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Especialista reconhece os cantos de 400 aves
DA REPORTAGEM LOCAL
Conhecido como o homem dos
pássaros, Johan Dalgas Frisch, 75,
sabe de cor o som de 400 aves e foi
o pioneiro na gravação do canto
de pássaros da América do Sul.
A paixão veio de berço: seu pai,
Svend Frisch, desenhava pássaros
em papel de pão. Hoje, seu filho,
Christian, os fotografa para livros
e atualizou, com computação gráfica, as cores das ilustrações do
avô. Autor de "Aves Brasileiras e
Plantas que as Atraem", ele tem
como canto preferido o do sabiá.
Folha - Como o senhor começou a
se interessar pelo som das aves?
Johan Dalgas Frisch - Aos sete
anos, em um sítio, meus amigos
mataram uma juruviara. Enquanto o sangue dela escorria na minha mão, ouvi o canto condoído
de seu companheiro. Desde então
sei que Deus me deu o dom de ouvir um canto e não o esquecer.
Folha - Qual é a importância desse contato para as pessoas?
Dalgas Frisch - O que importa é
os pássaros voltarem para a cidade. O canto da ave é o mais perfeito, ouvi-lo no clarear do dia abre o
coração das pessoas. Faço apelo
para que as mães plantem jabuticabeiras, amoreiras, pitangueiras.
Seria pena não oferecer às crianças esse leite materno matinal.
Folha - Quem não tem jardim pode atrair as aves?
Dalgas Frisch - Pedaços de mamão, por exemplo, chamam saíras e sabiás. A banana atrai o sanhaço e o arroz, o bem-te-vi.
Folha - Qual é seu som preferido?
Dalgas Frisch - O do sabiá, na
primavera. Já dizia Gonçalves
Dias com a "Canção do Exílio":
"Minha terra tem palmeiras onde
canta o sabiá; as aves que aqui
gorjeiam não gorjeiam como lá".
Folha - É uma ave bem comum...
Dalgas Frisch - Sim, e muito
mansa, fácil de ver. O país não tinha uma ave nacional. Em 2002,
consegui que o presidente Fernando Henrique assinasse o decreto instituindo o sabiá como
pássaro do Brasil. Queriam a ararajuba, mas ela só é vista de Belém
a São Luís. O casal de ararajuba
vale R$ 5.000 hoje. Se fosse a ave-símbolo, valeria US$ 50 mil.
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