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Doação só ocorre em 28% dos casos
DA REPORTAGEM LOCAL
A auditoria operacional do
TCU mostrou que há sérios problemas para a captação de órgãos
no Brasil. Pela lei, as comissões intra-hospitalares notificadoras de
morte encefálica devem funcionar em todos os hospitais. Levantamento da auditoria mostrou
que em alguns Estados elas não
existem ou funcionam em horário comercial.
Dados do próprio Ministério da
Saúde apontam um subaproveitamento de mortes encefálicas para as doações de órgãos no país:
em 2004, entre as 5.050 registradas, 1.417 resultaram em doações,
um aproveitamento de 28%. O
ideal é que 40% a 45% das mortes
resultem em doações.
"Os Estados agem cada um à
sua maneira. Existem hospitais
que nem fazem a notificação da
morte encefálica porque não há
médicos especializados que consigam confirmar esse diagnóstico.
Se existe o médico, o equipamento que faz esse exame está quebrado. Se tem equipamento, falta papel para a impressão do resultado.
Faltam condições. E, por isso, há
subnotificação", relata Renato
Gomes, vice-presidente da Adote
(Aliança Brasileira pela Doação
de Órgãos e Tecidos).
Outro fator apontado por Gomes é a falta de leitos de UTI para
que os pacientes com morte encefálica possam ser mantidos até
que a equipe de captação de órgãos chegue.
"A demanda de pacientes para
leitos de UTI é muito grande, e a
logística para fazer a captação de
um órgão é muito complexa. Falta
carro, gasolina, avião. Então, muitos hospitais nem notificam [a
morte encefálica], para liberar o
paciente e colocar outro no leito."
Além disso, após a captação, as
exigências não são cumpridas.
Uma delas é que as centrais realizem os exames de antígenos leucocitários humanos (HLA) para
selecionar os receptores de rins.
Mas em Alagoas, Bahia, Sergipe,
Rio de Janeiro e Mato Grosso do
Sul, os exames nem sequer são
realizados, diz o relatório.
Feita a cirurgia, ninguém sabe o
que acontece. A eficácia do transplante depende do uso contínuo
de remédios e acompanhamento
médico constante. Mas só a central de São Paulo coleta dados
de sobrevida dos pacientes
transplantados.
A falta de equipamentos nos
hospitais também é um problema. Desde 2004, o Hospital de Base de Brasília suspendeu cirurgias
para transplante de córnea
-uma das que tem maior fila de
espera no país- por falta do
equipamento chamado trépano.
A questão ainda não foi solucionada, segundo dados apontados
no documento.
Para o médico Sérgio Mies,
membro da Câmara Técnica do
Fígado do Ministério da Saúde e
ex-coordenador da câmara paulista, o sistema nacional é mesmo
desorganizado e "todo mundo está cansado de saber disso".
"É um caos. O sistema é muito
ruim e não é de hoje. Há Estados
que não sabem quantos pacientes
estão na fila ou quantos foram
transplantados e muito menos
quais são os resultados. O país
ainda não foi capaz de um montar
um sistema de acordo com o que
a lei exige. A coisa depende da boa
vontade de cada Estado."
(MD, CC, FB e FL)
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