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Brasil obtém vitória contra os europeus sobre genéricos
Proposta aprovada determina que OMS trate o assunto como de saúde pública, deixando de lado questões comerciais e de patentes
Entidade é criticada pelo país por tratar da mesma forma remédios genéricos e falsos; UE e laboratórios lutam pela manutenção das patentes
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A Organização Mundial da
Saúde deu ao Brasil um tento
na disputa com a União Europeia sobre acesso à medicação
ao adotar ontem uma decisão
que cria uma força-tarefa contra remédios falsos e fixa linhas
claras entre eles e os genéricos.
O texto foi proposto pelo
Brasil na Assembleia Mundial
da Saúde, em Genebra, e ganhou apoio dos demais países
da Unasul (União das Nações
Sul-Americanas), dos países do
Sudeste Asiático e dos africanos (exceto da Nigéria).
A versão aprovada é mais
aguada do que a proposta inicial, mas ainda assim determina que a OMS trate a questão de
um ponto de vista da saúde pública, deixando de lado questões comerciais e de propriedade intelectual (patentes).
O Brasil e organizações como
a Médicos Sem Fronteiras
(MSF) criticam a entidade por
causar confusão ao tratar da
mesma forma remédios genéricos -produzidos segundo as
normas sanitárias- e falsificados, o que ecoa a campanha da
UE e das farmacêuticas pela
manutenção das patentes.
Ontem, em nota, a diretora
de políticas para acesso à medicação da MSF, Michelle Childs,
elogiou a decisão.
"Agora há uma estrutura de
trabalho clara para tratar das
questões a respeito do papel da
OMS nas medidas sobre medicamentos falsificados de um
modo que não afete remédios
legítimos", afirmou.
Dias antes, Childs dissera à
Folha que a prática vinha prejudicando o acesso à medicação
em países pobres.
Navios retidos
Em 2008 e 2009, países da
União Europeia retiveram 28
navios com remédios genéricos
indianos, um dos quais seguia
para o Brasil.
O estatuto da UE permite a
apreensão de cargas que passem por seu território, mesmo
que o destino final seja outro.
Mas o Brasil e a Índia veem a
medida como violação das regras da Organização Mundial
do Comércio e, na semana passada, deram início ao processo
para contestar a UE na entidade. Com a decisão na OMS, a
campanha brasileira em múltiplas frentes ganha corpo.
"A OMS não tem poder para
obrigar ninguém a fazer nada,
mas, quando aprova um conjunto de medidas em determinada área da saúde pública, os
países se orientam por aquele
princípio", disse o ministro José Gomes Temporão (Saúde).
Em conversa com a Folha
durante sua passagem por Genebra, encerrada na quinta,
Temporão disse que a questão
para o Brasil era mais política
do que prática e que a ação na
OMS seria uma "sinalização".
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