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Dos presídios, falso seqüestro se expande
De dentro de penitenciárias, algumas de segurança máxima, presos telefonam para ameaçar pessoas e cobrar resgates
Famílias de ministro, deputados e membros do Judiciário, entre outros, já sofreram o golpe e viveram momentos de pânico
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Dos presídios fluminenses,
alguns rotulados como de segurança máxima, presos ameaçam famílias em vários Estados
do país com o golpe do "seqüestro virtual", em que a pessoa é
levada a acreditar que tem algum parente em poder de bandidos e coagida a pagar resgate.
Também há casos praticados
por presos de São Paulo, Fortaleza e Goiânia, mas, segundo as
autoridades policiais, a maioria
dos golpes é praticada por presos fluminenses. Na grande
parte das vezes, eles ligam a cobrar para as vítimas.
Deputados, empresários,
profissionais liberais e membros do Judiciário já foram
ameaçados. Na semana passada, o delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha, que
investiga o dossiegate, recebeu
duas ligações em telefones diferentes, no mesmo dia, sobre o
falso seqüestro de sua mulher.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, viveu o drama, há dois meses. Um homem,
que se apresentou como policial federal, ligou para o celular
da mulher do ministro, em Belo
Horizonte, dizendo que uma
amiga dela tinha se acidentado
e pedia sua ajuda. Em poucos
minutos, a história mudou: o
homem disse que tinha seqüestrado um dos filhos do casal e
exigiu dinheiro. Depois de muita tensão, a criança foi localizada, a salvo, na escola.
Mas o drama não acabou ali.
Ao se ver desmascarado, o bandido disse que o menino seria
assassinado, e, desde então, a
criança está sob proteção de seguranças. Segundo o ministro,
ficou constatado que o telefonema partiu de um dos presídios de segurança máxima de
Bangu, no Rio de Janeiro.
Em Teresina (Piauí), o promotor de Justiça Francisco
Raulino Neto passou cinco horas ao celular com um presidiário do Rio de Janeiro que ameaçava matar seu filho. Apavorado, porque o menino não estava
em casa, o promotor pagou R$
6.000 em cartões telefônicos.
Depois que tudo acabou, ele
descobriu que o filho tinha saído com a avó.
Pouca queixa à polícia
A grande maioria das vítimas
do golpe do seqüestro virtual
não dá queixa à polícia e muito
poucos admitem publicamente
que pagaram falsos resgates.
Os que cederam à chantagem
contam que acreditaram nas
ameaças porque não conseguiram estabelecer contato com o
parente supostamente seqüestrado. Foi o que aconteceu com
o deputado estadual gaúcho
Nelson Harter (PMDB). Ele estava na estrada, a caminho de
São Lourenço do Sul, quando
recebeu uma ligação no celular.
Um homem dizia que estava
com o filho dele e que iria matá-lo, a menos que o deputado pagasse resgate de R$ 10 mil.
O rapaz estava em sala de aula e, por isso, tinha desligado o
celular. Desesperado, o deputado pagou parte do resgate exigido. Ele não quis revelar o valor.
Segundo ele, outros dois deputados gaúchos passaram pelo
problema. Disse que a polícia
não localizou o autor da ligação,
que tinha origem no Rio.
O deputado federal Marcondes Gadelha (PSB-PB) e pelo
menos mais três deputados federais foram alvos de golpes.
Gadelha disse que ligaram para
a casa dele, em Brasília, com a
exigência de R$ 10 mil para não
atacar sua família. Foram três
ligações, feitas de celular de São
Paulo. Segundo o deputado,
eles sabiam com quem estavam
falando e conheciam os nomes
dos membros da família. Ele
disse que não cedeu à chantagem e acionou o serviço de segurança da Câmara, que chamou a Polícia Federal.
Segundo o coordenador de
Polícia Judiciária da Câmara
dos Deputados, Alber Vale de
Paula, vários gabinetes foram
alvos dos falsos seqüestros,
além de outras ameaças praticadas por presos do Rio de Janeiro e de Goiânia.
A mãe informou
Quando acaba o falso seqüestro é que se costuma descobrir
que a própria família forneceu
as informações usadas pelo
bandido. Um advogado de Betim (MG) contou que sua mulher informou ao golpista o nome da filha, o modelo do carro
que ela usava e até que estava
em férias no Espírito Santo, depois de atender a um telefonema de um falso guarda rodoviário com o golpe do acidente na
estrada. O bandido pedia R$ 10
mil de resgate. A família pagou
R$ 1 mil em cartões telefônicos.
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