São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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Só 9% nunca foram a um shopping; desses, a maioria tem mais de 40 anos, frequentou pouco a escola e mora na periferia
Medo e falta de opção levam a shopping

da Reportagem Local

Na cidade mais populosa do "país do futebol", 57% da população com 16 anos ou mais nunca pôs os pés em um estádio, mas 90% de seus moradores já estiveram em um shopping. É o que mostra a pesquisa Datafolha sobre a identidade de São Paulo.
A comparação pode parecer descabida, já que 75% das mulheres (cerca de metade da população) nunca foram a um jogo de futebol. Mas, mesmo comparando-se apenas os homens, o shopping ganha de goleada: 89% deles já estiveram em um desses centros comerciais, contra 37% que jamais entraram num estádio.
Além de ser uma das principais alternativas de lazer do paulistano, o ato de ir ao shopping foi, entre os pesquisados pelo Datafolha, o menos afetado pelo medo da violência e pela crise econômica. Talvez tenha até se beneficiado.
Mais pessoas (26%) dizem que passaram a frequentar os shoppings com mais assiduidade nos últimos anos do que o contrário (21%). Outros 43% responderam que a frequência não mudou.
Apenas 9% afirmaram que jamais foram a um shopping. Desses, a maioria tem mais de 40 anos, frequentou pouco a escola, tem renda familiar inferior a 10 salários mínimos e mora na periferia. Ou seja: nunca foi por causa da exclusão social.
Assistir a uma partida de futebol no estádio, ir ao cinema e frequentar bares e restaurantes não só são atividades menos comuns na rotina do paulistano do que ir ao shopping center como, segundo a pesquisa, vêm perdendo adeptos.
No caso do cinema, por exemplo, 34% dos entrevistados afirmaram ter diminuído a frequência com que vão às salas nos últimos anos, contra 8% que disseram ter aumentado. Além disso, 33% não mudaram o hábito, e 23% nunca foram.
Para bares e restaurantes, a relação é de 16% que dizem estar frequentando mais, contra 30% que dizem estar frequentando menos (17% nunca foram). Para os estádios, a proporção é de 6% a 17%, respectivamente.

Filas no futebol
No caso do futebol, a principal causa da diminuição da frequência é a falta de segurança. Mas não a única: 22% dos que têm ido menos ao estádio dizem que as filas têm grande influência -um percentual maior do que para os cinemas, bares e restaurantes.
Em uma cidade onde a violência é um dos maiores medos da população, é compreensível que um ambiente isolado e que ostenta uma força de segurança particular, como o shopping, se torne cada vez mais popular: 63% vão ao menos uma vez por mês (dos quais um terço dos entrevistados vai toda semana).
Mas a pesquisa Datafolha mostra que nem o shopping passa incólume pelo medo da violência: 41% dos que diminuíram sua frequência a esses centros dizem que a insegurança foi um fator fundamental. Mais pessoas, porém, disseram que deixaram de ir por causa da falta de dinheiro: 66%.
Apesar de tudo, ir ao shopping é mais uma alternativa à carência de opções de lazer do que de preferência.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)

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