São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Exigências de pai para adotar criança diminuem em SP

Total de pretendentes que colocavam cor branca como essencial caiu de 49% para 38%

Pesquisa feita pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional de São Paulo mostra a evolução entre os anos de 2005 e 2007

Patricia Stavis/Folha Imagem
Maria Luiza e João Cardillo com o filho Felipe, adotado há 17 anos

THIAGO REIS
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

Pais que pretendem adotar crianças no Estado de São Paulo já não fazem tanta questão de o filho ser recém-nascido ou de uma determinada cor. Também não se importam, tanto quanto antes, se ele tiver deficiência física leve ou quiser ser adotado com o irmão.
É o que mostra pesquisa feita pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional de São Paulo. O estudo comparou, pela primeira vez, o perfil dos pretendentes à adoção no Estado nos últimos três anos.
Segundo os dados, o percentual de pretendentes que colocavam a cor branca da criança como essencial para a adoção caiu de 49% para 31% de 2005 a 2007. E o número de pessoas para quem a cor é indiferente aumentou: eram 424 candidatos a pais (21%) em 2005, e 674 (28%) no ano passado.
Os dados foram colhidos pela comissão da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo com as Varas da Infância e da Juventude da capital e do interior.
Para as autoras da pesquisa, a assistente social Clarinda Frias e a psicóloga Silvia Penha, a evolução é perceptível nos números. "O trabalho de esclarecimento pelas varas e pelos grupos de apoio deu resultado. É preciso mudar essa cultura de ter uma criança imaginada, idealizada e perceber que há uma criança real", disse Frias.
O juiz Reinaldo Cintra, da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça, disse concordar com Frias.
"As mulheres ficam na fila e vêem que aquela criança loira de olhos azuis não existe. Aí reavaliam o sonho e começam a derrubar mitos."
Nos primeiros seis meses deste ano, foram feitas 2.455 adoções (por brasileiros e estrangeiros) em São Paulo.
O estudo aponta aumento da procura por adoções e traça um perfil dos pretendentes. Os candidatos são, em sua maioria, brancos, de 31 a 40 anos, casados, sem filhos, com ensino superior e renda média de R$ 3.000. A pesquisa revela ainda que a restrição a irmãos é menor hoje em dia. Antes, apenas 508 (25%) diziam aceitá-los. Agora, são 790 (33%).
A idade também já não é fator preponderante na escolha.
Em 2005, 44% só queriam filhos até um ano de idade -em 2007, o índice caiu para 31%.
"As pessoas estão superando aquela idéia de que adoção tem que ser uma mera reprodução do que a biologia negou. Não vai reproduzir o nariz da família nem o gênio dos ancestrais. A adoção é um amor pelo outro, e as pessoas estão descobrindo como é prazeroso amar alguém que não se parece com você", disse o promotor Sávio Bittencourt, presidente da Angaad (Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção).
Um ponto que permanece inalterado com o passar dos anos, de acordo com a pesquisa, é a preferência exclusiva por meninas, citada por 31% dos candidatos, contra 8% que disseram preferir só meninos. Já o preconceito contra problemas físicos e psicológicos leves (tratáveis) caiu mais de dez pontos percentuais.

Projeto
Anteontem, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei com novas regras para adoção, como o direito de filhos adotivos conhecerem o nome de seus pais biológicos. A proposta ainda precisa ser aprovada pelo Senado e sancionada pelo presidente da República.
Um dos dispositivos do projeto estabelece que o tempo máximo de permanência da criança em abrigo seja de dois anos. Na capital paulista, entretanto, de 30% a 40% dos acolhidos já vivem em abrigos mais tempo que esse limite. São Paulo acolhe hoje 1.947 crianças em abrigos, 30% delas em condições de serem adotadas.
A capital possui hoje 89 abrigos para crianças e adolescentes, segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Eles reúnem de casos de filhos em conflito com os pais ou vítimas de violência até bebês abandonados pelas mães.


Colaborou JULIANA COISSI, em São Paulo


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