São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Braulina, 70 anos e 1,20 m, salva família de incêndio

Idosa de 44 kg conseguiu arrancar janela por onde os parentes escaparam da morte

Fogo que começou na garagem foi alertado pelo neto de 6 anos; "Não chorei nem tremi, precisava salvar minha família", afirmou

DO "AGORA"

Nem o físico franzino -1,20 m de altura e 44 kg- nem a idade avançada -70 anos- impediram que a aposentada Braulina Vieira da Mota encontrasse forças para salvar a família de um incêndio em sua casa, no bairro Habiteto, em Sorocaba (87 km da capital paulista), às 13h30 de anteontem.
Braulina, que tem dez filhos, 40 netos e 30 bisnetos, estava reunida com oito familiares -entre eles, quatro crianças- nos fundos de casa, para o almoço, quando o neto Matheus, 6, alertou: "Mãe, a casa da vó está pegando fogo". Como o imóvel passa por reforma, móveis, roupas e eletrodomésticos estavam guardados na garagem, onde o fogo começou.
"As roupas fizeram com que o fogo se alastrasse mais rápido", conta o pedreiro José Ricardo Gonçalves, 24, genro de Braulina. Ele estava deitado na cama quando ouviu a gritaria. "A gente tentou apagar as chamas, mas a água estava fraca", afirma. Em poucos minutos o fogo tomou conta do corredor.
Enquanto os parentes tentavam, sem sucesso, apagar as chamas, a aposentada pensou rápido. "Subi no fogão e durante dez minutos forcei a grade de ferro para escapar pela janela [que dá acesso ao quintal do vizinho]. Eu gritava, mas ninguém ouvia." Com o esforço ela conseguiu arrebentar a grade e a família foi socorrida.
Braulina diz que, em nenhum momento, ficou apavorada. "Não chorei nem tremi. Naquele momento precisava salvar minha família", diz.
O fogo durou uma hora e meia e pode ter sido causado por um curto-circuito.

Bercinho da neta
Ontem, a dona-de-casa Maria de Lourdes Pereira, 56, levou duas sacolas com mantimentos para a idosa. Ela ficou contente ao saber da ajuda, mas lembrou que perdeu o bercinho da neta Juliana, de 2 meses, que custou R$ 400. "Ainda estou pagando as prestações", diz.
Apesar das dificuldades, Braulina diz que o maior problema foi resolvido. "Está todo mundo vivo, agora Deus dá um jeito". A aposentada, que há 20 anos colhia cacau no interior da Bahia, mora em Sorocaba há 16. Trabalhou por oito anos como ajudante de cozinha de um hotel e, mesmo aposentada, ainda costura para ajudar os filhos.
Ela ainda encontra tempo para dançar forró e ir aos cultos da Igreja Assembléia de Deus, onde diz ter encontrado forças para não se abater com a morte do marido, há um ano, e com a prisão de um filho, acusado de homicídio, neste ano.
(FABIANO NUNES)


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