São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Transexual vai à Justiça para voltar à FAB

Maria Luiza da Silva, cabo da Aeronáutica, foi aposentada compulsoriamente, segundo ela, de forma discriminatória

Transexual afirma que mudança de sexo foi recebida com "surpresa" no meio militar; cirurgia foi realizada em 2005

FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA

A transexual Maria Luiza da Silva, uma cabo da Aeronáutica que se chamava José Carlos da Silva até o ano passado, luta na Justiça para voltar a integrar a Força Aérea Brasileira -após ter sido aposentada compulsoriamente, segundo ela, de forma discriminatória.
Maria Luiza, 47, é goiana e serviu as Forças Armadas em Brasília durante mais de 20 anos. Há três anos foi submetida a uma cirurgia para mudança de sexo. E, há três semanas, conseguiu que a Aeronáutica mudasse em seus registros o sexo e o nome para os atuais.
Em 2000, época em que começou a "transição" -passou a se vestir como mulher-, foi reformada (tipo de aposentadoria militar) e perdeu parte do salário. Uma junta de médicos considerou-a inapta para o serviço de manutenção de aviões.
Ela afirma que o laudo é contraditório, já que fala em "incapacidade" para o trabalho militar, mas permite esforço físico. "Como posso exercer atividade física, mas não posso continuar no meu trabalho?", questiona. "Foi um ato de preconceito e discriminação."
Quando foi reformada, diz que teve redução de quase 50% na remuneração. Por meio de decisão judicial, recuperou o pagamento integral. No ano passado, também conseguiu na Justiça mudar o sexo e o nome em seus documentos civis.
O transexual nasce com sexo definido, sem anomalias, mas vê sua identidade como a de uma pessoa do sexo oposto.
Maria Luiza pretende ser reintegrada à ativa da Aeronáutica, mas agora na ala feminina da corporação.
Antes da cirurgia, ocorrida em abril de 2005 em Goiânia, passou por psicoterapia e avaliações psiquiátricas, que indicaram a operação para alteração de sexo.
Maria Luiza conta que a mudança foi recebida com "surpresa" no meio militar e que houve preconceito de "parte" dos colegas. Mas diz que manteve os amigos do período anterior de sua vida. "Desde o processo de transformação, quase todos [amigos] continuam os mesmos. Tanto homens quanto mulheres."
A transexual não tinha intenção de seguir carreira militar. Entrou nas Forças Armadas por conta do serviço obrigatório. Dentro da instituição, se interessou por aviação e prosseguiu na área. Hoje diz não ter rancor da FAB -o ressentimento é contra a junta médica.
Atualmente sua principal ocupação é um trabalho voluntário em um hospital de Brasília, com pessoas com transtorno de identidade sexual.


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