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URBANIDADE
Ilustração Vincenzo Scarpellini
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NA PRAÇA RAMOS Olhares ferinos, microfone e gerador, livro na mão. Gestos babilônicos valem ao pregador a atenção dos passeantes. Formado um círculo mudo, o pregador expande a fala: coloca dentro os céus, empasta a terra, convoca o bem, desafia o mal. Explode com mais força, como os fogos de artifício, antes de calar. Depois some, em quiçá qual luta ou engano da cidade.
(VINCENZO SCARPELLINI)
Big Brother para carro
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) está prestes a implantar
na cidade de São Paulo uma espécie de "Big Brother" para fiscalizar eletronicamente os veículos -o projeto piloto deve ser
disseminado em todo o país.
Semelhante ao sistema de cobrança eletrônica de pedágio
nas estradas, chamado de Sem
Parar, antenas seriam instaladas, no próximo ano, nas ruas de
maior movimento da cidade. Os
sinais seriam emitidos pelos selos afixados nos veículos e indicariam eventuais irregularidades, como falta de pagamento de
multa, ausência de licenciamento ou roubo do automóvel. Qualquer carro em movimento estaria sob observação. Essa experiência é um prazer especial para Ailton Brasiliense, presidente
do Denatran.
Nascido no bairro paulistano
do Pari, há 57 anos, Ailton divertia-se nas ruas, despreocupado,
quando era criança. Talvez influenciado pela lembrança dos
prazeres infantis, irrecuperáveis
para as novas gerações, ele nunca se conformou com o domínio
imperial dos automóveis. "A impunidade é a regra", critica.
Ele se formou em engenharia e
matemática, dedicando-se a estudar o funcionamento do trânsito, interessado em buscar alternativas para descongestionar as
ruas, abrir espaço para os pedestres e facilitar a circulação do
transporte público. O que significa uma aparentemente inglória
tarefa, especialmente na cidade
de São Paulo.
Escolhido para dirigir o Denatran, Ailton decidiu lançar o sistema de antenas, que representa,
na sua visão, a possibilidade de
começar a enquadrar os automóveis. No futuro, talvez sirvam
para um projeto mais ambicioso, agora quase impensável: o
pedágio urbano, iniciado neste
ano, com sucesso, em Londres, e
que deve seguir para Paris.
Nos cálculos de Ailton, as contas do trânsito não fecham. O
número de veículos em circulação cresce, mas depara-se com a
limitação espacial. "Quando a
economia voltar a crescer e mais
gente comprar carro, a paradeira será apenas uma questão de
tempo." E aí, imagina, o pedágio
urbano, hoje politicamente inviável, começará a ser visto como uma solução -e bastará
apenas dar mais uma função às
antenas já instaladas, tirando
carros da rua e financiando o
transporte público.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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