São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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ONDE CANTA O SABIÁ

Aves buscam refúgio em SP

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de verde, as grandes áreas asfaltadas e o ritmo frenético de São Paulo não foram suficientes, por enquanto, para espantar os pássaros da cidade. Observadores ainda têm opções de lugares para praticar a atividade mundialmente conhecida como "bird watching". Na metrópole, há chance até de apreciar aves raras e ameaçadas de extinção.
Para os que se interessam pelo tema, até o centro da cidade pode reservar surpresas agradáveis. Foi visto recentemente no parque da Luz um tucano-de-bico-verde, ave endêmica da mata atlântica.
Na zona oeste, o campus da USP é outro reduto de pássaros -foram registradas no local 134 espécies. Na região sul, a opção é o Ibirapuera, onde existem 120 espécies diferentes.
Em parques na área urbana, onde os pássaros têm contato com as pessoas, as aves são mais mansas e permitem maior aproximação.
Mais afastada e ainda com floresta, a serra da Cantareira é o trecho com maior número de espécies de São Paulo -são aproximadamente 250. "O único problema é que, por se tratar de uma área de mata, a visualização é mais difícil. Os bichos ficam escondidos e são mais ariscos. Um iniciante pode ter certa dificuldade", diz Pedro Develey, biólogo da Save (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil), filiada à rede Birdlife.
Apesar de ser possível cruzar com diferentes tipos de pássaros na cidade, o número de espécies tem diminuído gradativamente. "Havia 400 espécies. Agora, estimo que haja 200", afirma Develey, que lançou em 2004 o livro "Aves da Grande São Paulo", com 273 espécies.
Um grupo de observadores de aves do CEO (Centro de Estudos Ornitológicos) da USP esteve na sexta-feira no parque da Luz, no centro, e registrou 17 espécies, entre elas o beija-flor-tesourão, o periquito-verde e a maritaca.
Em frente ao parque, na janela de um edifício, um carcará se exibia para os observadores.
O hobby une no grupo do CEO médicos, advogados, engenheiros, biólogos, estudantes e donas-de-casa.
"A observação de aves é uma maneira de relaxar. Passamos o final de semana tranqüilos, fazendo trilhas pela mata", diz o médico sanitarista Luiz Fernando Figueiredo, 56, um dos fundadores do CEO.
A dona-de-casa June Rodrigues Alves entrou para o grupo há dez anos. Seu objetivo principal era observar as aves para depois pintá-las. Nesse período, conseguiu mapear os pássaros do seu bairro, o Brooklin (zona sul). "Existem 56 espécies ao todo. Mas não tenho visto mais o beija-flor-branco-e-preto, a saíra cabocla e o saí-azul", afirma.
Para ter mais êxito, os observadores usam roupas discretas, binóculos e gravador. June tem também um apito especial que imita o som dos pássaros e os atrai. Ela usa ainda uma peça de oficina mecânica (utilizada para ver embaixo dos carros) para observar ninhos que estão no alto.
O pássaro mais comum da cidade, observado mesmo em bairros pouco arborizados, é o sabiá-laranjeira. Símbolo do Estado de São Paulo, essa ave tem um canto forte. Entre os ameaçados de extinção, aparece no campus da USP o papagaio cuiú-cuiú.
Segundo Figueiredo, enquanto muitos pássaros foram expulsos da capital, aves como o sabiá-laranjeira e o periquito-verde foram favorecidas pelas alterações do homem. Elas conseguem se alimentar a partir da vegetação não nativa, como alguns pinheiros.
Para quem deseja ver os pássaros sem sair de casa, Christian Dalgas Frisch, co-autor do livro "Aves Brasileiras e as plantas que as atraem", dá as dicas. "Para chamar o beija-flor, as pessoas podem plantar camarão-marrom e a grevilea-anã. Entre as árvores, a melhor é a espatódea, que fica florida por seis meses."


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