São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2011

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SP registra "fuga" de delegados de polícia

Nos últimos cinco anos, Estado tem um pedido de saída do cargo a cada 14 dias; associação critica salário

Delegacia Geral diz que aumentará exigência para ingresso na polícia e que pretende tornar carreira mais atrativa

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
VENCESLAU BORLINA FILHO
HÉLIA ARAUJO

DE RIBEIRÃO PRETO

Marcos Araguari tornou-se, em 2004, delegado de polícia de São Paulo após aprovação em um dos mais concorridos concursos do país. Quatro anos depois, mudou-se para o Paraná para recomeçar a carreira de delegado.
Ele trocou um salário de R$ 4.000 [à época] por um de R$ 11 mil. "Saí porque não dava mais. Aquele salário não era condizente", disse.
Araguari é um exemplo do que vem ocorrendo a cada 14 dias em São Paulo, em média, nos últimos cinco anos, segundo dados da polícia e da associação de delegados. Nos últimos cinco anos, o Estado perdeu 126 delegados.
O principal motivo da saída, segundo os representantes de classe, é o baixo salário. O destino são outras carreiras -como promotores e juízes-, ou a mesma, mas em Estados que pagam mais.
O Estado tem 3.196 delegados com salário inicial de R$ 5.495 e teto de R$ 10.148,78.
Dos 180 delegados efetivados no último concurso, em 2009, 34 (19%) já deixaram o cargo, segundo a associação.

DEBANDADA
Para os policiais, essa debandada nunca foi tão grande. "O governo acha que abrindo um concurso para contratar 140 delegados [a inscrição foi aberta neste mês] resolve a questão. Esses novos contratados vão entrar, ficar por um tempo e depois vão embora", disse a presidente da associação dos delegados, Marilda Pinheiro.
"Só fica quem não tem mais idade para prestar concurso, já deu seu sangue e não tem alternativa", disse.
A Delegacia Geral diz que vai tentar evitar esse êxodo tornando a carreira mais atrativa, ao mesmo tempo em que criará mais dificuldade para o ingresso na polícia.
"Para ser policial, vai ter que estar dentro de requisitos. Não apenas arrumar um emprego. Várias pessoas acham que entrar na polícia é arrumar um emprego temporário", diz o delegado-geral, Marcos Carneiro Lima.
Para o desembargador aposentado Aloísio de Toledo César, 70, a polícia paulista deveria adotar o modelo da Polícia Federal. "Antes, a PF era uma porcaria. Depois, equipararam os policiais a juízes e hoje a PF tem uma atuação exemplar", disse.
Para o presidente da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), o paulista Carlos Eduardo Benito Jorge, a situação é séria. "Essa debandada se agravou nos últimos quatro, cinco anos. É gravíssimo que num ano mais de 30 delegados deixem a profissão", disse.
A Secretaria da Segurança Pública não comentou o assunto. A pasta disse que seu o orçamento para 2011 é de "R$ 11,9 bilhões, sendo, R$ 9,9 bilhões para salários".


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