São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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caracas

Rodízio parcial cai por decisão da Justiça

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Após nove dias em São Paulo no início do mês, a funcionária pública venezuelana Belkis Rodríguez, 23, voltou a Caracas quase elogiando o trânsito paulistano. "Lá [em São Paulo] não é tão catastrófico, o trânsito flui melhor. Além disso, somos toscos para respeitar os semáforos."
Moradora da cidade Guatire, a 40 km do trabalho, Rodríguez é uma das milhões de vítimas do inferno de carros da capital venezuelana, alimentado por um aumento vertiginoso da frota, pela falta de políticas públicas e pela gasolina quase gratuita -o litro custa R$ 0,07-, pela confusa estrutura administrativa e pela imprudência dos motoristas.
Às 4h30 da manhã, Rodríguez já está no terminal de ônibus, onde é obrigada a esperar entre 45 minutos e uma hora na fila até conseguir embarcar rumo a Caracas. A viagem dura em média 1h15 para percorrer os 40 km até a estação de metrô mais próxima, a de Petare. Num dia de trânsito normal, Rodríguez chega ao trabalho ás 7h. Sem trânsito, o percurso de carro é de 25 minutos, já que o trajeto é feito em pistas expressas.
Todos apontam o aumento vertiginoso da frota como principal motivo da deterioração do trânsito caraquenho. Sob o "socialismo do século 21" de Hugo Chávez, as vendas do talvez maior símbolo capitalista aumentaram 81% no ano passado em relação a 2006. Beneficiado pela bonança petroleira e pelas taxas de juros negativas (menores do que a inflação), o volume de vendas é tão alto que a espera por um veículo novo pode levar vários meses, e um carro usado pode sair 20% mais caro do que um zero quilômetro por causa da pronta entrega.
Mas o trânsito caótico também deve muito à confusa administração da cidade de 4,5 milhões, fatiada entre cinco munícipios com prefeitos eleitos e ainda um governador do Distrito Federal.
A partir do ano passado, os dois prefeitos antichavistas, que controlam as áreas mais ricas da cidade e fora da região central, implantaram unilateralmente um sistema de rodízio de veículos -batizado de "pico y placa".
As duas cidades, porém, foram obrigadas a suspender o "pico y placa" por causa de decisões judiciais. A última grande avenida em Caracas foi inaugurada há 33 anos.


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