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Receita de ônibus se mantém após bilhete único
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A arrecadação do sistema de
transporte e a média de passageiros pagantes se mantiveram estáveis depois da implantação do bilhete único em São Paulo. Em
agosto, 20,2% das viagens registradas nas catracas de ônibus e lotações se referiam a baldeações
gratuitas permitidas pelo cartão
magnético, um salto em relação
aos meses anteriores.
Os dados foram apresentados
ontem pela administração Marta
Suplicy (PT) no balanço de três
meses de implantação do bilhete,
que possibilita usar mais de um
ônibus no intervalo de até duas
horas pagando a tarifa de R$ 1,70.
Em relação a abril, a arrecadação das viações de ônibus em
agosto se manteve a mesma nos
dias úteis e teve um salto de 4%
aos sábados. A do sistema geral
-incluindo as lotações- não
permite comparações, porque havia subnotificação dos indicadores dos perueiros até maio deste
ano, quando houve a implantação
oficial da bilhetagem eletrônica.
A proporção de passageiros que
utiliza mais de uma condução
com a mesma tarifa de R$ 1,70,
entretanto, cresce a cada mês. Até
abril, 5% dos usuários pagavam
duas conduções -R$ 3,40- para fazer um só deslocamento.
Em junho, 10,7% dos de passageiros catracados já eram de baldeações gratuitas -ou seja, de
gente que paga R$ 1,70 e usa mais
de um ônibus. Em julho, 15,5%.
Em agosto, 20,2% -dos quais
praticamente 80% pegam duas
conduções por viagem, contra
20% que pegam pelo menos três.
Esses indicadores desconsideram os passageiros que faziam e
ainda fazem transferências gratuitas nos terminais -e que nem
precisam do bilhete único.
Eles sugerem que, por enquanto, não foram confirmadas as previsões mais pessimistas -de queda da arrecadação- nem as mais
otimistas -de que a nova rede de
transporte atrairia quantidade
significativa de novos pagantes.
Segundo a gestão Marta, em
agosto, 51% dos usuários dos ônibus e lotações já pagavam a tarifa
com bilhete único, índice que saltou para perto de 70% na média
deste mês. A prefeitura já distribuiu mais de 4,5 milhões cartões
magnéticos -número que se
aproxima de metade da população paulistana e que sinaliza possíveis efeitos eleitorais.
As contas do balanço apontam
ainda que as baldeações gratuitas
representaram em agosto uma
economia de R$ 53 milhões para
os usuários -é o que gastariam a
mais caso estivessem pagando para usar mais de um ônibus.
Expectativa
O maior temor dos especialistas
após a implantação do bilhete
único era a queda da receita do
sistema -havia expectativa de
redução por conta dos 5% dos
passageiros que pagavam duas tarifas (R$ 3,40) em uma mesma
viagem e que agora recolhem somente uma (R$ 1,70).
Mas essa eventual perda de receita foi compensada, por enquanto, pela redução da evasão (a
bilhetagem eletrônica elimina as
negociações de passes no mercado paralelo) ou pela suposta atração de novos usuários -de carro,
metrô, trem ou clandestino.
A receita ainda poderá cair, entretanto, conforme o usuário for
se acostumando com o sistema.
Por exemplo, alguém que paga
hoje um ônibus para ir ao shopping e outro para voltar e resolva
"racionalizar" a viagem, fazendo
tudo em menos de duas horas para gastar somente R$ 1,70.
A prefeitura alega que os custos
aos operadores não aumentaram
porque a frota continua igual
-ou seja, as baldeações gratuitas
apenas minimizariam a ociosidade existente. Mas, dependendo da
adesão ao bilhete único e da alta
das baldeações gratuitas nos próximos meses, essa ociosidade pode se esgotar, obrigando as viações a pôr mais veículos nas ruas
-algo que elevaria os custos.
O balanço de três meses do cartão foi feito pelo secretário dos
Transportes, Gerson Bittencourt,
depois de Marta ter sido questionada em entrevistas -sem saber
dar respostas- sobre os custos
da fase pós-bilhete único.
Ele diz que a prefeitura gastou
de 2001 até hoje R$ 85,6 milhões
com investimentos na bilhetagem
eletrônica. O déficit (diferença entre a arrecadação e a remuneração
paga aos operadores) em 2004 está sendo bancado por subsídios
municipais de R$ 280 milhões.
Contrariando a expectativa de
técnicos -que previam um salto
para até R$ 360 milhões-, Bittencourt anunciou que a previsão
orçamentária para 2005 a ser enviada à Câmara não prevê elevação dessas subvenções -sinal de
que, caso haja alta dos custos, ela
deve ser repassada à tarifa.
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