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"Tem que cavar cada vez mais fundo", diz Silva, atrás de água
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MADALENA (CE)
A água brota de um buraco
escavado no chão seco. É essa
água que muitos moradores da
comunidade União, em Madalena (CE), usam para beber
neste período de seca.
A cacimba de areia, como é
chamado o buraco, é aberta
sempre que acabam as chuvas e
que o pequeno reservatório do
lugarejo fica vazio. E é sempre
necessário escavar mais, toda
vez que o buraco seca.
"A gente trabalhou muito para achar essa água, e tem que
cavar cada vez mais fundo", diz
o agricultor Raimundo Alberani da Silva, 36. Ele tem cisterna
em casa, mas ela já secou. Por
isso, vai com a filha todo final
de tarde encher galões d'água
na cacimba, o suficiente para
consumirem até o dia seguinte.
Essa água é límpida e doce,
bem diferente da tirada do poço
e que chega pelo sistema de distribuição ao lugarejo, ligado a
cada três dias, e que é salobra.
"Aquela água só presta para
lavar, essa daqui é boa para beber", disse Josué da Silva, 38,
também agricultor, quando pegava água em uma lata, na tarde
de quinta. Sem ter colhido um
só grão do feijão que plantou
neste ano, ele diz que sua família tem sobrevivido com R$ 95
do Bolsa Família e R$ 110 do
Garantia Safra. "Veio uma cesta
básica, mas não durou um mês.
Queria era ter como produzir,
mas não dá para fazer nada."
Quando há água dos carros-pipa, a cada 15 dias, a da cacimba é economizada. "A gente, os
adultos, bebe a do pipa, e dá essa daqui para as crianças, que é
melhor", disse Raimundo.
Para ter água, Maria Correia
da Silva, 73, percorre todos os
dias com a filha Maria, 2 km de
sua casa até a cacimba, cada
uma com uma lata d'água na cabeça, várias vezes ao dia.
A esperança é que chova em
janeiro. O plantio só ocorre
com o início da chuva e a colheita, até três meses depois.
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