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TRANSPORTE
Em acerto feito de madrugada, prefeitura prometeu mudar a forma de remuneração de perueiros por uso de cartão
Acordo noturno evita boicote a bilhete único
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma negociação entre a administração Marta Suplicy (PT) e as
cooperativas de perueiros durante a madrugada de ontem evitou o
boicote generalizado anunciado
pelos autônomos ao bilhete único. Só sete microônibus foram
apreendidos pela Prefeitura de
São Paulo por terem bloqueado as
catracas que autorizam a passagem do cartão magnético, bandeira eleitoral da prefeita petista
que permite deslocamentos por
até duas horas pagando R$ 1,70.
O secretário dos Transportes,
Gerson Bittencourt, afirmou à Folha que vai mudar a forma de remuneração dos perueiros a partir
de segunda -mas os valores, diz,
serão divulgados amanhã, depois
de reunião com as cooperativas.
"Foi tudo diálogo, diálogo e diálogo", afirmou ele sobre a negociação feita durante a madrugada,
alegando que já havia a intenção
de atender a essa reivindicação,
mas que "as discordâncias eram
de prazo, e não de conteúdo".
O articulador do recuo dos perueiros foi Atílio André Pereira,
diretor operacional da SPTrans
(órgão municipal que cuida do
transporte), que negociou com as
cooperativas até por volta das 4h.
Sete microônibus da Cooper
Pam, da zona sul, foram apreendidos pela SPTrans de madrugada, quando saíam de uma garagem com as catracas bloqueadas
para a passagem do cartão.
A Cooperpeople, da mesma região, também afirma ter liberado
veículos nessas condições entre as
3h30 e as 6h -mas a SPTrans não
confirma, e não houve apreensão.
Os presidentes das cooperativas
de perueiros (que transportam
30% do sistema municipal) haviam anunciado anteontem a
promessa de recusar os pagamentos com bilhete único em razão de
divergências na remuneração que
estão recebendo da prefeitura.
O boicote foi divulgado em entrevistas gravadas, na presença
dos presidentes de cinco cooperativas (Cooper Pam, Cooperpeople, Transcooper, Aliança Paulistana e Unicoopers), que reúnem
em torno de 5.000 perueiros.
Mudança no discurso
O discurso das lideranças dos
perueiros mudou radicalmente
em menos de 24 horas. Anteontem à noite, diziam estar "pagando a conta" do bilhete único e que
a prefeitura não queria discutir
nada. "A gente confia no secretário", afirmou ontem Luís Carlos
Pandora, presidente da Cooper
Pam, uma das mais radicais na
mobilização do dia anterior.
Além da alteração nos critérios
de remuneração, Pandora diz ter
obtido a promessa de liberação de
R$ 1.000 para cada cooperado da
Cooper Pam até amanhã -Bittencourt nega. Essa compensação
era um dos pedidos para postergar mudanças na remuneração.
Desde a implantação do bilhete
único, há dois meses, os perueiros
estão sendo remunerados pelas
tarifas pagas com passe ou dinheiro, além de um valor fixo diário de
R$ 100. As passagens pagas com
bilhete único vão para as viações.
Os perueiros protestavam e
ameaçavam radicalizar porque a
maioria dos passageiros aderiu ao
cartão magnético -reduzindo,
portanto, a remuneração deles.
Segundo Bittencourt, a partir de
segunda os autônomos receberão
uma quantia por usuário do bilhete único -excluídos os idosos
e integrações gratuitas. As cooperativas falavam em repasse próximo a R$ 1,25 por passageiro.
O secretário não quis adiantar
ontem qual será esse valor. Mas já
está acertado, diz Bittencourt,
que, em vez dos R$ 100 por dia
(que equivalem a menos de 59
passageiros, enquanto a média
diária de uma lotação beira 300),
os perueiros vão receber conforme os pagantes do bilhete único.
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