São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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No Rio, diretora cai após divulgar recorde de mortos pela polícia

Exonerada, Ana Paula Miranda afirmou que a confiabilidade dos dados de violência "correm risco" após sua saída da pasta

Para o secretário de segurança, o instituto deve ter um perfil "mais técnico'; ex-comandante do Bope é nomeado para a direção

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Exonerada do cargo ontem pela Secretaria de Segurança do Rio, a diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública, Ana Paula Miranda, afirmou que a confiabilidade dos dados de violência "correm risco" após sua saída da pasta.
Foi nomeado para a direção do instituto, responsável pela divulgação dos dados criminais do Estado, o ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) coronel Mario Sérgio Duarte.
A demissão é anunciada após o Rio registrar o número recorde de mortos pela polícia desde que o levantamento é realizado pelo ISP, há dez anos. "Quem vai confiar na checagem dos autos de resistência?", questionou Miranda. O secretário José Mariano Beltrame disse que a transparência dos dados está "garantida".
O ISP contabiliza os registros das delegacias informatizadas. O Grupo Executivo Delegacia Legal digita as ocorrências das delegacias tradicionais. O dado é checado pela corregedoria e pelo ISP. A digitação dos dados está atrasada quatro meses. Detectou-se que 60 registros de novembro, 700 de dezembro e 2.000 de janeiro permanecem fora do relatório recebido pelo instituto.
"Checamos os principais dados como seqüestro, roubo a banco, homicídio, auto de resistência. Um trabalho como esse pode ser facilmente destruído", disse Miranda.

Perfil técnico
O argumento do secretário para exonerar Miranda -no cargo desde junho de 2004- foi de que o instituto deveria ter um perfil "mais técnico e menos acadêmico".
"Nós necessitamos ter informações gerenciais. Eu preciso dizer a um comandante de uma determinada área ou a um delegado de uma determinada região não simplesmente um dado frio de uma estatística, e sim de uma análise criminal. (...) Não quero dizer que essas informações não existiam, sempre existiram, mas quero que elas tenham tratamento gerencial", disse Beltrame.
Miranda apresentou um projeto de geoprocessamento de dados em que localiza em um mapa o local de cada ocorrência. O programa seria disponibilizado na internet. O policial, com uma senha, acessaria o banco de dados e poderia fazer uma análise do mapa de ocorrências definindo dia, local e hora a ser estudado.
O projeto apresentado em setembro à secretaria está parado na Polícia Civil desde dezembro. "Mais técnico, mais policial do que isso eu não conheço. Não faço idéia porque este projeto está parado até hoje", disse.
"A concepção de que a segurança é só tiro, enfrentamento, não está inclusive de acordo com o Pronasci [Programa Nacional de Segurança e Cidadania]. Esse estudo passa pelo trabalho acadêmico, sim. Ou as pessoas tomaram horror dos pesquisadores? Eu não vou rasgar o meu diploma", afirmou Miranda, doutora em antropologia pela USP (Universidade de São Paulo).
A secretaria informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que espera uma ação mais "pró-ativa" do ISP. Atualmente, o instituto responde aos pedidos de informações dos policiais. "Não sou eu que tenho que falar o que está acontecendo, até porque a polícia não aceitaria isso", disse Miranda.


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