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VIOLÊNCIA
De janeiro ao início de julho, São Paulo teve 99 casos de roubo com morte; houve 133 no mesmo período de 2003
Carro é meta de ladrões em 1/3 dos latrocínios
GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Estar próximo ou no interior do
carro, à noite, num dia útil. Na capital paulista, essas circunstâncias
-coincidentes ou não- podem
significar o aumento do risco de
ser vítima de latrocínio (roubo
com morte), segundo dados do
Infocrim (sistema informatizado
de ocorrências policiais).
As mortes que envolveram roubo de veículo lideram em 2003 os
casos de latrocínio e até apresentam aumento proporcional em
relação ao ano passado. Mas o número total de casos caiu 25,6%, de
acordo com o Infocrim.
De janeiro até o começo de julho de 2003, em 33,33% dos latrocínios as vítimas estavam nas proximidades ou no interior dos carros -33 de um total de 99 crimes.
No mesmo período de 2002, o
carro esteve relacionado a 40
(30%) de 133 casos registrados.
Não há dados sobre o sexo das
vítimas nem sobre os modelos de
veículos mais comuns nesses latrocínios, mas prisões de quadrilhas mostram que os alvos preferenciais são mulheres sozinhas ao
volante. Em relação aos carros, os
preferidos são os importados ou
modelos nacionais mais caros.
A pediatra Rosa Jimenez, 55, assassinada com um tiro no pescoço, estava dentro desse perfil: dirigia um Alfa Romeo no momento
em que foi atacada na região da
Vila Alpina, zona sul. Eram 8h do
dia 20 de maio deste ano
-18,18% dos latrocínios em 2003
ocorreram pela manhã- quando
o sinal do semáforo fechou, obrigando a médica a parar o carro
atrás de um microônibus.
Dois rapazes se aproximaram e
um deles bateu no vidro com a arma na mão. Segundo a polícia, assustada, a pediatra deixou o carro
andar um pouco para a frente depois de perder o controle do sistema de câmbio automático. Um
único tiro a atingiu no pescoço.
Casada, mãe de dois filhos, Jimenez era diretora clínica de um
hospital em São Caetano do Sul
(ABC Paulista).
Em um dia de semana, a mesma
dupla tentou roubar um Audi em
um cruzamento da região, mas foi
vista por um policial à paisana,
que baleou um deles. Na delegacia, D.R.S., 17, entregou o comparsa, Jorge Fernandes de Lima.
Segundo a polícia, os dois disseram que sempre atacavam em
cruzamentos e que preferiam
roubar mulheres que seguiam sozinhas ao volante. Os dois costumavam sair de casa cedo, pegavam ônibus e paravam em semáforos, à espera de vítimas.
No mesmo dia, só que à noite -
47,47% dos casos em 2003 ocorreram das 18h às 24h-, outra mulher foi assassinada. Maria Odete
do Amarante, 55, esperava a filha
que voltava do trabalho, em um
ponto de ônibus na região da
Água Fria (zona norte).
Dirigia uma Ipanema, quando
foi abordada por dois assaltantes.
"Ela não parava de gritar e fazer
escândalo", disse Amilton Bernardo da Silva, 22, um dos presos.
Silva e Gildemar Rodrigues Sobrinho, 21, afirmaram que queriam
apenas levar o carro, mas ficaram
"preocupados". Amarante morreu baleada na cabeça em um matagal perto do ponto de ônibus.
"Por estarem de carro, as vítimas acham que podem escapar, o
que é um erro", afirmou o delegado Manoel Camassa, titular da
Delegacia de Furto e Roubo de
Veículos de São Paulo.
Nota oficial
A reportagem da Folha teve
acesso ao Infocrim para pesquisar
os dados. Informações oficiais pedidas desde maio à Secretaria da
Segurança Pública sobre as ruas
mais perigosas da cidade não foram divulgadas.
Ontem, a assessoria da secretaria informou que não vai divulgar
dados estatísticos além dos previstos por lei estadual.
"A Coordenadoria de Análise
de Planejamento faz análise da
criminalidade por solicitação dos
órgãos policiais para utilização interna no planejamento de ações
policiais. Não é sua atribuição fazer divulgação externa, a não ser
da publicação trimestral de estatísticas previstas em lei", diz a nota oficial da secretaria.
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