. Eu pulei um muro para tentar pegar o metrô e machuquei o braço", disse a balconista Ana Lúcia Alves, 34.
Passageiros ouvidos pela Folha afirmaram que entre 30 e 50 minutos se passaram entre a parada do primeiro trem e o anúncio do maquinista de que a composição retornaria à estação Tatuapé -o que provocou o abandono do veículo. A CPTM afirmou que o intervalo foi de no máximo 15 minutos.



















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