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GOVERNO FEDERAL
Luiz Eduardo Soares, que contratou a mulher e a ex-mulher, deixou o cargo após ministério pedir explicações
Secretário de Segurança pede demissão
GABRIELA ATHIAS
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de um processo de "fritura" que durou exatos sete dias, o
secretário nacional de Segurança
Pública, Luiz Eduardo Soares, pediu demissão no fim da tarde de
ontem. O pedido foi imediatamente aceito pelo ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
Apesar dos avanços conseguidos por Soares na secretaria, como a adesão de todos os Estados
ao Susp (Sistema Único de Segurança Pública) no primeiro ano
de governo, o ministro não o via
como peça fundamental para a
política de segurança. Segundo
um de seus auxiliares, Bastos disse que a saída de Soares não
"compromete" o trabalho.
Interinamente, assume no lugar
de Soares o próprio ministro da
Justiça. Sua intenção, porém, é escolher o mais rápido possível um
substituto de sua confiança.
Thomaz Bastos e Soares nunca
foram muito próximos. Nos últimos dias, foram divulgadas informações de que Soares contratou a
mulher e a ex-mulher para assessorar a secretaria que comandava,
o que ajudou a desgastá-lo.
O ex-secretário assumiu o cargo, no início do governo, indicado
pelo PT e respaldado por sua experiência acadêmica e no setor
(foi subsecretário de Segurança
Pública do Rio). Após deixar o
Rio, Soares viveu nos EUA, onde
escreveu um livro. Ao voltar ao
país, prestou consultoria para a
prefeitura petista de Porto Alegre.
O clima pesado entre o demissionário e o ministro não impediu
que os dois concordassem em
transmitir um tom cordial à imprensa. À noite, o Ministério da
Justiça divulgou uma nota garantindo que os projetos iniciados
por Soares serão levados adiante.
O ex-secretário comandava o
Fundo Nacional de Segurança Pública, com orçamento de R$ 404
milhões (R$ 268 mi já liberados) e
coordenava a implantação do
Susp, que unificará ações e bancos de dados do governo federal,
dos Estados e dos municípios.
Um dos últimos confrontos de
Soares no ministério ocorreu há
cerca de um mês. Segundo a Folha apurou, o secretário-executivo do ministério, Luiz Paulo Barreto, solicitou a Soares que devolvesse parte dos recursos do Fundo Nacional de Segurança ao Ministério do Planejamento para
que o dinheiro pudesse ser remanejado para a Polícia Federal.
Soares não concordou. Reuniu-se com Thomaz Bastos munido
de dois argumentos: a previsão legal do fundo (voltado para a capacitação das polícias) e os compromissos financeiros já assumidos
com governadores e prefeitos. O
fato é que a atitude prolongou a
crise na PF e expôs Thomaz Bastos e o governo na imprensa.
A tensão agravou-se na quarta-feira passada, quando o ex-secretário estava no Maranhão em
missão oficial. Luiz Paulo Barreto
e Cláudio Alencar, assessor do
ministro, convocaram assessores
de Soares para uma reunião e iniciaram uma auditoria informal
sobre contratações de pesquisadores e consultores, alguns deles
próximos de Soares e sua equipe.
Uma segunda reunião ocorreu
na quinta-feira à tarde. Mas, às
19h do mesmo dia, a equipe foi
novamente convocada por Barreto e Alencar. Foram questionados
sobre a contratação da mulher do
secretário, Miriam Guindani, e da
ex-mulher, Bárbara Soares, pela
secretaria de Segurança Pública.
A conversa, sempre em tom duro,
só terminou às 23h.
A contratação da mulher foi
suspensa. A da ex, não.
Anteontem, ao retornar a Brasília, Soares soube dos detalhes das
reuniões e entendeu a senha para
pedir demissão.
Soares pediu uma reunião com
Bastos, que estava na Bahia.
Quando chegou, o ministro combinou a conversa para o início da
tarde de ontem.
Na carta de demissão, Soares diz
que, como gestor público, jamais
cometeu "ato ilegal ou antiético".
Bastos ""lamentou" a demissão.
Em 2000, no Rio, Soares foi demitido pela TV por Anthony Garotinho. Ao sair, acusou o então
governador de ter nomeado para
o governo pessoas da chamada
"banda podre" da polícia.
Já no governo federal, Soares se
destacou por declarações polêmicas. Disse que os policiais brasileiros são "profissionais da barbárie" -depois, em carta à Folha,
disse que errou ao generalizar- e
que têm um "kit assassino" (armas e drogas) para incriminar
pessoas mortas em supostos confrontos.
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