São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007 |
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Vítimas da seca apelam para saques e protestos
Agricultores já invadiram duas vezes a Prefeitura de Madalena, no Ceará
KAMILA FERNANDES DA AGÊNCIA FOLHA, EM MADALENA (CE) A seca e a fome geram tensão e até ameaças de saque no sertão central do Ceará. Sem água, com a safra perdida e sem dinheiro, agricultores do município de Madalena (190 km de Fortaleza) invadiram a prefeitura duas vezes neste ano e só saíram do local depois que receberam cestas básicas. Com medo de saques, pequenos comerciantes do município deram alimentos aos agricultores enquanto eles estiveram na prefeitura. "Era o jeito. Não dá para ficar vendo os filhos da gente passar fome e não fazer nada", disse o agricultor Josué da Silva, 38, um dos que participaram das invasões à prefeitura, ambas no segundo semestre deste ano. A pouca água que existe em Madalena é tirada de poços, que têm vida útil limitada. Na comunidade de Salgadinho, ela acabou há quatro meses. Só após duas tentativas de escavar um novo poço é que mais água foi encontrada, há 20 dias. "Não tinha água nem para os bichos. O caminhão-pipa vinha abastecer a cisterna, mas logo acabava a água e ficava um desespero só", disse Antônia Cláudia Serafim de Oliveira, 35, mãe de sete crianças. Ela sobrevive com R$ 120 do Bolsa Família e com a ajuda dos pais aposentados. Assim como Antônia, outros agricultores do município são mantidos pelo Bolsa Família, entregue a 2.300 famílias de Madalena, e pelos R$ 110 do Garantia Safra, programa federal que funciona como uma espécie de seguro para o caso de perdas de safra. Esse valor será pago até fevereiro a 2.700 agricultores do município. Quem não o recebe fica dependendo da ajuda de familiares aposentados, cerca de 2.600 pessoas na cidade. Este é o quarto ano consecutivo em que Madalena está em situação de emergência pela seca. Da safra de milho e feijão, só restaram cerca de 10%. "O povo é pacato, mas a fome não brinca. É uma tensão muito grande, pois o comércio é pequeno e fica assustado", disse o prefeito Antônio Wilson de Pinho (PMDB). "Mas a gente sempre tem fé de que vai chover, o sertanejo vive disso." A seca é uma realidade em 387 municípios de oito Estados. No Ceará, 110 das 184 cidades estão em situação de emergência. Todas elas dependem do abastecimento d'água feito pelo Exército, em carros-pipa. Em Madalena, todos os 17 mil habitantes do município dependem dessa água. O Exército usa nove caminhões para fazer a distribuição no município. Há um sistema de abastecimento na cidade, mas a quantidade de água é pequena, disponível só a cada dois ou três dias, e é salobra, imprópria para o consumo humano. Não há um reservatório que garanta esse abastecimento. O prefeito e os agricultores dizem que a única saída para melhorar as condições de vida em Madalena é a construção de um açude, esperado desde os anos 1950. O local para a construção do reservatório já foi escolhido, na comunidade de Manga, e o projeto está até com o orçamento pronto, de R$ 13,9 milhões. Não há previsão, porém, de quando ele vai sair do papel. "Será a nossa redenção", disse Pinho. Sem poder contar com o açude, assentados da comunidade Nova Vida, ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), recolhiam a água levada pelo carro-pipa do Exército na última quinta-feira, após sete dias de espera com as cisternas vazias. "Neste ano não choveu nem para plantar. O que salva é que os comerciantes conhecem a gente e vendem fiado", disse o agricultor Antônio Fausto de Oliveira, 54. "É receber o Bolsa-Família, pagar as dívidas e fazer outras novas para ter comida em casa", afirmou. Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: "Tem que cavar cada vez mais fundo", diz Silva, atrás de água Índice |
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