São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANUZA LEÃO

Eles merecem

Vejo na TV que o governo do Irã ameaça cortar as mãos dos agressores ao país. Uma idéia cruel, sem dúvida, mas a pensar. Como somos um povo de boa índole, venho sugerir punição mais branda para os membros da quadrilha, e em duas etapas: a primeira delas seria dar umas boas chicotadas nos criminosos em praça pública.
Alguns deputados foram cassados, outros renunciaram, e vai ficar tudo por isso mesmo. E os que conseguiram se safar, revoltando a opinião pública, também vai ficar por isso mesmo? Diante das declarações oficiais de que os integrantes da quadrilha levarão pelo menos dois anos para serem -talvez- punidos e contando com a pressa com que trabalha a Justiça, as chances de castigo são poucas. O processo de Paulo Maluf para devolver aos cofres públicos o valor dos Fuscas que doou aos tricampeões da Copa de 70 levou 36 anos para ser concluído -e o resultado foi favorável a Maluf; se contar a um não-brasileiro, ele vai acreditar?
Acho que bastava ser indiciado para começar a ser punido, levando chicotadas com aqueles chicotes com um metalzinho na ponta, que não mata ninguém, e em praça pública. O castigo poderia acontecer em duas etapas: a primeira em Brasília, na praça dos Três Poderes, e a segunda no curral eleitoral de cada nobre parlamentar, com seus eleitores vendo a cena de olhos bem abertos, para entender o que está acontecendo. Esses, coitados, de tão humildes, não costumam ler jornais por serem analfabetos -e a educação, hein, Lula?-, mas acabariam entendendo por que aquele homem tão importante e poderoso está ali, como um qualquer.
Não, não se está falando de linchamento; apenas de um pouco de justiça, mas justiça com humilhação, para lavar nossa alma.
Haveria um critério: uma chicotada para cada 100.000 dólares roubados não seria demais, seria? Mas quem roubou 50 milhões, vai levar 500 chicotadas?
Ok, dá para negociar: devolvendo o dinheiro, o castigo cai pela metade, 250 chicotadas, mas dadas com raiva. E por falar nisso, não se fala na devolução desse dinheiro. Claro: como devolver dinheiro que foi gasto em passagens de avião, diárias de hotéis, vinhos, charutos? Esquece: esse, nunca mais.
Mas será que é muita maldade esse desejo de vingança? O verdadeiro sentimento cristão talvez aconselhasse o perdão, mas nem pensar. Como não queremos um país de manetas e temos horror a sangue, ficamos contentes com as chicotadas.
Temos muitos corruptos. No passado, eles queriam uma beirada numa negociata para comprar um apartamento, fazer uma viagem. Hoje em dia, eles querem ser donos da sua cidade, do seu Estado, do país inteiro, e detalhe: para sempre.
Em Cingapura, costumam dar chicotadas nas costas dos criminosos. Mas nós, que somos reconhecidamente criativos, vamos fazer diferente: nossos caros políticos chegariam ao local escolhido e, humildemente, baixariam as calças diante da TV que eles tanto adoram, para que o Brasil inteiro os vissem receber o castigo.
É o mínimo que eles merecem, e assim pelo menos uma certeza vamos ter: neles, ninguém nunca mais vai votar.
E a gente quer votar, não quer?
P.S.: No meio de tantos escândalos, faz bem à alma saber que o prefeito de Nova York autorizou a derrubada de parte de um prédio tombado para salvar a gatinha Molly, que estava espremida entre duas paredes há 11 dias, miando, sem conseguir sair do buraco onde tinha caído. O Corpo de Bombeiros foi acionado, Molly saiu toda lampeira e passa bem, obrigado.


E-mail - danuza.leao@uol.com.br


Texto Anterior: Lista de transplantes, na prática, não existe
Próximo Texto: Há 50 anos: Governo pede a extradição de Barros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.