São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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SISTEMA PRISIONAL

Unidade de Presidente Bernardes, com 80 presos, tem câmeras, bloqueador de celular e detector de metais

Em cadeia de SP, até funcionário é vigiado

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum agente pode ficar sozinho com preso ou entrar nos pavilhões das celas sem passar antes pelo detector de metais. Tudo é acompanhado de perto, e gravado, pelo sistema de câmeras.
Funcionários e presos não sabem quando vão se encontrar. Há rodízio periódico de tarefas, coordenado pela direção do presídio.
É assim que funciona o CRP (Centro de Readaptação Prisional) de Presidente Bernardes, a 589 km de São Paulo, a única unidade do país equipada com bloqueador de celulares para impedir a comunicação entre membros de facções criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Presos e funcionários são vigiados 24 horas por dia no interior do presídio especial, inaugurado em abril deste ano para manter isolados e inativos os principais líderes de organizações do crime, articuladores de rebeliões e presos que não se adaptam às regras de disciplina em unidades comuns.
""Para colocar algo [armas ou celulares" para dentro, só se tiver a participação de vários funcionários. Um só não basta", disse o diretor do presídio, Antonio Sérgio de Oliveira, 33, que também se submete ao detector de metais quando entra na unidade.
Cada um dos cerca de cem funcionários passou por verificação de antecedentes antes de começar a trabalhar no CRP. Foram escolhidos os que não respondiam a processo criminal ou a sindicância interna por faltas graves.
""Todo aquele aparato não adiantaria nada se não houvesse funcionários eficientes", afirmou o secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, em discurso na inauguração do CRP.

Segurança
O CRP tem placas de aço no chão, em meio ao concreto, para impedir a abertura de túneis. Os presos não têm contato físico com parentes ou advogados.
Os internos saem das celas individuais uma vez por dia, para banho de sol de uma hora. Três funcionários escoltam o condenado, algemado, acompanhados de um cão rottweiler -os mais famosos são o ""Saddam" e o ""Leão".
No máximo, cinco presos permanecem ao mesmo tempo no pavilhão. Há seis cachorros-guardas no canil do CRP, treinados pela Polícia Militar da região.
Não há trabalho ou escola, e os detentos não transitam livremente pelas galerias. Não há rádio ou televisão, e os internos não podem cozinhar nas celas, riscar ou colar coisas nas paredes. Podem ler apenas cerca de 300 livros na biblioteca da unidade, a maioria ""educativos".

Presos
Estão na unidade os principais fundadores do PCC, José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, além do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, apontado pela polícia como responsável pela morte do prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT.
Desde a inauguração, em abril deste ano, não houve fugas, princípio de rebelião, reféns e apreensão de armas ou celulares, de acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária.
A unidade, para 160 presos, custou cerca de R$ 7,7 milhões, R$ 1 milhão a menos do que um presídio compacto, para 768 detentos.
O local segue o que o governo paulista chama de RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), algo que o Rio de Janeiro irá implantar em Bangu 1. Hoje, 80 presidiários estão no CRP -20 a menos do que os cem agentes.
A proporção funcionário/preso não reflete a realidade do sistema prisional. A população carcerária do Estado saltou de 31,8 mil condenados em 94 para 78,5 mil em 2002 -crescimento de 146,8%. No mesmo período, o número de funcionários aumentou de 14,7 mil para 21,5 mil -46,2%.
Os presos indisciplinados podem ficar sob esse regime diferenciado, segundo resolução da Secretaria da Administração Penitenciária, no máximo por 180 dias, na primeira inserção, e até um ano no caso de reincidência.
Depois, voltam para unidades ""comuns" -prisões com nível de restrição de direitos mais brando, onde há visita íntima e banho de sol coletivo, por exemplo.
Outros dois presídios no Estado seguem as regras do RDD: o Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, hoje com 125 detentos, e a Penitenciária de Avaré, com 394 encarcerados.


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