|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Na periferia, número de casos aumenta
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estampido e dois ladrões
pulam o muro e correm. Não levam nada. Na cozinha da casa, a
vítima agoniza. Já no carro usado
na fuga, o autor do tiro diz aos
comparsas, rindo e sem nenhum
arrependimento, que atirou porque a vítima tentou reagir.
A vítima, Paulo Kentauro Okabe, 20 -que apresentava distúrbios mentais-, apenas tentou
proteger o rosto com as mãos
quando viu o ladrão. Morreu no
hospital no dia seguinte.
Pelas estatísticas da Secretaria
da Segurança Pública, Okabe foi
vítima de um crime -latrocínio- que apresenta queda na capital paulista. Mas dados do Infocrim revelam que a queda ocorreu nas áreas centrais e mais nobres. Regiões de periferia, porém,
registram tendência oposta.
A região oeste, área nobre da cidade, é um exemplo. Em 2002
-de janeiro ao começo de julho-, era a primeira no ranking,
com 21 casos. Em 2003, foram 16,
queda de 23,8%. Caiu para terceiro lugar. A região sul -sem incluir Santo Amaro-, outra área
nobre, teve redução de 72,2%. Foram cinco casos em 2003, contra
18 em 2002.
Itaquera, no extremo leste, vive
o oposto. Em 2002, com 20 casos,
estava em segundo lugar. Neste
ano, com 23, virou líder.
Filho de um casal de feirantes,
Okabe vivia em uma casa modesta na periferia da zona norte. Paulo Rogério Meireles Rodrigues, 19,
único dos três assaltantes preso,
negou a intenção de matar, mas
disse que o comparsa reagiu com
indiferença após assassinar Okabe. "Ele deu risada. Depois ficou
como se nada tivesse acontecido."
Para o sociólogo Sérgio Adorno,
coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), os latrocínios estariam mais relacionados
com os homicídios dolosos (com
intenção) do que com os roubos.
A hipótese faz parte de uma pesquisa não-concluída do núcleo.
Segundo ele, o sentimento de
impunidade em relação aos homicídios na periferia pode explicar o aumento dos latrocínios. "A
maioria dos homicídios não é esclarecida, o que contribui para
que o ladrão fique mais violento."
Para o delegado Darci Sassi, titular da Seccional Norte -região
onde Okabe foi morto-, a explicação está no perfil do latrocida.
"O ladrão está cada vez mais jovem, despreparado psicologicamente e mata por qualquer motivo", disse. Para ele, são as circunstâncias no roubo -reação da vítima, o estado emocional do criminoso etc.- que vão definir o destino da vítima.
Texto Anterior: Violência: Carro é meta de ladrões em 1/3 dos latrocínios Próximo Texto: Barbara Gancia: Afogando em números Índice
|