São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Escolta de seguranças é financiada há dois meses por empresários de ônibus; prefeitura vai assumir despesa

Guarda privada protege fiscais de perueiros

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários de ônibus pagam há mais de dois meses uma escolta armada para acompanhar as blitze contra as lotações irregulares em São Paulo. A presença das equipes de segurança privada na repreensão às lotações vai ser oficializada nos próximos dias pela administração Marta Suplicy, que assumirá as despesas do serviço.
A SPTrans, órgão municipal responsável pelo transporte coletivo, diz que decidiu aderir à contratação de uma empresa particular por falta de efetivo da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana para essa atividade.
A escolta armada tem a função de proteger os fiscais contra as agressões dos motoristas apreendidos, segundo a SPTrans. Os perueiros, porém, afirmam que os funcionários da empresa Plenum participam das abordagens.
"Eles chegam com arma em punho. É pior do que a Rota, parece um assalto", diz Francisco de Mola Neto, presidente de uma cooperativa de donos de lotação.
A acusação motivou anteontem a abertura de um inquérito policial no 28º DP para averiguar a "usurpação da função pública" pela Plenum. O delegado Renato de Almeida Pereira decidiu registrar um boletim de ocorrência para averiguação após uma denúncia feita por PMs de que as equipes da empresa privada atuavam em um blitz na Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo.
O coordenador da Plenum, Júlio Cesar da Silva, nega as acusações. "Não temos poder de polícia. A nossa escolta apenas protege os fiscais", afirma.
A diretora operacional da SPTrans, Maria Olívia Aroucha, diz que não participou da escolha da Plenum, mas que a denúncia será investigada. "A gente está averiguando internamente. Se existe, não vai existir. É irregular, é contra a nossa orientação. Eles não podem fazer a abordagem. Estão ali só para garantir a integridade do fiscal", afirma.
A SPTrans diz que as viações que bancaram a iniciativa são dos consórcios Norte, controlado pelo empresário Belarmino Marta, e Bandeirante, que tem como líder a empresa independente Santa Brígida, de Luís Saraiva. Eles foram procurados pela Folha, mas não se manifestaram.
Os nove grupos da Plenum, que trabalham de terno e gravata, dentro de veículos Blazer, somam 27 funcionários -ou seja, 13% do efetivo de agentes da SPTrans.
Eles já começaram a atuar em Santana (zona norte) e na Lapa (oeste), regiões onde os perueiros fazem concorrência aos consórcios Norte e Bandeirante. O próximo alvo é Itaquera (leste).
Maria Olívia diz que a presença da escolta não foi formalizada pela SPTrans porque era apenas um projeto-piloto. "Foi uma experiência que deu certo. A idéia é otimizar e trazer toda a responsabilidade para nós", afirma. Segundo ela, nenhum fiscal foi agredido após a contratação da Plenum.
A diretora da SPTrans admite que essa função deveria ser feita pela PM e pela GCM. "Mas elas têm dificuldade, têm que combater outras coisas." Segundo ela, a GCM disponibiliza 76 homens para a fiscalização e a PM, 70.
Maria Olívia afirma que, inicialmente, a SPTrans lançará uma licitação para contratar apenas quatro equipes -com três seguranças cada. O órgão ainda não tem estimativa de quanto a escolta armada custará à prefeitura.

Segurança
A decisão de pagar uma empresa de segurança privada foi tomada um mês depois da criação da Secretaria Municipal da Segurança Urbana, que cuida da GCM.
A quantidade de equipes particulares que a SPTrans vai contratar representaria um desfalque de 0,2% no atual efetivo de 5.106 homens da GCM, que ainda está tentando contratar mais 1.500.
O titular da nova secretaria, Benedito Domingos Mariano, informou, por meio de sua assessoria, que não vê problemas na intenção da SPTrans. Ele afirma que as prioridades da GCM são as escolas e os parques públicos.
A disputa entre prefeitura e Estado para que mais PMs participem das blitze da SPTrans acontece desde a gestão Celso Pitta e já foi motivo de bate-boca entre Marta Suplicy e Geraldo Alckmin.
O secretário Saulo de Castro Abreu Filho (Segurança Pública) já sugeriu que a escolta dos fiscais da SPTrans fosse reforçada por policiais militares que fazem a guarda do gabinete da prefeita.
As discussões sobre um reforço nas blitze contra os perueiros ganharam força principalmente após a morte de três agentes que transportavam uma lotação apreendida, em fevereiro.


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