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Dúvida cerca morte da menina Joanna
Guarda foi transferida da mãe para o pai; criança morreu após ser internada e atendida por um falso médico
Há suspeita de maus tratos e interferência de ex-procurador-geral de Justiça do Rio; pai e
mãe trocam acusações
DENISE MENCHEN
DO RIO
A morte da menina Joanna
Marcenal Marins, 5, no último dia 13, encerrou de forma
trágica uma vida marcada
pelo conflito.
As acusações que se seguiram à sua internação, em coma, em um hospital da zona
sul do Rio, trouxeram à tona
uma disputa que corria silenciosa no Tribunal de Justiça
do Estado.
O pai da menina, o serventuário da Justiça André Marins, 41, detinha sua guarda
quando ela foi internada.
O laudo da avaliação psicológica que resultou na
transferência da guarda da
mãe para o pai no dia 26 de
maio dizia que a menina
apresentava síndrome de
alienação parental em grau
severo.
O transtorno ocorre quando a criança é submetida a
uma campanha difamatória
por um dos genitores para
afastá-la do outro.
A mãe de Joanna, a médica
Cristiane Marcenal Ferraz,
37, contesta o laudo, elaborado a partir de depoimentos
do pai, da madrasta e dos
avós paternos da menina.
Do lado materno, apenas
ela foi ouvida. Ferraz critica o
fato de os peritos não terem
conversado com a criança.
INTERFERÊNCIA
A médica, que desde a
morte da filha aumentou o
tom das acusações contra o
pai, diz desconfiar de que
possa ter ocorrido interferência externa no processo.
Em 2007, um oficial de Justiça designado para cumprir
um mandado de busca e
apreensão da menina afirmou, em certidão à qual a
Folha teve acesso, ter recebido uma ligação do ex-procurador-geral de Justiça do Rio
Antonio Biscaia.
Atualmente, Biscaia concorre ao quarto mandato como deputado federal pelo PT
e é casado com uma tia de
Marins.
No documento, o oficial
narra que estava na casa do
pai de Marins, em busca de
Joanna, quando este lhe passou uma ligação de Biscaia.
"Atendi-o ao telefone e ele
me disse: "Você sabe com
quem está falando? Você sabe que está agindo errado,
fora do horário forense?", escreveu o oficial de Justiça no
documento anexado ao processo.
A criança não estava no local e foi devolvida à mãe no
dia seguinte.
A reportagem procurou
Biscaia sexta-feira, mas, assim que o nome de Joanna
foi citado, a ligação foi interrompida. No fim da tarde, ele
voltou a atender o telefone,
mas novamente a ligação foi
interrompida quando a repórter se identificou.
Ele também não respondeu ao recado deixado na secretária eletrônica.
A mãe de André Marins
afirmou que ele não iria comentar o caso durante o período de luto pela filha.
TROCA DE ACUSAÇÕES
A menina morreu no último dia 13, no Rio, após passar quase um mês em coma.
A mãe acusa o pai de maus
tratos e culpa a Justiça pelo
destino da filha, por ter transferido a guarda para ele.
O laudo no qual a Justiça
se baseou para a decisão traz
declarações como a da madrasta de Joanna, segundo
quem a menina uma vez disse que não gostava de comer
na casa do pai porque a mãe
lhe dizia que ele lhe dava comida estragada.
Para as duas peritas responsáveis pela avaliação, isso era um sinal da tentativa
de Ferraz de afastar a filha do
ex-namorado.
No documento, as psicólogas dizem que a médica não
levou à filha para a avaliação. Já o marido de Ferraz, Ricardo Tostes, diz que o pedido para que a menina fosse
avaliada sequer foi feito.
Ao ver a filha no hospital, a
mãe encontrou marcas no
corpo dela e procurou a polícia, acusando o serventuário
de ter agredido Joanna.
Segundo laudo preliminar
do IML, a menina apresentava queimadura nas nádegas
e equimoses nas pernas.
FALSO MÉDICO
O pai rejeita a acusação.
Em depoimento à polícia, ele
atribuiu as marcas roxas no
corpo da criança a fortes crises convulsivas e culpou a
mãe por não ter informado
que ela sofria de problemas
de saúde.
Para complicar a situação,
a menina foi atendida por um
falso médico no hospital RioMar. Alex Sandro da Cunha
Souza teve a prisão decretada, mas está foragido.
Segundo o delegado Luiz
Henrique Marques Pereira,
da Delegacia da Criança e do
Adolescente Vítima, a causa
da morte da menina só deve
ser esclarecida quando o laudo definitivo do IML ficar
pronto, em setembro.
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