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Presidente do Butantan diz que foi "ingênuo"
Afastado sob suspeita de gestão temerária, Isaias Raw afirma que errou ao confiar em funcionários antigos da administração
Segundo ele, sua principal preocupação no instituto era com a "saúde pública", e auditorias externas nunca revelaram irregularidades
DA REPORTAGEM LOCAL
O professor emérito da USP
Isaias Raw, afastado preventivamente da presidência da
Fundação Butantan, disse ter
sido "ingênuo" ao confiar aos
seus funcionários as atividades
"secundárias" do órgão. Sua
principal preocupação era, segundo ele, a "saúde pública".
As atividades secundárias a
que o professor se refere eram a
administração dos recursos da
entidade, um orçamento anual
de R$ 300 milhões, e que foram
alvo de desvios superiores a
R$ 35 milhões desde 2004, segundo o Ministério Público.
Raw foi afastado na semana
passada por "gestão temerária"
-não há suspeita, segundo a
Promotoria, de que o professor
tenha sido beneficiado.
A Fundação Butantan é o
braço operacional do Instituto
Butantan, o principal produtor
nacional de soros e vacinas
-incluindo a vacina da influenza A (H1N1), a gripe suína.
Isaias Raw se manifestou ontem numa nota em que resume
sua trajetória e a da instituição.
Raw começa dizendo como
assumiu a fundação em 1984,
quando ela estava "em franca
decadência". "Saindo do zero,
hoje o Butantan produz 90%
dos imunobiológicos que o Ministério [da Saúde] distribui à
população", afirma.
O professor admite ter usado
uma estrutura pequena, que o
Ministério Público chamou de
"caseira", mas defende-se com
as auditorias feitas na fundação. "Saúde pública é a missão
do Butantan, o resto é atividade
meio. Essa era minha meta, e tínhamos departamento administrativo pequeno e inadequado", afirma.
"Fomos ingênuos, acreditando em funcionários que estavam conosco havia mais de 15
anos, e nos preocupamos com
influenza, dengue e outras
doenças que matavam crianças
e adultos", disse o professor.
E continua: "Para um pesquisador, a atividade meio era função secundária, e auditorias externas jamais revelaram nenhuma irregularidade. Nem
quando uma auditoria escolhida pela Curadoria examinou as
contas detectou qualquer desvio de recursos", afirma ele.
De acordo com o promotor
Airton Grazzioli, da Curadoria
de Fundações do Ministério
Público, não há evidências de
existir alguém "grande" por
trás dos desvios. A investigação, segundo ele, ainda está em
curso, e muitas perguntas precisam ser respondidas.
Ainda de acordo com o promotor, Isaias Raw mantém na
nota o mesmo raciocínio equivocado que sustentava com a
Promotoria: o de que o desvio
ocorrido na fundação era pequeno diante do seu orçamento. "Essa lógica serviria se fosse
uma empresa privada e ele
[Raw] fosse dono. São todos recursos públicos", afirmou.
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