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ENTREVISTA
HERMES FERREIRA FIGUEIREDO
Índice camufla dificuldade do MEC para avaliar faculdades
Para professor, faltam avaliação interna, feita por alunos, professores e funcionários, e externa, feita por especialistas
RAFAEL SAMPAIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para o professor Hermes
Ferreira Figueiredo, a divulgação do IGC "institui algo que
lembra o Provão", por fazer
avaliação com base apenas nas
notas do Enade e não avaliar
completamente as instituições.
FOLHA - Como o sr. avalia o IGC?
HERMES FERREIRA FIGUEIREDO - Tem
duas questões. O IGC foi um
índice criado internamente pelo Inep, sem muita consistência metodológica. E também
estamos questionando a legalidade do índice. Ele atropela
bastante a lei do Sinaes, que estabelece que qualquer avaliação sobre uma instituição de
ensino superior deve respeitar
o ciclo avaliativo, composto por
três fases. A formulação do IGC
se baseou exclusivamente no
resultado do Enade, que é um
dos itens que compõem a avaliação de uma universidade.
FOLHA - Quais são os outros itens?
FIGUEIREDO - Existe, além da
avaliação do aluno através do
Enade, uma avaliação interna
[da universidade], feita através
de uma comissão criada por lei,
composta por alunos, professores, funcionários e membros da
comunidade externa. Ela faz
um relatório divulgando qual o
projeto de desenvolvimento
institucional da universidade.
Uma terceira parte é a avaliação externa à universidade, feita através de comissões de especialistas designados pelo
MEC. A comissão, após o Enade e a análise da avaliação interna, faz uma avaliação da infra-estrutura, do corpo docente
-quanto ao regime de trabalho
e à titulação- e procura saber
se aquilo que foi apurado na
avaliação interna corresponde
à realidade. O IGC não levou isso em conta e não está previsto
em lugar nenhum.
FOLHA - Então a avaliação externa
não está sendo levada em conta?
FIGUEIREDO - A avaliação externa nem foi iniciada. Agora é que
saiu o modelo a ser seguido. Como, então, o MEC vai divulgar
um índice das instituições se
não tem nem o instrumento de
avaliação externa? Esse instrumento, inclusive, por lei está
previsto que deve ser homologado pelo CNE (Conselho Nacional da Educação), e na verdade está sendo adotado por
uma portaria do MEC.
FOLHA - O Sinaes, em si, é ruim?
FIGUEIREDO - Nós sempre defendemos que houvesse uma
avaliação sistêmica de todo o
ensino superior, que levasse
em conta todos os aspectos da
universidade e que fosse permanente. Por iniciativa do governo, foi enviado o projeto de
lei que instituiu o Sinaes. O
projeto foi discutido exaustivamente no Congresso, com participação de universidades públicas, particulares, estudantes,
funcionários, docentes, parlamentares, ONGs etc. Avaliamos como um avanço a aprovação e a vigência da lei do Sinaes.
Mas a divulgação do IGC e do
CPC distorce esse conceito de
avaliação, cria uma competição
artificial entre as universidades
e institui algo que lembra o
Provão, que divulgava apenas a
nota. É um atropelo.
FOLHA - E como deve ser a avaliação do ensino superior?
FIGUEIREDO -
Tem que ser de mão dupla,
ou seja, o MEC tem que dar um
prazo para as universidades resolverem problemas, rearranjarem o projeto pedagógico,
contratarem professores etc. É
assinado um termo de compromisso, que se não for cumprido
deve levar a punições.
Entretanto, já houve casos
recentes na Conaes [Comissão
Nacional de Avaliação da Educação Superior] em que estava
em pauta um processo de criação de um novo curso e o conselheiro negou, dizendo: "Poxa, [a
universidade] teve um IGC fraco, não pode ter mais um curso". Então o IGC começa a servir como um marco regulatório. O IGC foi uma escapatória
para camuflar a incompetência
do MEC, não como instituição,
mas em fazer a avaliação externa de todas as universidades.
FOLHA - O IGC é provisório?
FIGUEIREDO - O MEC diz que é
provisório, mas não é. Ele está
na imprensa, inclusive em rankings, mas não está previsto em
lei. O MEC, para fazer o IGC,
utilizou a nota do Enade, que é
uma nota-conceito de 1 a 5, e
decompôs pela percepção que o
aluno tem da universidade. Essa percepção é medida pelo
questionário que o aluno responde na hora da prova, em que
ele faz uma avaliação dos laboratórios, da infra-estrutura da
universidade etc. O MEC estabeleceu aleatoriamente pesos
para a percepção que o aluno
tem e a partir daí criou o IGC.
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