São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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BARBARA GANCIA

Fica, Suplicy, fica!


Kaká fez mais pelas relações entre Brasil e Itália do que todos os embaixadores que passaram pela piazza Navona

FOI SÉRIA , unânime e muito mais incisiva do que Tarso Genro poderia imaginar a reação dos italianos à decisão da Justiça brasileira, que concedeu asilo ao fugitivo Cesare Battisti.
Confesso que nunca tinha visto a Itália com tanta raiva do Brasil.
Mesmo quando batemos os italianos em finais de Copa do Mundo (em 1970 e 1994), eles nunca nos odiaram. Para o italiano, até ontem, o Brasil era um país maravilhoso que ele sonhava conhecer um dia.
Uma assinatura de Tarso Genro foi o que bastou para mudar a imagem de uma gente simpática e calorosa que eles faziam de nós. Agora somos vistos como injustos e desrespeitosos. Da noite para o dia, e por um bom motivo, viramos um país que não gosta da Itália, sendo que São Paulo tem mais italianos pelas ruas do que a própria Milão.
Do tom duríssimo da carta enviada a Lula pelo presidente Giorgio Napolitano, que, note, é comunista, à greve de fome iniciada na terça-feira por quatro membros do conservador MPI (Movimento pela Itália), passando pela manifestação de ontem em frente à embaixada brasileira da piazza Navona, em Roma, multiplicam-se os protestos contra a concessão de refúgio político a um condenado pela lei italiana.
Neste momento, em que não só a Itália mas toda a Comunidade Europeia voltam a nos considerar um país de bananeiros diletantes, eu levanto as mãos aos céus pela decisão do jogador Kaká.
Santo Kaká do chute certeiro! Ao desprezar a oferta milionária de um time inglês e reafirmar o seu amor pelo Milan, alegando que não é movido só por dinheiro e que sente-se feliz onde está, Kaká fez mais pelas relações entre Brasil e Itália do que todos os embaixadores que já passaram pela piazza Navona.
Tudo bem, estou exagerando como boa descendente de italianos que sou. Mas estou certa de que a italianíssima dona Marisa Letícia, nossa primeira-dama tão familiarizada com as nuances do temperamento peninsular, saberia compreender minha hipérbole. Com sua atitude, Kaká não só fez bem à imagem do país mas, talvez, nestes tempos de crise, tenha estabelecido um novo paradigma para o esporte.
Só temo que o gesto do atleta possa ser ofuscado por outra iniciativa, de cunho autopromocional (e, quiçá, recreativo), como tantas que já vimos nos últimos anos.
Explico: recebi da assessoria de imprensa do senador Eduardo Suplicy cópia da carta que ele enviou ao embaixador italiano em Brasília, Michele Valensise, expressando seu desejo de ir à Itália "para expor às autoridades as razões que fundamentaram a decisão do governo brasileiro". Veja o que mais ele diz: "Sugiro, também, um encontro com o primeiro-ministro Silvio Berlusconi (...) Como senador de origem italiana, bisneto de Francesco Matarazzo e neto de Andrea Matarazzo, que vieram ao Brasil em 1881, e representante do povo de São Paulo, Estado com a maior colônia de imigrantes italianos no Brasil, considero importante que a relação entre os países não seja afetada".
Alô, senador Suplicy! Respeitosamente agradeço, mas, como filha de italianos e paulistana, no que me diz respeito, o senhor pode economizar a milhagem e a Samsonite.

barbara@uol.com.br

www.barbaragancia.com.br


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