São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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"Tem que cavar cada vez mais fundo", diz Silva, atrás de água

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MADALENA (CE)

A água brota de um buraco escavado no chão seco. É essa água que muitos moradores da comunidade União, em Madalena (CE), usam para beber neste período de seca.
A cacimba de areia, como é chamado o buraco, é aberta sempre que acabam as chuvas e que o pequeno reservatório do lugarejo fica vazio. E é sempre necessário escavar mais, toda vez que o buraco seca.
"A gente trabalhou muito para achar essa água, e tem que cavar cada vez mais fundo", diz o agricultor Raimundo Alberani da Silva, 36. Ele tem cisterna em casa, mas ela já secou. Por isso, vai com a filha todo final de tarde encher galões d'água na cacimba, o suficiente para consumirem até o dia seguinte.
Essa água é límpida e doce, bem diferente da tirada do poço e que chega pelo sistema de distribuição ao lugarejo, ligado a cada três dias, e que é salobra.
"Aquela água só presta para lavar, essa daqui é boa para beber", disse Josué da Silva, 38, também agricultor, quando pegava água em uma lata, na tarde de quinta. Sem ter colhido um só grão do feijão que plantou neste ano, ele diz que sua família tem sobrevivido com R$ 95 do Bolsa Família e R$ 110 do Garantia Safra. "Veio uma cesta básica, mas não durou um mês. Queria era ter como produzir, mas não dá para fazer nada."
Quando há água dos carros-pipa, a cada 15 dias, a da cacimba é economizada. "A gente, os adultos, bebe a do pipa, e dá essa daqui para as crianças, que é melhor", disse Raimundo.
Para ter água, Maria Correia da Silva, 73, percorre todos os dias com a filha Maria, 2 km de sua casa até a cacimba, cada uma com uma lata d'água na cabeça, várias vezes ao dia.
A esperança é que chova em janeiro. O plantio só ocorre com o início da chuva e a colheita, até três meses depois.


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