São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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Receita de ônibus se mantém após bilhete único

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A arrecadação do sistema de transporte e a média de passageiros pagantes se mantiveram estáveis depois da implantação do bilhete único em São Paulo. Em agosto, 20,2% das viagens registradas nas catracas de ônibus e lotações se referiam a baldeações gratuitas permitidas pelo cartão magnético, um salto em relação aos meses anteriores.
Os dados foram apresentados ontem pela administração Marta Suplicy (PT) no balanço de três meses de implantação do bilhete, que possibilita usar mais de um ônibus no intervalo de até duas horas pagando a tarifa de R$ 1,70.
Em relação a abril, a arrecadação das viações de ônibus em agosto se manteve a mesma nos dias úteis e teve um salto de 4% aos sábados. A do sistema geral -incluindo as lotações- não permite comparações, porque havia subnotificação dos indicadores dos perueiros até maio deste ano, quando houve a implantação oficial da bilhetagem eletrônica.
A proporção de passageiros que utiliza mais de uma condução com a mesma tarifa de R$ 1,70, entretanto, cresce a cada mês. Até abril, 5% dos usuários pagavam duas conduções -R$ 3,40- para fazer um só deslocamento.
Em junho, 10,7% dos de passageiros catracados já eram de baldeações gratuitas -ou seja, de gente que paga R$ 1,70 e usa mais de um ônibus. Em julho, 15,5%. Em agosto, 20,2% -dos quais praticamente 80% pegam duas conduções por viagem, contra 20% que pegam pelo menos três.
Esses indicadores desconsideram os passageiros que faziam e ainda fazem transferências gratuitas nos terminais -e que nem precisam do bilhete único.
Eles sugerem que, por enquanto, não foram confirmadas as previsões mais pessimistas -de queda da arrecadação- nem as mais otimistas -de que a nova rede de transporte atrairia quantidade significativa de novos pagantes.
Segundo a gestão Marta, em agosto, 51% dos usuários dos ônibus e lotações já pagavam a tarifa com bilhete único, índice que saltou para perto de 70% na média deste mês. A prefeitura já distribuiu mais de 4,5 milhões cartões magnéticos -número que se aproxima de metade da população paulistana e que sinaliza possíveis efeitos eleitorais.
As contas do balanço apontam ainda que as baldeações gratuitas representaram em agosto uma economia de R$ 53 milhões para os usuários -é o que gastariam a mais caso estivessem pagando para usar mais de um ônibus.

Expectativa
O maior temor dos especialistas após a implantação do bilhete único era a queda da receita do sistema -havia expectativa de redução por conta dos 5% dos passageiros que pagavam duas tarifas (R$ 3,40) em uma mesma viagem e que agora recolhem somente uma (R$ 1,70).
Mas essa eventual perda de receita foi compensada, por enquanto, pela redução da evasão (a bilhetagem eletrônica elimina as negociações de passes no mercado paralelo) ou pela suposta atração de novos usuários -de carro, metrô, trem ou clandestino.
A receita ainda poderá cair, entretanto, conforme o usuário for se acostumando com o sistema. Por exemplo, alguém que paga hoje um ônibus para ir ao shopping e outro para voltar e resolva "racionalizar" a viagem, fazendo tudo em menos de duas horas para gastar somente R$ 1,70.
A prefeitura alega que os custos aos operadores não aumentaram porque a frota continua igual -ou seja, as baldeações gratuitas apenas minimizariam a ociosidade existente. Mas, dependendo da adesão ao bilhete único e da alta das baldeações gratuitas nos próximos meses, essa ociosidade pode se esgotar, obrigando as viações a pôr mais veículos nas ruas -algo que elevaria os custos.
O balanço de três meses do cartão foi feito pelo secretário dos Transportes, Gerson Bittencourt, depois de Marta ter sido questionada em entrevistas -sem saber dar respostas- sobre os custos da fase pós-bilhete único.
Ele diz que a prefeitura gastou de 2001 até hoje R$ 85,6 milhões com investimentos na bilhetagem eletrônica. O déficit (diferença entre a arrecadação e a remuneração paga aos operadores) em 2004 está sendo bancado por subsídios municipais de R$ 280 milhões.
Contrariando a expectativa de técnicos -que previam um salto para até R$ 360 milhões-, Bittencourt anunciou que a previsão orçamentária para 2005 a ser enviada à Câmara não prevê elevação dessas subvenções -sinal de que, caso haja alta dos custos, ela deve ser repassada à tarifa.


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