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No Rio, diretora cai após divulgar recorde de mortos pela polícia
Exonerada, Ana Paula Miranda afirmou que a confiabilidade dos dados de violência "correm risco" após sua saída da pasta
Para o secretário de segurança, o instituto deve ter um perfil "mais técnico'; ex-comandante do Bope é nomeado para a direção
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Exonerada do cargo ontem
pela Secretaria de Segurança
do Rio, a diretora-presidente
do Instituto de Segurança Pública, Ana Paula Miranda, afirmou que a confiabilidade dos
dados de violência "correm risco" após sua saída da pasta.
Foi nomeado para a direção
do instituto, responsável pela
divulgação dos dados criminais
do Estado, o ex-comandante do
Bope (Batalhão de Operações
Especiais da PM) coronel Mario Sérgio Duarte.
A demissão é anunciada após
o Rio registrar o número recorde de mortos pela polícia desde
que o levantamento é realizado
pelo ISP, há dez anos. "Quem
vai confiar na checagem dos autos de resistência?", questionou Miranda. O secretário José
Mariano Beltrame disse que a
transparência dos dados está
"garantida".
O ISP contabiliza os registros
das delegacias informatizadas.
O Grupo Executivo Delegacia
Legal digita as ocorrências das
delegacias tradicionais. O dado
é checado pela corregedoria e
pelo ISP. A digitação dos dados
está atrasada quatro meses. Detectou-se que 60 registros de
novembro, 700 de dezembro e
2.000 de janeiro permanecem
fora do relatório recebido pelo
instituto.
"Checamos os principais dados como seqüestro, roubo a
banco, homicídio, auto de resistência. Um trabalho como esse
pode ser facilmente destruído",
disse Miranda.
Perfil técnico
O argumento do secretário
para exonerar Miranda -no
cargo desde junho de 2004-
foi de que o instituto deveria ter
um perfil "mais técnico e menos acadêmico".
"Nós necessitamos ter informações gerenciais. Eu preciso
dizer a um comandante de uma
determinada área ou a um delegado de uma determinada região não simplesmente um dado frio de uma estatística, e sim
de uma análise criminal. (...)
Não quero dizer que essas informações não existiam, sempre existiram, mas quero que
elas tenham tratamento gerencial", disse Beltrame.
Miranda apresentou um projeto de geoprocessamento de
dados em que localiza em um
mapa o local de cada ocorrência. O programa seria disponibilizado na internet. O policial,
com uma senha, acessaria o
banco de dados e poderia fazer
uma análise do mapa de ocorrências definindo dia, local e
hora a ser estudado.
O projeto apresentado em setembro à secretaria está parado
na Polícia Civil desde dezembro. "Mais técnico, mais policial do que isso eu não conheço.
Não faço idéia porque este projeto está parado até hoje", disse.
"A concepção de que a segurança é só tiro, enfrentamento,
não está inclusive de acordo
com o Pronasci [Programa Nacional de Segurança e Cidadania]. Esse estudo passa pelo
trabalho acadêmico, sim. Ou as
pessoas tomaram horror dos
pesquisadores? Eu não vou rasgar o meu diploma", afirmou
Miranda, doutora em antropologia pela USP (Universidade
de São Paulo).
A secretaria informou, por
meio de sua assessoria de imprensa, que espera uma ação
mais "pró-ativa" do ISP. Atualmente, o instituto responde aos
pedidos de informações dos policiais. "Não sou eu que tenho
que falar o que está acontecendo, até porque a polícia não
aceitaria isso", disse Miranda.
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