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Sonho de virar Gisele atrai 230 meninas a feira no Sul
Em busca de fama, mães desfilam filhas de 4 a 25 anos em evento para modelos
Famílias fazem até serão para juntar R$ 980 e levar crianças a congresso onde serão avaliadas por olheiros de agências de modelos
Bruno Miranda/Folha Imagem
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Aspirantes a modelo assistem a uma palestra durante conferência que reuniu cerca de 500 pessoas em Caxias do Sul (RS) |
NINA LEMOS
ENVIADA ESPECIAL A CAXIAS DO SUL
"Uma de vocês pode ser a nova Gisele Bündchen."
A frase, proferida pelo "booker" da agência de modelos 40
Graus, Sérgio Mattos, despertou suspiros na platéia da
"Conferência Internacional de
Modelos", que reuniu cerca de
500 pessoas, entre aspirantes a
tops e familiares em Caxias do
Sul (RS) no final de semana.
Depois de pagar R$ 980, os
participantes (com idades de 4
a 25 anos) passaram dois dias
ouvindo palestras sobre a vida
de modelos e sendo avaliados
por profissionais de grandes
agências, como Elite, L'Equipe,
Way e a nova-iorquina One.
A imagem de Gisele foi mostrada com exaustão no telão,
com a lembrança de que ela era
do Sul, precisamente de Horizontina, no Paraná. E que, claro, foi descoberta pelo organizador do evento, o caça-talentos Dílson Stein, um dos mais
bem-sucedidos do país.
O sonho beira a obstinação.
"Vou conseguir ser modelo,
acredito nisso", dizia Márcia
Julia, 12, enquanto esperava a
hora de ser fotografada.
Ela veio de excursão de Gravataí (RS) e dizia com orgulho
que mede 1,73 m. E contava que
gosta de usar salto alto desde os
nove anos. Ela e as colegas não
pensam duas vezes antes de dizer o que querem ser: "meu sonho é ser como a Gisele".
Minimodelos
No evento, minimodelos como Márcia passeavam de um
lado para o outro se equilibrando em escarpins altos, usando
calça justa e camiseta.
Enquanto desfilavam na
frente dos "bookers", que as
avaliaram em desfile aberto e
entrevistas individuais, seus familiares beiravam a histeria.
"Bingo, aquele "booker" de
São Paulo anotou o nome do
meu sobrinho", gritava Comercida Johnson, que trouxe o sobrinho de 16 anos. "Me ajuda a
olhar se estão anotando alguma
coisa sobre ele", pedia para a reportagem da Folha.
Além de custar caro, tentar
transformar uma filha em modelo envolve viagens e trabalho
extra. Mas as mães acham que
vale a pena. "Tenho de fazer o
sacrifício para realizar o sonho
dela" é a frase mais repetida.
Algumas, porém, admitem
que o desejo não é exatamente
das filhas. "Eu sonho muito em
ter uma filha modelo", contava
a doméstica Iara Rodrigues,
mãe de Luciara, 12.
Elas peregrinam por vários
concursos e, para isso, fazem
sacrifícios financeiros. "A gente apertou as contas e parcelou
o valor da conferência", revela.
Entre as participantes, poucas teriam a "sorte" de seguir
carreira de modelo. "Se eu sair
daqui com uma menina para
trabalhar em Nova York, me
dou por satisfeito", dizia Sonny
Rodrigues, da agência One.
Sérgio Mattos era mais empolgado. Durante a entrevista,
dizia para as que o agradavam,
mas eram novas demais para o
trabalho: "Você vai ser top!".
As mais novas, com menos
de 15 anos, ficam sob "acompanhamento". "Anoto na ficha
que elas são lindas e devem ser
acompanhadas", disse Hemerson Fabiano, da agência MM,
da ex-empresária de Gisele
Bündchen, Mônica Monteiro.
Isso significa que a agência
vai telefonar, pedir fotos e indicar que estude inglês. A principal preocupação dos "bookers"
é com a altura. "Não temos garantia de que elas vão virar modelos de passarela, mas vale ficar de olho", diz Sonny.
Contrato à vista
Enquanto a maioria conversava com os agentes e depois
era dispensada, algumas tinham motivo para comemorar.
"Você vai ser contratada",
disse Hemerson Fabiano para a
funcionária de uma fábrica de
calçados Damiana Silva, 17, que
ouviu o mesmo de Sérgio Mattos e foi fotografada de corpo
inteiro por Luciana Silva, da
Elite de Nova York.
E no caso das que não deram
a mesma sorte? Os pais acham
que devem continuar tentando.
"Minha filha escolheu essa
profissão desde os dois anos",
diz Nadia Schiwffedecker, que
mora em Gravataí e peregrina
com a filha de 12 anos por vários eventos de modelos. "Vou
tentar realizar o sonho dela o
máximo que puder", dizia,
mostrando fotos da filha aos 10.
A empregada doméstica Nair
Koposesku crê que sua filha
Alessandra, 5, também já esteja
decidida. "Ela quer ser modelo.
Escolheu essa carreira", diz
Nair, que penou para pagar os
R$ 980. "Meu marido é operário e fez serão", conta.
Viagens
As modelos infantis podem
fazer viagens para São Paulo
com os pais ou até se mudar para lá. A hipótese não assusta
Nair. "Se ela quiser, e aparecerem trabalhos, vamos dar um
jeito de realizar seu sonho."
Além da avaliação dos "bookers", os participantes assistiram palestras sobre "assuntos
de modelo", como cirurgia
plástica, com direito a imagens
de implantes de silicone exibidas para crianças, e nutrição.
Na platéia, crianças perguntavam o que fazer para continuar saudável e não engordar.
E mães se preocupavam com a
roupa com que as crianças devem ir a processos de seleção.
Resposta: para as menores, tênis, mas as mais crescidas podem arriscar um saltinho.
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