São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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TRANSPORTE

Em acerto feito de madrugada, prefeitura prometeu mudar a forma de remuneração de perueiros por uso de cartão

Acordo noturno evita boicote a bilhete único

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma negociação entre a administração Marta Suplicy (PT) e as cooperativas de perueiros durante a madrugada de ontem evitou o boicote generalizado anunciado pelos autônomos ao bilhete único. Só sete microônibus foram apreendidos pela Prefeitura de São Paulo por terem bloqueado as catracas que autorizam a passagem do cartão magnético, bandeira eleitoral da prefeita petista que permite deslocamentos por até duas horas pagando R$ 1,70.
O secretário dos Transportes, Gerson Bittencourt, afirmou à Folha que vai mudar a forma de remuneração dos perueiros a partir de segunda -mas os valores, diz, serão divulgados amanhã, depois de reunião com as cooperativas.
"Foi tudo diálogo, diálogo e diálogo", afirmou ele sobre a negociação feita durante a madrugada, alegando que já havia a intenção de atender a essa reivindicação, mas que "as discordâncias eram de prazo, e não de conteúdo".
O articulador do recuo dos perueiros foi Atílio André Pereira, diretor operacional da SPTrans (órgão municipal que cuida do transporte), que negociou com as cooperativas até por volta das 4h.
Sete microônibus da Cooper Pam, da zona sul, foram apreendidos pela SPTrans de madrugada, quando saíam de uma garagem com as catracas bloqueadas para a passagem do cartão.
A Cooperpeople, da mesma região, também afirma ter liberado veículos nessas condições entre as 3h30 e as 6h -mas a SPTrans não confirma, e não houve apreensão.
Os presidentes das cooperativas de perueiros (que transportam 30% do sistema municipal) haviam anunciado anteontem a promessa de recusar os pagamentos com bilhete único em razão de divergências na remuneração que estão recebendo da prefeitura.
O boicote foi divulgado em entrevistas gravadas, na presença dos presidentes de cinco cooperativas (Cooper Pam, Cooperpeople, Transcooper, Aliança Paulistana e Unicoopers), que reúnem em torno de 5.000 perueiros.

Mudança no discurso
O discurso das lideranças dos perueiros mudou radicalmente em menos de 24 horas. Anteontem à noite, diziam estar "pagando a conta" do bilhete único e que a prefeitura não queria discutir nada. "A gente confia no secretário", afirmou ontem Luís Carlos Pandora, presidente da Cooper Pam, uma das mais radicais na mobilização do dia anterior.
Além da alteração nos critérios de remuneração, Pandora diz ter obtido a promessa de liberação de R$ 1.000 para cada cooperado da Cooper Pam até amanhã -Bittencourt nega. Essa compensação era um dos pedidos para postergar mudanças na remuneração.
Desde a implantação do bilhete único, há dois meses, os perueiros estão sendo remunerados pelas tarifas pagas com passe ou dinheiro, além de um valor fixo diário de R$ 100. As passagens pagas com bilhete único vão para as viações.
Os perueiros protestavam e ameaçavam radicalizar porque a maioria dos passageiros aderiu ao cartão magnético -reduzindo, portanto, a remuneração deles.
Segundo Bittencourt, a partir de segunda os autônomos receberão uma quantia por usuário do bilhete único -excluídos os idosos e integrações gratuitas. As cooperativas falavam em repasse próximo a R$ 1,25 por passageiro.
O secretário não quis adiantar ontem qual será esse valor. Mas já está acertado, diz Bittencourt, que, em vez dos R$ 100 por dia (que equivalem a menos de 59 passageiros, enquanto a média diária de uma lotação beira 300), os perueiros vão receber conforme os pagantes do bilhete único.


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