São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Presidente do Butantan diz que foi "ingênuo"

Afastado sob suspeita de gestão temerária, Isaias Raw afirma que errou ao confiar em funcionários antigos da administração

Segundo ele, sua principal preocupação no instituto era com a "saúde pública", e auditorias externas nunca revelaram irregularidades

DA REPORTAGEM LOCAL

O professor emérito da USP Isaias Raw, afastado preventivamente da presidência da Fundação Butantan, disse ter sido "ingênuo" ao confiar aos seus funcionários as atividades "secundárias" do órgão. Sua principal preocupação era, segundo ele, a "saúde pública".
As atividades secundárias a que o professor se refere eram a administração dos recursos da entidade, um orçamento anual de R$ 300 milhões, e que foram alvo de desvios superiores a R$ 35 milhões desde 2004, segundo o Ministério Público.
Raw foi afastado na semana passada por "gestão temerária" -não há suspeita, segundo a Promotoria, de que o professor tenha sido beneficiado.
A Fundação Butantan é o braço operacional do Instituto Butantan, o principal produtor nacional de soros e vacinas -incluindo a vacina da influenza A (H1N1), a gripe suína.
Isaias Raw se manifestou ontem numa nota em que resume sua trajetória e a da instituição.
Raw começa dizendo como assumiu a fundação em 1984, quando ela estava "em franca decadência". "Saindo do zero, hoje o Butantan produz 90% dos imunobiológicos que o Ministério [da Saúde] distribui à população", afirma.
O professor admite ter usado uma estrutura pequena, que o Ministério Público chamou de "caseira", mas defende-se com as auditorias feitas na fundação. "Saúde pública é a missão do Butantan, o resto é atividade meio. Essa era minha meta, e tínhamos departamento administrativo pequeno e inadequado", afirma.
"Fomos ingênuos, acreditando em funcionários que estavam conosco havia mais de 15 anos, e nos preocupamos com influenza, dengue e outras doenças que matavam crianças e adultos", disse o professor.
E continua: "Para um pesquisador, a atividade meio era função secundária, e auditorias externas jamais revelaram nenhuma irregularidade. Nem quando uma auditoria escolhida pela Curadoria examinou as contas detectou qualquer desvio de recursos", afirma ele.
De acordo com o promotor Airton Grazzioli, da Curadoria de Fundações do Ministério Público, não há evidências de existir alguém "grande" por trás dos desvios. A investigação, segundo ele, ainda está em curso, e muitas perguntas precisam ser respondidas.
Ainda de acordo com o promotor, Isaias Raw mantém na nota o mesmo raciocínio equivocado que sustentava com a Promotoria: o de que o desvio ocorrido na fundação era pequeno diante do seu orçamento. "Essa lógica serviria se fosse uma empresa privada e ele [Raw] fosse dono. São todos recursos públicos", afirmou.


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