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ONDE CANTA O SABIÁ
Aves buscam refúgio em SP
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de verde, as grandes
áreas asfaltadas e o ritmo frenético de São Paulo não foram suficientes, por enquanto, para espantar os pássaros da cidade. Observadores ainda têm opções de
lugares para praticar a atividade
mundialmente conhecida como
"bird watching". Na metrópole,
há chance até de apreciar aves raras e ameaçadas de extinção.
Para os que se interessam pelo
tema, até o centro da cidade pode
reservar surpresas agradáveis. Foi
visto recentemente no parque da
Luz um tucano-de-bico-verde,
ave endêmica da mata atlântica.
Na zona oeste, o campus da USP
é outro reduto de pássaros -foram registradas no local 134 espécies. Na região sul, a opção é o Ibirapuera, onde existem 120 espécies diferentes.
Em parques na área urbana, onde os pássaros têm contato com as
pessoas, as aves são mais mansas
e permitem maior aproximação.
Mais afastada e ainda com floresta, a serra da Cantareira é o trecho com maior número de espécies de São Paulo -são aproximadamente 250. "O único problema é que, por se tratar de uma
área de mata, a visualização é
mais difícil. Os bichos ficam escondidos e são mais ariscos. Um
iniciante pode ter certa dificuldade", diz Pedro Develey, biólogo da
Save (Sociedade
para a Conservação das Aves do
Brasil), filiada à
rede Birdlife.
Apesar de ser
possível cruzar
com diferentes tipos de pássaros na
cidade, o número
de espécies tem
diminuído gradativamente. "Havia
400 espécies. Agora, estimo que haja 200", afirma Develey, que lançou
em 2004 o livro
"Aves da Grande
São Paulo", com
273 espécies.
Um grupo de observadores de
aves do CEO (Centro de Estudos
Ornitológicos) da USP esteve na
sexta-feira no parque da Luz, no
centro, e registrou 17 espécies, entre elas o beija-flor-tesourão, o periquito-verde e a maritaca.
Em frente ao parque, na janela
de um edifício, um carcará se exibia para os observadores.
O hobby une no grupo do CEO
médicos, advogados, engenheiros, biólogos, estudantes e donas-de-casa.
"A observação
de aves é uma maneira de relaxar.
Passamos o final
de semana tranqüilos, fazendo
trilhas pela mata",
diz o médico sanitarista Luiz Fernando Figueiredo, 56, um dos
fundadores do
CEO.
A dona-de-casa
June Rodrigues
Alves entrou para
o grupo há dez
anos. Seu objetivo
principal era observar as aves para
depois pintá-las. Nesse período,
conseguiu mapear os pássaros do
seu bairro, o Brooklin (zona sul).
"Existem 56 espécies ao todo. Mas
não tenho visto mais o beija-flor-branco-e-preto, a saíra cabocla e o
saí-azul", afirma.
Para ter mais êxito, os observadores usam roupas discretas, binóculos e gravador. June tem
também um apito especial que
imita o som dos pássaros e os
atrai. Ela usa ainda uma peça de
oficina mecânica (utilizada para
ver embaixo dos carros) para observar ninhos que estão no alto.
O pássaro mais comum da cidade, observado mesmo em bairros
pouco arborizados, é o sabiá-laranjeira. Símbolo do Estado de
São Paulo, essa ave tem um canto
forte. Entre os ameaçados de extinção, aparece no campus da
USP o papagaio cuiú-cuiú.
Segundo Figueiredo, enquanto
muitos pássaros foram expulsos
da capital, aves como o sabiá-laranjeira e o periquito-verde foram
favorecidas pelas alterações do
homem. Elas conseguem se alimentar a partir da vegetação não
nativa, como alguns pinheiros.
Para quem deseja ver os pássaros sem sair de casa, Christian
Dalgas Frisch, co-autor do livro
"Aves Brasileiras e as plantas que
as atraem", dá as dicas. "Para chamar o beija-flor, as pessoas podem plantar camarão-marrom e a
grevilea-anã. Entre as árvores, a
melhor é a espatódea, que fica florida por seis meses."
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