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Enredo segue vontade do cliente
DA SUCURSAL DO RIO
A escolha de enredos por determinação de um patrocinador é
um dos pontos mais criticados
nas atuais escolas de samba do
grupo especial do Rio.
Neste ano, grandes empresas ou
instituições patrocinam escolas
em troca de merchandising. Os
destaques são a Nestlé (Grande
Rio), a Petrobras (Mangueira), a
TIM (Mocidade Independente) e
até a ONU (Organização das Nações Unidas). Governos e prefeituras já vinham usando esse espaço para divulgar suas belezas naturais e qualidade de vida -numa tentativa de atrair visitantes.
Para o sambista Elton Medeiros,
74, esse tipo de patrocínio faz com
que prevaleça a "vontade do
cliente". "A escola de samba vira
um veículo que atende aos interesses do cliente, uma empresa ou
um governo. É uma propaganda
subliminar. Essa ação esconde os
interesses e massacra a cultura
popular", afirma Medeiros.
Sambista revalorizado
Aluizio Machado, 65, que foi
por dez vezes vencedor da disputa
de sambas-enredo na Império
Serrano, diz que seu conhecido
"Bum Bum Paticumbum Prugurundum", que compôs com Beto
Sem Braço para o Carnaval de
1982, preconizou o cenário que se
firmaria nas décadas seguintes.
"O Beto nem queria o verso que
falava em "superescolas de samba
S.A.", mas essa era é a verdade.
Hoje, uma escola fica querendo
arrumar patrocínio de prefeitura
e você tem que descobrir o que dizer sobre tal cidade. Nem sempre
isso dá samba. Se dá, não convence. Uma semana depois do Carnaval, ninguém se lembra de mais
samba nenhum", critica o compositor, para quem "Kizomba", o
samba campeão de 88 da Vila Isabel, foi o único depois de "Bum
Bum" a entrar para a história.
"Mas ainda acredito que vamos
voltar ao princípio de tudo e o
sambista vai ser revalorizado",
afirma Machado.
Desde os anos 90, as escolas deixaram de ser amadoras, bancadas
por bicheiros, vivendo da arrecadação da venda de ingressos na
quadra de ensaios.
"Surge o enredo patrocinado,
no qual a escola recebe uma subvenção importante para poder
colocar o Carnaval na rua e fazer
um merchandising indireto. A
idéia nem vem do carnavalesco,
que só desenvolve o tal enredo",
disse Aloysio Felix, pesquisador
da Uerj (Universidade Estadual
do Rio de Janeiro).
(AC)
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