São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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Desde 97, polícia já fez 21 paralisações

DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca a polícia se rebelou com tanta frequência como nos últimos cinco anos: houve 21 greves, incluindo o maior levante no país, em 97, quando 12 Estados sofreram com paralisações de policiais quase que ao mesmo tempo. Foram seis apenas neste ano.
Na década de 80, o país viu estourar dez levantes, a maioria deles (seis) de policiais civis. Governadores usaram então uma força contra a outra para abafar os movimentos salariais nos Estados.
Esse cenário muda a partir dos anos 90, quando as duas corporações começam a fundir a pauta de reivindicações. É que elas entram na nova década com um mesmo patamar salarial, coisa que não havia nos anos 80 -período de concorrência entre elas.
As polícias também nunca tiveram tantos homens como hoje: são 365,9 mil em todo o país, contando-se civis e militares. Isso supera o efetivo de 291 mil homens das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica).
Em 81, o país tinha cerca de 185 mil PMs, número que salta para 365,9 mil no ano passado. Somados aos bombeiros, também policiais, são quase 400 mil.
E essa é a particularidade que pode explicar em parte o descontrole da tropa e dos comandantes. ""A polícia que recebe muita gente rapidamente tem problemas enormes para ser controlada", diz o cientista político Paulo de Mesquita Neto, 39, secretário-executivo do Instituto São Paulo Contra a Violência e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo ele, era mais fácil contornar os problemas estruturais das polícias quando havia menor contingente do que agora.
Em 97, oficiais mineiros acreditavam ser possível segurar seus subordinados com o regulamento interno. Assim, negociaram e receberam reajuste do governo. Os praças ficaram de fora. Esse foi o estopim da paralisação que seguiu, terminando com o saldo de um policial morto, desgaste político do governo e a substituição da cúpula da segurança.
Para pesquisadores consultados pela Folha, apenas o aumento de salário não garante tranquilidade. O regimento disciplinar, por exemplo, deveria ser revisto.
O policial da base da pirâmide, nos últimos anos, passou a ter mais instrução. A maioria dos comandos exige hoje apenas pessoas com o ensino médio completo. ""O policial de agora não aceita mais um comando autoritário e exige maior profissionalismo", afirma o sociólogo José Vicente Tavares dos Santos, 52, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Até as estratégias de pressão mudaram ao longo dos últimos dez anos. Os PMs assimilaram técnicas de manifestação de grupos que sempre ajudaram a controlar, como os sem-teto, os metalúrgicos e os petroleiros.
Em Palmas, capital do Tocantins, mulheres e filhos de policiais em greve passaram 12 dias trancadas com os maridos, este ano, no principal quartel do Estado, cercadas pelo Exército. Foi o modo encontrado pelos grevistas para justificar o aquartelamento sem infringir a disciplina: elas é que estariam impedindo a saída dos carros e eles ficaram lá apenas para protegê-las. (AS)




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