|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desde 97, polícia já fez 21 paralisações
DA REPORTAGEM LOCAL
Nunca a polícia se rebelou com
tanta frequência como nos últimos cinco anos: houve 21 greves,
incluindo o maior levante no país,
em 97, quando 12 Estados sofreram com paralisações de policiais
quase que ao mesmo tempo. Foram seis apenas neste ano.
Na década de 80, o país viu estourar dez levantes, a maioria deles (seis) de policiais civis. Governadores usaram então uma força
contra a outra para abafar os movimentos salariais nos Estados.
Esse cenário muda a partir dos
anos 90, quando as duas corporações começam a fundir a pauta de
reivindicações. É que elas entram
na nova década com um mesmo
patamar salarial, coisa que não
havia nos anos 80 -período de
concorrência entre elas.
As polícias também nunca tiveram tantos homens como hoje:
são 365,9 mil em todo o país, contando-se civis e militares. Isso supera o efetivo de 291 mil homens
das Forças Armadas (Exército,
Marinha e Aeronáutica).
Em 81, o país tinha cerca de 185
mil PMs, número que salta para
365,9 mil no ano passado. Somados aos bombeiros, também policiais, são quase 400 mil.
E essa é a particularidade que
pode explicar em parte o descontrole da tropa e dos comandantes.
""A polícia que recebe muita gente
rapidamente tem problemas
enormes para ser controlada", diz
o cientista político Paulo de Mesquita Neto, 39, secretário-executivo do Instituto São Paulo Contra a
Violência e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da
USP (Universidade de São Paulo).
Segundo ele, era mais fácil contornar os problemas estruturais
das polícias quando havia menor
contingente do que agora.
Em 97, oficiais mineiros acreditavam ser possível segurar seus
subordinados com o regulamento
interno. Assim, negociaram e receberam reajuste do governo. Os
praças ficaram de fora. Esse foi o
estopim da paralisação que seguiu, terminando com o saldo de
um policial morto, desgaste político do governo e a substituição
da cúpula da segurança.
Para pesquisadores consultados
pela Folha, apenas o aumento de
salário não garante tranquilidade.
O regimento disciplinar, por
exemplo, deveria ser revisto.
O policial da base da pirâmide,
nos últimos anos, passou a ter
mais instrução. A maioria dos comandos exige hoje apenas pessoas com o ensino médio completo. ""O policial de agora não aceita
mais um comando autoritário e
exige maior profissionalismo",
afirma o sociólogo José Vicente
Tavares dos Santos, 52, pesquisador da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Até as estratégias de pressão
mudaram ao longo dos últimos
dez anos. Os PMs assimilaram
técnicas de manifestação de grupos que sempre ajudaram a controlar, como os sem-teto, os metalúrgicos e os petroleiros.
Em Palmas, capital do Tocantins, mulheres e filhos de policiais
em greve passaram 12 dias trancadas com os maridos, este ano, no
principal quartel do Estado, cercadas pelo Exército. Foi o modo
encontrado pelos grevistas para
justificar o aquartelamento sem
infringir a disciplina: elas é que estariam impedindo a saída dos carros e eles ficaram lá apenas para
protegê-las.
(AS)
Texto Anterior: União não dará verba para aumento Próximo Texto: Líderes planejam carreira política Índice
|