São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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Número de paulistanos que associam imagem da cidade a coisas negativas subiu de 50% para 76% em três anos; agora, 64% dizem que deixariam São Paulo de tivessem meio para isso
Desânimo - Violência e desemprego pioram imagem da cidade

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Edifício na rua General Osório, no centro velho, exibe os sinais de deterioração da cidade


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Se a imagem de São Paulo já era ruim entre seus moradores quando o Plano Real estava no auge e Paulo Maluf (PPB) entregava a prefeitura ao discípulo que fizera tudo para eleger, ficou ainda pior após três anos de crise econômica, explosão da violência e administração Celso Pitta (PTN).
Pesquisa Datafolha sobre a identidade da metrópole indica que 76% dos paulistanos associam a cidade a algo negativo quando lhes perguntam a primeira idéia que vem à cabeça quando pensam em São Paulo. Apenas 11% de seus habitantes mencionam aspectos positivos -menos da metade que há três anos.
A pesquisa foi feita no dia 14, com 1.105 entrevistas. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Em janeiro de 1997, outra pesquisa Datafolha de igual teor mostrava que "apenas" 50% das respostas se referiam a coisas ruins, enquanto 24% citavam coisas boas. Desde então, dois problemas emergentes ocuparam o imaginário do paulistano: violência e desemprego.
Há três anos, 17% diziam que assaltos, crimes e insegurança eram a primeira coisa de que lembravam ao falar da cidade. Hoje esse percentual é quase o dobro: 29% associam imediatamente São Paulo à violência.
E não foi sem motivo que isso aconteceu. Apenas para citar os casos mais graves, entre 1996 e 1999 o número de assassinatos na cidade aumentou de 4.855 para 5.704 -ou 849 mortes (17%) a mais por ano.
Os mais sensíveis ao aumento da violência são os mais pobres, menos escolarizados e moradores da zona Leste.
No mesmo período, os paulistanos entrevistados pelo Datafolha que ligavam São Paulo à falta de emprego quase triplicou. Foram de 5% para 13%. O mais irônico é que, em 1997, a oportunidade de emprego era justamente o aspecto positivo mais mencionado, por 12% de seus moradores.
Também não foi à toa. Em dezembro de 1996, os indicadores da Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados) mostravam que o desemprego na capital era de 13,5%. Em dezembro de 1999 a taxa já subira 20%, para 16,2% da População Economicamente Ativa.
Segundo o Datafolha, os que mais associam esse problema à cidade são os homens entre 26 e 40 anos, os com menos anos de estudo e os que moram na zona sul da capital paulista.
Mas não foram insegurança e desemprego que aumentaram as preocupações do paulistano nesses três anos. Problemas específicos relacionados à administração da cidade também cresceram, de 9% para 16% das citações. Os mais frequentes são enchentes (7%) e sujeira (4%). E quem mais reclamam são as mulheres.
À piora da auto-estima da cidade correspondeu um aumento da vontade dos paulistanos de morar em outro lugar. Em 1997, a maioria (59%) já afirmava que mudaria de cidade se pudesse. Agora, praticamente 2 a cada 3 moradores (64%) deixariam São Paulo se tivessem meios.
Desses, a maior parte diz que iria viver em outra cidade do Estado de São Paulo (26% do total de paulistanos). Os outros destinos preferidos são alguns dos Estados que forneceram mais migrantes para a metrópole: Bahia, Minas Gerais e Paraná.
Mesmo com todos os percentuais indicando uma piora das condições de vida, a nota média conferida pelos paulistanos à sua cidade seria mais do que suficiente para um estudante passar de ano: 7,2. E quase não mudou. Era 7,4 em 1997.
Outro sinal de que o grau de exigência do paulistano com sua cidade não é alto é o percentual dos que dizem estar muito satisfeitos de morar em São Paulo: 30%.
Mesmo levando-se em conta que esse percentual era de 41% em 1997, trata-se de uma fatia bastante grande da população quando comparada aos meros 17% que afirmam estar nada satisfeitos com a cidade. Outros 53% dizem estar um pouco satisfeitos.
Curiosamente, só 69% desses últimos afirmam que mudariam para outro município se pudessem.
Os resultados parecem contraditórios, mas podem ser explicados pelas próprias contradições da cidade. Sua principal vantagem é, ao mesmo tempo, uma de suas maiores desvantagens: o mercado de trabalho.
Para quem está empregado, a oportunidade de trabalhar é uma vantagem, como dizem 38% dos paulistanos. Para quem não está, uma desvantagem -como afirmam outros 11%.


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