São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL

Em ano de eleição, escola de samba presidida por tucano fala sobre o rio Tietê e exalta o governador e o prefeito

Desfile vira palanque para Alckmin e Serra

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O segundo dia de desfile das escolas de samba do Carnaval de São Paulo promete polêmica ao misturar, num ano de eleições, a festa tradicional com política.
A Leandro de Itaquera, agremiação da zona leste "simpatizante" do PSDB e que, como as demais, recebe dinheiro dos cofres públicos para preparar a sua apresentação, vai exaltar os dois presidenciáveis do partido: Geraldo Alckmin, governador, e José Serra, prefeito, que estarão representados por bonecos gigantes em um dos carros alegóricos.
O próprio enredo, aliás, aborda uma das principais vitrines eleitorais de Alckmin -as obras de rebaixamento da calha do Tietê.
O rio já havia sido tema da Leandro nos anos 90, mas a escola resolveu fazer uma repetição com "roupagem" diferenciada. Vai falar das festas populares do Estado por meio das águas de "um novo Tietê", diz seu enredo.
O carnavalesco Anderson Paulino diz que a escolha foi um "pedido" de Alckmin. O presidente, Leandro Alves Martins, nega.
Filiado ao PSDB, Martins comanda a Leandro desde a sua fundação, em 1982. Em 2002, também ano de eleições, a escola homenageou Mário Covas, governador tucano morto em 2001.
Em 2004, "seu Leandro" foi candidato derrotado do partido a vereador. Mas não desanimou e levou a bateria da escola de samba para a festa da vitória de Serra.
Martins nega a conotação política do desfile. "É tudo dentro do enredo. É a história concreta, não é nada abstrato. O presidente é partidário, mas a escola é apartidária", diz ele, que afirma ter feito um boneco com Lula anos atrás.
Martins diz não ter preferência na disputa entre Alckmin e Serra. "Sou um soldado. O candidato que for escolhido eu ajudo."
O carnavalesco Paulino não respondeu de imediato ao ser questionado sobre por que a escola preparou um boneco de Serra -já que a obra no Tietê é do governo. Em seguida, citou que ele teve um "desempenho" no projeto e, sem saber dar detalhes, que a prefeitura prometeu um terreno para a Leandro. Assim como a gestão Serra, Martins nega.
Mas por que, então, um boneco do Serra? "São Paulo tem duas grandes festas populares: parada gay e Carnaval. Elas são de responsabilidade da prefeitura."
No site da Leandro, Martins é só elogios a Alckmin. "Tamanha dedicação do nosso governador não poderia passar despercebida pela minha comunidade", afirma.
A Leandro diz que recebeu da prefeitura cerca de R$ 300 mil para desfilar no Anhembi, cerca de metade de seus gastos. O valor, diz, é igual ao dado às demais.


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