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Estado quer recuperar viciados da cracolândia
Governo pretende encaminhar usuários de crack para centros de tratamento e também oferecer assistência social
Plano prevê oferecer ao dependente de drogas renda mínima, emprego, oficinas culturais e esportivas e
cursos profissionalizantes
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O governo estadual concluiu
que depende menos da polícia
do que dos psiquiatras para enfrentar o crack na região da
Luz. Essa é a principal novidade do plano desenhado para
tentar diminuir a incidência do
uso de drogas na cracolândia,
onde, apesar das várias ofensivas repressivas, continuam as
imagens de consumo do crack
-que atrapalham os projetos
de revitalização da Luz, uma
das promessas do governador
José Serra (PSDB) e do prefeito
Gilberto Kassab (DEM).
O sucesso vai depender, segundo técnicos do governo, do
encaminhamento dos viciados
para centros de tratamento psiquiátrico, com a oferta de leitos
nos hospitais, enquanto se aumenta a fiscalização policial. Isso significa uma rede de acertos
com entidades ligadas ao sistema de saúde e assistência social, com a Vara da Infância e
com os conselhos tutelares.
Além do atendimento médico, o plano prevê a construção
de uma rede para oferecer ao
dependente de drogas uma
porta de saída. Isso implicaria
garantir a ele uma renda mínima, o acesso a cursos profissionalizantes, o primeiro emprego, sessões de psicoterapia, escola em tempo integral e oficinas culturais e esportivas.
A ofensiva baseia-se, em parte, nas operações realizadas em
bairros de São Paulo (Elisa Maria, na zona norte, e Paraisópolis, na zona sul, por exemplo)
onde se verificou o aumento da
violência ou em áreas dominadas pelo crime organizado.
Com o nome de Virada Social, juntaram-se as mais diversas secretarias estaduais e municipais, oferecendo desde luz,
novas praças, escolas e centros
de saúde até cursos técnicos ou
horário escolar em tempo integral. No caso do bairro Elisa
Maria, a taxa de homicídio caiu
rapidamente.
Ao contrário do que se vê nos
bairros periféricos, a Luz dispõe de uma boa rede de serviços públicos e comunitários,
além de quartéis da Polícia Militar e de delegacias da Polícia
Civil -a cracolândia fica a poucas quadras do QG da PM. A
parte mais vulnerável do projeto, porém, é o tratamento psiquiátrico, sem o qual é praticamente impossível deixar a dependência de drogas -um problema agravado porque a região passou a ser um polo de
atração de viciados não só da
capital mas da região metropolitana e de cidades do litoral.
Já existem, porém, experiências que envolvem psiquiatras
da Universidade Federal de São
Paulo (Projeto Quixote) mostrando que crianças e adolescentes conseguem afastar-se
do vício desde que, ao lado da
oferta de medicamentos adequados e de terapia, se construa
uma rede de apoio social. Até
porque muitos deles já não têm
laços familiares.
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