UOL


São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Próximo Texto | Índice

GOVERNO FEDERAL

Luiz Eduardo Soares, que contratou a mulher e a ex-mulher, deixou o cargo após ministério pedir explicações

Secretário de Segurança pede demissão

GABRIELA ATHIAS
IURI DANTAS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de um processo de "fritura" que durou exatos sete dias, o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, pediu demissão no fim da tarde de ontem. O pedido foi imediatamente aceito pelo ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
Apesar dos avanços conseguidos por Soares na secretaria, como a adesão de todos os Estados ao Susp (Sistema Único de Segurança Pública) no primeiro ano de governo, o ministro não o via como peça fundamental para a política de segurança. Segundo um de seus auxiliares, Bastos disse que a saída de Soares não "compromete" o trabalho.
Interinamente, assume no lugar de Soares o próprio ministro da Justiça. Sua intenção, porém, é escolher o mais rápido possível um substituto de sua confiança.
Thomaz Bastos e Soares nunca foram muito próximos. Nos últimos dias, foram divulgadas informações de que Soares contratou a mulher e a ex-mulher para assessorar a secretaria que comandava, o que ajudou a desgastá-lo.
O ex-secretário assumiu o cargo, no início do governo, indicado pelo PT e respaldado por sua experiência acadêmica e no setor (foi subsecretário de Segurança Pública do Rio). Após deixar o Rio, Soares viveu nos EUA, onde escreveu um livro. Ao voltar ao país, prestou consultoria para a prefeitura petista de Porto Alegre.
O clima pesado entre o demissionário e o ministro não impediu que os dois concordassem em transmitir um tom cordial à imprensa. À noite, o Ministério da Justiça divulgou uma nota garantindo que os projetos iniciados por Soares serão levados adiante.
O ex-secretário comandava o Fundo Nacional de Segurança Pública, com orçamento de R$ 404 milhões (R$ 268 mi já liberados) e coordenava a implantação do Susp, que unificará ações e bancos de dados do governo federal, dos Estados e dos municípios.
Um dos últimos confrontos de Soares no ministério ocorreu há cerca de um mês. Segundo a Folha apurou, o secretário-executivo do ministério, Luiz Paulo Barreto, solicitou a Soares que devolvesse parte dos recursos do Fundo Nacional de Segurança ao Ministério do Planejamento para que o dinheiro pudesse ser remanejado para a Polícia Federal.
Soares não concordou. Reuniu-se com Thomaz Bastos munido de dois argumentos: a previsão legal do fundo (voltado para a capacitação das polícias) e os compromissos financeiros já assumidos com governadores e prefeitos. O fato é que a atitude prolongou a crise na PF e expôs Thomaz Bastos e o governo na imprensa.
A tensão agravou-se na quarta-feira passada, quando o ex-secretário estava no Maranhão em missão oficial. Luiz Paulo Barreto e Cláudio Alencar, assessor do ministro, convocaram assessores de Soares para uma reunião e iniciaram uma auditoria informal sobre contratações de pesquisadores e consultores, alguns deles próximos de Soares e sua equipe.
Uma segunda reunião ocorreu na quinta-feira à tarde. Mas, às 19h do mesmo dia, a equipe foi novamente convocada por Barreto e Alencar. Foram questionados sobre a contratação da mulher do secretário, Miriam Guindani, e da ex-mulher, Bárbara Soares, pela secretaria de Segurança Pública. A conversa, sempre em tom duro, só terminou às 23h.
A contratação da mulher foi suspensa. A da ex, não.
Anteontem, ao retornar a Brasília, Soares soube dos detalhes das reuniões e entendeu a senha para pedir demissão.
Soares pediu uma reunião com Bastos, que estava na Bahia. Quando chegou, o ministro combinou a conversa para o início da tarde de ontem.
Na carta de demissão, Soares diz que, como gestor público, jamais cometeu "ato ilegal ou antiético". Bastos ""lamentou" a demissão.
Em 2000, no Rio, Soares foi demitido pela TV por Anthony Garotinho. Ao sair, acusou o então governador de ter nomeado para o governo pessoas da chamada "banda podre" da polícia.
Já no governo federal, Soares se destacou por declarações polêmicas. Disse que os policiais brasileiros são "profissionais da barbárie" -depois, em carta à Folha, disse que errou ao generalizar- e que têm um "kit assassino" (armas e drogas) para incriminar pessoas mortas em supostos confrontos.


Próximo Texto: Rio: Policial diz que vai devolver verba de viagem
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.