São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Foi uma Olimpíada para esquecer


Como é que um país sem política esportiva definida de longo prazo pode ousar querer sediar os Jogos?

ALÔ, CARLOS ARTHUR Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro! Alô, Orlando Silva de Jesus Júnior, ministro dos Esportes! Alô, Ricardo Teixeira, presidente da CBF! Agora que já estamos quase nos finalmentes, gostaria de saber qual foi, para cada um dos senhores, o momento mais marcante desta Olimpíada de Pequim.
Terá sido, senhor Nuzman, aquele instante mágico em que a atleta Fabiana Murer tentou obstruir o salto da competidora chinesa? E já que estamos aqui, por favor, esclareça: com tantos aspones enviados pelo COB a Pequim (nossa delegação viajou com 277 atletas e 200 não atletas), não sobrou ninguém para zelar pelas varas de salto da Fabiana?
Mas, voltando à pergunta sobre o momento marcante da Olimpíada, o seu, excelentíssimo ministro Orlando, terá sido a brilhante atuação do saltador Jadel Gregório, que não conseguiu nem mesmo igualar suas próprias marcas do ano? Ou quem sabe o senhor tenha gostado mais da empolgante disputa das meninas da ginástica na competição por equipes? Não? Então que tal a atuação sem igual de Thiago Pereira em todas as provas de nado de que participou ou talvez a magnífica exibição do judoca João Derly na luta histórica contra seu arqui-rival dentro e fora dos tatames, o judoca português Pedro Dias?
E o presidente da CBF, o que será que ele levará para sempre do lado esquerdo do peito? A extraordinária demonstração de fair play da seleção diante dos argentinos ou a impecável atuação do Ronaldinho Gaúcho frente à Nova Zelândia -que fez todos os pseudocronistas esportivos falarem na "volta dos bons tempos"?
Se ainda fosse uma competição de contar ovelhas ou de bungee jump, a gente entenderia tamanha empolgação contra uma Nova Zelândia, não é mesmo, senhor Teixeira?
Tenho certeza de que o senhor e seus colegas de COB e de Ministério dos Esportes concordam comigo.
Concordam que esta foi uma Olimpíada para esquecer. Que não adianta investir apenas em atletas de ponta, como também não adianta mudar de idéia no meio do caminho.
Mas algo me diz que os senhores não ligam para o que vão dizer da atuação do Brasil em Pequim.
Vivemos em um país em que a palavra "profissionalismo" é interpretada de acordo com a lua do freguês.
O pessoal acha normal o João Gilberto atrasar em uma hora e meia um espetáculo para mais de mil pessoas por conta da ingestão de um bife, mas reclama quando alguém lá em Pequim perde a vara da Fabiana.
Se toda a dinheirama gasta pelos Correios, Caixa Econômica etc. tivesse sido transformada em ouro olímpico, duvido que o clima fosse de tamanho desencantamento.
Escrevo na quinta-feira, antes das finais do vôlei masculino e feminino.
Mas já dá para afirmar que, se tivessem pintado uns ourinhos a mais na bagagem de volta da delegação brasileira, estaríamos todos agora falando sobre as chances aumentadas de o Brasil vir a sediar uma edição dos Jogos Olímpicos.
Do jeito que está, ao menos por enquanto, aposto um picolé de limão como o assunto vai ficar em banho-maria. Afinal, como é que um país sem política esportiva (de longo prazo) definida e funcionando pode ousar querer sediar uma Olimpíada, não é mesmo, senhores?

barbara@uol.com.br

www.barbaragancia.com.br


Texto Anterior: Casamentos têm custo tabelado em cartórios
Próximo Texto: Qualidade das praias: Banhistas devem evitar Praia Grande, Santos e Mongaguá
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.