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caracas
Rodízio parcial cai por decisão da Justiça
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Após nove dias em São
Paulo no início do mês, a
funcionária pública venezuelana Belkis Rodríguez,
23, voltou a Caracas quase
elogiando o trânsito paulistano. "Lá [em São Paulo] não é tão catastrófico, o
trânsito flui melhor. Além
disso, somos toscos para
respeitar os semáforos."
Moradora da cidade
Guatire, a 40 km do trabalho, Rodríguez é uma das
milhões de vítimas do inferno de carros da capital
venezuelana, alimentado
por um aumento vertiginoso da frota, pela falta de
políticas públicas e pela
gasolina quase gratuita -o
litro custa R$ 0,07-, pela
confusa estrutura administrativa e pela imprudência dos motoristas.
Às 4h30 da manhã, Rodríguez já está no terminal
de ônibus, onde é obrigada
a esperar entre 45 minutos e uma hora na fila até
conseguir embarcar rumo
a Caracas. A viagem dura
em média 1h15 para percorrer os 40 km até a estação de metrô mais próxima, a de Petare. Num dia
de trânsito normal, Rodríguez chega ao trabalho ás
7h. Sem trânsito, o percurso de carro é de 25 minutos, já que o trajeto é feito
em pistas expressas.
Todos apontam o aumento vertiginoso da frota
como principal motivo da
deterioração do trânsito
caraquenho. Sob o "socialismo do século 21" de Hugo Chávez, as vendas do
talvez maior símbolo capitalista aumentaram 81%
no ano passado em relação
a 2006. Beneficiado pela
bonança petroleira e pelas
taxas de juros negativas
(menores do que a inflação), o volume de vendas é
tão alto que a espera por
um veículo novo pode levar vários meses, e um carro usado pode sair 20%
mais caro do que um zero
quilômetro por causa da
pronta entrega.
Mas o trânsito caótico
também deve muito à confusa administração da cidade de 4,5 milhões, fatiada entre cinco munícipios
com prefeitos eleitos e
ainda um governador do
Distrito Federal.
A partir do ano passado,
os dois prefeitos antichavistas, que controlam as
áreas mais ricas da cidade
e fora da região central,
implantaram unilateralmente um sistema de rodízio de veículos -batizado
de "pico y placa".
As duas cidades, porém,
foram obrigadas a suspender o "pico y placa" por
causa de decisões judiciais. A última grande avenida em Caracas foi inaugurada há 33 anos.
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