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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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Na periferia, número de casos aumenta

DA REPORTAGEM LOCAL

Um estampido e dois ladrões pulam o muro e correm. Não levam nada. Na cozinha da casa, a vítima agoniza. Já no carro usado na fuga, o autor do tiro diz aos comparsas, rindo e sem nenhum arrependimento, que atirou porque a vítima tentou reagir.
A vítima, Paulo Kentauro Okabe, 20 -que apresentava distúrbios mentais-, apenas tentou proteger o rosto com as mãos quando viu o ladrão. Morreu no hospital no dia seguinte.
Pelas estatísticas da Secretaria da Segurança Pública, Okabe foi vítima de um crime -latrocínio- que apresenta queda na capital paulista. Mas dados do Infocrim revelam que a queda ocorreu nas áreas centrais e mais nobres. Regiões de periferia, porém, registram tendência oposta.
A região oeste, área nobre da cidade, é um exemplo. Em 2002 -de janeiro ao começo de julho-, era a primeira no ranking, com 21 casos. Em 2003, foram 16, queda de 23,8%. Caiu para terceiro lugar. A região sul -sem incluir Santo Amaro-, outra área nobre, teve redução de 72,2%. Foram cinco casos em 2003, contra 18 em 2002.
Itaquera, no extremo leste, vive o oposto. Em 2002, com 20 casos, estava em segundo lugar. Neste ano, com 23, virou líder.
Filho de um casal de feirantes, Okabe vivia em uma casa modesta na periferia da zona norte. Paulo Rogério Meireles Rodrigues, 19, único dos três assaltantes preso, negou a intenção de matar, mas disse que o comparsa reagiu com indiferença após assassinar Okabe. "Ele deu risada. Depois ficou como se nada tivesse acontecido."
Para o sociólogo Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), os latrocínios estariam mais relacionados com os homicídios dolosos (com intenção) do que com os roubos. A hipótese faz parte de uma pesquisa não-concluída do núcleo.
Segundo ele, o sentimento de impunidade em relação aos homicídios na periferia pode explicar o aumento dos latrocínios. "A maioria dos homicídios não é esclarecida, o que contribui para que o ladrão fique mais violento."
Para o delegado Darci Sassi, titular da Seccional Norte -região onde Okabe foi morto-, a explicação está no perfil do latrocida. "O ladrão está cada vez mais jovem, despreparado psicologicamente e mata por qualquer motivo", disse. Para ele, são as circunstâncias no roubo -reação da vítima, o estado emocional do criminoso etc.- que vão definir o destino da vítima.


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