São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Sem diagnóstico, jovem morre por aborto malfeito

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma garota de 18 anos morreu por complicações de aborto clandestino após passar por consultas com dois médicos de um pronto-socorro de São Paulo, em dois dias consecutivos, e não ter o problema diagnosticado. Os médicos alegam que a garota mentiu sobre o aborto.
O caso tramita sob sigilo no CFM (Conselho Federal de Medicina). Segundo sindicância do Cremesp (conselho médico paulista), na primeira consulta, a jovem se queixou ao médico de sangramento vaginal intenso, febre e dores abdominais, sintomas que duravam havia cinco dias. Acompanhada pelo pai e pela mãe, ela negou que tivesse feito um aborto.
O médico teria aceito a versão da jovem sem fazer o exame de toque vaginal ou pedir uma ultra-sonografia. Medicou-a com analgésicos e antiinflamatórios e a dispensou. Horas depois, ela voltou ao PS e foi atendida por uma médica. Novamente, as complicações do aborto não foram diagnosticadas.
Ao Cremesp, a médica disse que tentou rastrear o aborto, mas que desistiu diante da negativa da garota e da insistência da sua mãe que dizia que, desde criança, a jovem sofria de cólicas menstruais e renais.
A médica afirmou também que chegou a indicar internação à garota para uma investigação dos sintomas, mas que a família evadiu-se do hospital. No mesmo dia, a jovem sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu por complicações do aborto.
Na sindicância aberta pelo Cremesp para apurar o caso, os dois médicos que atenderam a jovem imputaram à ela e à mãe parte da responsabilidade pela morte, argumentando que "elas mentiram".
Segundo Reinaldo Ayer de Oliveira, que preside o conselho de ética do Cremesp, por desinformação ou medo, é comum pacientes mentirem para o médico, mas o profissional tem a obrigação de lançar mão de outros meios para investigar suas suspeitas. "Nesse caso [do aborto], uma ultra-sonografia ou um exame de toque poderia ter esclarecido o caso."
Para a médica Fátima de Oliveira, a investigação de aborto precisa ser feita em todas as mulheres em idade fértil que apresentem queixas como as descritas pela jovem, "mesmo quando dizem que são virgens". "É comum elas mentirem, ainda mais perto do pai e da mãe."


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