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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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URBANIDADE

Ilustração Vincenzo Scarpellini
NA PRAÇA RAMOS Olhares ferinos, microfone e gerador, livro na mão. Gestos babilônicos valem ao pregador a atenção dos passeantes. Formado um círculo mudo, o pregador expande a fala: coloca dentro os céus, empasta a terra, convoca o bem, desafia o mal. Explode com mais força, como os fogos de artifício, antes de calar. Depois some, em quiçá qual luta ou engano da cidade. (VINCENZO SCARPELLINI)


Big Brother para carro

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) está prestes a implantar na cidade de São Paulo uma espécie de "Big Brother" para fiscalizar eletronicamente os veículos -o projeto piloto deve ser disseminado em todo o país.
Semelhante ao sistema de cobrança eletrônica de pedágio nas estradas, chamado de Sem Parar, antenas seriam instaladas, no próximo ano, nas ruas de maior movimento da cidade. Os sinais seriam emitidos pelos selos afixados nos veículos e indicariam eventuais irregularidades, como falta de pagamento de multa, ausência de licenciamento ou roubo do automóvel. Qualquer carro em movimento estaria sob observação. Essa experiência é um prazer especial para Ailton Brasiliense, presidente do Denatran.
Nascido no bairro paulistano do Pari, há 57 anos, Ailton divertia-se nas ruas, despreocupado, quando era criança. Talvez influenciado pela lembrança dos prazeres infantis, irrecuperáveis para as novas gerações, ele nunca se conformou com o domínio imperial dos automóveis. "A impunidade é a regra", critica.
Ele se formou em engenharia e matemática, dedicando-se a estudar o funcionamento do trânsito, interessado em buscar alternativas para descongestionar as ruas, abrir espaço para os pedestres e facilitar a circulação do transporte público. O que significa uma aparentemente inglória tarefa, especialmente na cidade de São Paulo.
Escolhido para dirigir o Denatran, Ailton decidiu lançar o sistema de antenas, que representa, na sua visão, a possibilidade de começar a enquadrar os automóveis. No futuro, talvez sirvam para um projeto mais ambicioso, agora quase impensável: o pedágio urbano, iniciado neste ano, com sucesso, em Londres, e que deve seguir para Paris.
Nos cálculos de Ailton, as contas do trânsito não fecham. O número de veículos em circulação cresce, mas depara-se com a limitação espacial. "Quando a economia voltar a crescer e mais gente comprar carro, a paradeira será apenas uma questão de tempo." E aí, imagina, o pedágio urbano, hoje politicamente inviável, começará a ser visto como uma solução -e bastará apenas dar mais uma função às antenas já instaladas, tirando carros da rua e financiando o transporte público.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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