São Paulo, sábado, 22 de maio de 2010

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Ter mais pessoas num só espaço aumenta estresse, diz psicólogo

Pessoas reagem mal ao espaço restrito, segundo José Roberto Leite, da Unidade de Medicina Comportamento da Unifesp

Para ele, projeto da Infraero para o aeroporto de Cumbica tem lógica do ponto de vista da engenharia, mas não no da psicologia

DA REPORTAGEM LOCAL

O plano da Infraero (empresa estatal que administra os aeroportos do país) de acabar com áreas livres e comprimir mais gente em um mesmo espaço aumenta o nível do estresse do passageiro no aeroporto, diz o psicólogo José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
No saguão dos aeroportos, já existe a combinação medo de avião e ansiedade pela viagem, agravada por atrasos em voos e serviços muitas vezes ruins.
"Pode ter até sua lógica do ponto de vista da engenharia, mas não é a solução mais lógica do ponto de vista da psicologia", afirma Leite. O professor sugere que as pessoas relaxem -e até pratiquem meditação-, já que não há nada a fazer.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)

 

FOLHA - Com a aglomeração de filas no aeroporto de Cumbica, as pessoas tendem a sofrer mais antes de embarcar?
JOSÉ ROBERTO LEITE -
É aquela história: se estão usando esse tipo de manobra, é evidente que teremos aumento na movimentação do aeroporto, o que já está ocorrendo. Com o aumento do número de pessoas no mesmo espaço, seguramente vai crescer o nível se estresse.

FOLHA - Como as pessoas passam a se comportar nesses locais cheios? Como o senhor vê esse plano para Cumbica?
LEITE -
Vamos observar a mesma coisa que acontece no reino animal. Em locais confinados, as pessoas reagem, sentem o espaço restrito.
[O projeto da Infraero] Pode ter até sua lógica do ponto de vista da engenharia, mas não é a solução mais lógica do ponto de vista da psicologia. E muita gente já chega com o estresse do medo de voar.

FOLHA - Como esses problemas afloram no aeroporto?
LEITE -
Com tantas pessoas em um espaço menor, você tem de enfrentar a superpopulação. Pessoas com síndrome de pânico sentem mais, elas se sentem extremamente desconfortáveis. É muito ruim, e a pessoa já estava mal.
E mesmo quem não tem nenhum problema psicológico já sofre com isso.

FOLHA - Conflitos tendem a ficam mais comuns?
LEITE -
Muitas vezes, ainda não se recebe um atendimento correto [nos balcões das companhias aéreas]. A pessoa paga um valor razoável [pelo bilhete] e ainda espera muito, não é atendida. Vai voar e ainda passa por essa situação.
Daí, a pessoa explode a qualquer momento, briga com o atendente.

FOLHA - Então, o que os passageiros podem fazer?
LEITE -
O ruim é que, se você só tem uma alternativa, não tem alternativa nenhuma.
Por mais horrível e de mau gosto que seja a frase da Marta Suplicy ["Relaxa e goza", disse a ex-ministra a pessoas presas nos aeroportos durante o caos aéreo], é quase isso mesmo.

FOLHA - Deve-se relaxar?
LEITE -
É, não adianta desesperar. As pessoas podem praticar meditação, relaxamento, respiração. Isso já leva a um certo grau de conforto.


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