|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sem diagnóstico, jovem morre por aborto malfeito
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma garota de 18 anos
morreu por complicações de
aborto clandestino após passar por consultas com dois
médicos de um pronto-socorro de São Paulo, em dois
dias consecutivos, e não ter o
problema diagnosticado. Os
médicos alegam que a garota
mentiu sobre o aborto.
O caso tramita sob sigilo
no CFM (Conselho Federal
de Medicina). Segundo sindicância do Cremesp (conselho médico paulista), na primeira consulta, a jovem se
queixou ao médico de sangramento vaginal intenso,
febre e dores abdominais,
sintomas que duravam havia
cinco dias. Acompanhada
pelo pai e pela mãe, ela negou
que tivesse feito um aborto.
O médico teria aceito a
versão da jovem sem fazer o
exame de toque vaginal ou
pedir uma ultra-sonografia.
Medicou-a com analgésicos
e antiinflamatórios e a dispensou. Horas depois, ela
voltou ao PS e foi atendida
por uma médica. Novamente, as complicações do aborto
não foram diagnosticadas.
Ao Cremesp, a médica disse que tentou rastrear o
aborto, mas que desistiu
diante da negativa da garota
e da insistência da sua mãe
que dizia que, desde criança,
a jovem sofria de cólicas
menstruais e renais.
A médica afirmou também
que chegou a indicar internação à garota para uma investigação dos sintomas,
mas que a família evadiu-se
do hospital. No mesmo dia, a
jovem sofreu uma parada
cardiorrespiratória e morreu
por complicações do aborto.
Na sindicância aberta pelo
Cremesp para apurar o caso,
os dois médicos que atenderam a jovem imputaram à ela
e à mãe parte da responsabilidade pela morte, argumentando que "elas mentiram".
Segundo Reinaldo Ayer de
Oliveira, que preside o conselho de ética do Cremesp,
por desinformação ou medo,
é comum pacientes mentirem para o médico, mas o
profissional tem a obrigação
de lançar mão de outros
meios para investigar suas
suspeitas. "Nesse caso [do
aborto], uma ultra-sonografia ou um exame de toque poderia ter esclarecido o caso."
Para a médica Fátima de
Oliveira, a investigação de
aborto precisa ser feita em
todas as mulheres em idade
fértil que apresentem queixas como as descritas pela jovem, "mesmo quando dizem
que são virgens". "É comum
elas mentirem, ainda mais
perto do pai e da mãe."
Texto Anterior: Nš de abortos ilegais cai 28% em 13 anos Próximo Texto: Mortes Índice
|