São Paulo, quarta-feira, 22 de julho de 2009

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Estado quer recuperar viciados da cracolândia

Governo pretende encaminhar usuários de crack para centros de tratamento e também oferecer assistência social

Plano prevê oferecer ao dependente de drogas renda mínima, emprego, oficinas culturais e esportivas e cursos profissionalizantes

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

O governo estadual concluiu que depende menos da polícia do que dos psiquiatras para enfrentar o crack na região da Luz. Essa é a principal novidade do plano desenhado para tentar diminuir a incidência do uso de drogas na cracolândia, onde, apesar das várias ofensivas repressivas, continuam as imagens de consumo do crack -que atrapalham os projetos de revitalização da Luz, uma das promessas do governador José Serra (PSDB) e do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
O sucesso vai depender, segundo técnicos do governo, do encaminhamento dos viciados para centros de tratamento psiquiátrico, com a oferta de leitos nos hospitais, enquanto se aumenta a fiscalização policial. Isso significa uma rede de acertos com entidades ligadas ao sistema de saúde e assistência social, com a Vara da Infância e com os conselhos tutelares.
Além do atendimento médico, o plano prevê a construção de uma rede para oferecer ao dependente de drogas uma porta de saída. Isso implicaria garantir a ele uma renda mínima, o acesso a cursos profissionalizantes, o primeiro emprego, sessões de psicoterapia, escola em tempo integral e oficinas culturais e esportivas.
A ofensiva baseia-se, em parte, nas operações realizadas em bairros de São Paulo (Elisa Maria, na zona norte, e Paraisópolis, na zona sul, por exemplo) onde se verificou o aumento da violência ou em áreas dominadas pelo crime organizado.
Com o nome de Virada Social, juntaram-se as mais diversas secretarias estaduais e municipais, oferecendo desde luz, novas praças, escolas e centros de saúde até cursos técnicos ou horário escolar em tempo integral. No caso do bairro Elisa Maria, a taxa de homicídio caiu rapidamente.
Ao contrário do que se vê nos bairros periféricos, a Luz dispõe de uma boa rede de serviços públicos e comunitários, além de quartéis da Polícia Militar e de delegacias da Polícia Civil -a cracolândia fica a poucas quadras do QG da PM. A parte mais vulnerável do projeto, porém, é o tratamento psiquiátrico, sem o qual é praticamente impossível deixar a dependência de drogas -um problema agravado porque a região passou a ser um polo de atração de viciados não só da capital mas da região metropolitana e de cidades do litoral.
Já existem, porém, experiências que envolvem psiquiatras da Universidade Federal de São Paulo (Projeto Quixote) mostrando que crianças e adolescentes conseguem afastar-se do vício desde que, ao lado da oferta de medicamentos adequados e de terapia, se construa uma rede de apoio social. Até porque muitos deles já não têm laços familiares.


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