São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Dos presídios, falso seqüestro se expande

De dentro de penitenciárias, algumas de segurança máxima, presos telefonam para ameaçar pessoas e cobrar resgates

Famílias de ministro, deputados e membros do Judiciário, entre outros, já sofreram o golpe e viveram momentos de pânico

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Dos presídios fluminenses, alguns rotulados como de segurança máxima, presos ameaçam famílias em vários Estados do país com o golpe do "seqüestro virtual", em que a pessoa é levada a acreditar que tem algum parente em poder de bandidos e coagida a pagar resgate.
Também há casos praticados por presos de São Paulo, Fortaleza e Goiânia, mas, segundo as autoridades policiais, a maioria dos golpes é praticada por presos fluminenses. Na grande parte das vezes, eles ligam a cobrar para as vítimas.
Deputados, empresários, profissionais liberais e membros do Judiciário já foram ameaçados. Na semana passada, o delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha, que investiga o dossiegate, recebeu duas ligações em telefones diferentes, no mesmo dia, sobre o falso seqüestro de sua mulher.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, viveu o drama, há dois meses. Um homem, que se apresentou como policial federal, ligou para o celular da mulher do ministro, em Belo Horizonte, dizendo que uma amiga dela tinha se acidentado e pedia sua ajuda. Em poucos minutos, a história mudou: o homem disse que tinha seqüestrado um dos filhos do casal e exigiu dinheiro. Depois de muita tensão, a criança foi localizada, a salvo, na escola.
Mas o drama não acabou ali. Ao se ver desmascarado, o bandido disse que o menino seria assassinado, e, desde então, a criança está sob proteção de seguranças. Segundo o ministro, ficou constatado que o telefonema partiu de um dos presídios de segurança máxima de Bangu, no Rio de Janeiro.
Em Teresina (Piauí), o promotor de Justiça Francisco Raulino Neto passou cinco horas ao celular com um presidiário do Rio de Janeiro que ameaçava matar seu filho. Apavorado, porque o menino não estava em casa, o promotor pagou R$ 6.000 em cartões telefônicos. Depois que tudo acabou, ele descobriu que o filho tinha saído com a avó.

Pouca queixa à polícia
A grande maioria das vítimas do golpe do seqüestro virtual não dá queixa à polícia e muito poucos admitem publicamente que pagaram falsos resgates.
Os que cederam à chantagem contam que acreditaram nas ameaças porque não conseguiram estabelecer contato com o parente supostamente seqüestrado. Foi o que aconteceu com o deputado estadual gaúcho Nelson Harter (PMDB). Ele estava na estrada, a caminho de São Lourenço do Sul, quando recebeu uma ligação no celular. Um homem dizia que estava com o filho dele e que iria matá-lo, a menos que o deputado pagasse resgate de R$ 10 mil.
O rapaz estava em sala de aula e, por isso, tinha desligado o celular. Desesperado, o deputado pagou parte do resgate exigido. Ele não quis revelar o valor. Segundo ele, outros dois deputados gaúchos passaram pelo problema. Disse que a polícia não localizou o autor da ligação, que tinha origem no Rio.
O deputado federal Marcondes Gadelha (PSB-PB) e pelo menos mais três deputados federais foram alvos de golpes. Gadelha disse que ligaram para a casa dele, em Brasília, com a exigência de R$ 10 mil para não atacar sua família. Foram três ligações, feitas de celular de São Paulo. Segundo o deputado, eles sabiam com quem estavam falando e conheciam os nomes dos membros da família. Ele disse que não cedeu à chantagem e acionou o serviço de segurança da Câmara, que chamou a Polícia Federal.
Segundo o coordenador de Polícia Judiciária da Câmara dos Deputados, Alber Vale de Paula, vários gabinetes foram alvos dos falsos seqüestros, além de outras ameaças praticadas por presos do Rio de Janeiro e de Goiânia.

A mãe informou
Quando acaba o falso seqüestro é que se costuma descobrir que a própria família forneceu as informações usadas pelo bandido. Um advogado de Betim (MG) contou que sua mulher informou ao golpista o nome da filha, o modelo do carro que ela usava e até que estava em férias no Espírito Santo, depois de atender a um telefonema de um falso guarda rodoviário com o golpe do acidente na estrada. O bandido pedia R$ 10 mil de resgate. A família pagou R$ 1 mil em cartões telefônicos.


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