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Juiz solta hackers, mas exige que leiam obras clássicas
Jovens acusados de roubar senhas pela internet terão de apresentar resumo à Justiça
Primeiras obras são de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa; juiz também os proibiu de freqüentar casas de prostituição e lan houses
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Para conceder liberdade provisória a três jovens detidos sob
a acusação de praticar crimes
pela internet, um juiz federal
do Rio Grande do Norte determinou uma condição inédita:
que os rapazes leiam e resumam, a cada três meses, dois
clássicos da literatura.
As primeiras obras escolhidas pelo juiz Mário Jambo, 49,
foram "A hora e a vez de Augusto Matraga", conto de Guimarães Rosa (1908-1967), e "Vidas
Secas", de Graciliano Ramos
(1892-1953).
Os acusados Paulo Henrique
da Cunha Vieira, 22, Ruan Tales Silva de Oliveira, 23, e Raul
Bezerra de Arruda Júnior, 30,
foram liberados no dia 17, após
nove meses presos por envolvimento na Operação Colossus,
da Polícia Federal. A operação,
deflagrada em agosto de 2007,
investiga uma suposta quadrilha que roubava senhas bancárias pela internet. Foram cumpridos 29 mandados de prisão
no Rio Grande do Norte, São
Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e
Paraíba.
Ao conceder a liberdade provisória aos três jovens, o juiz
listou 12 condições, como não
freqüentar casas de prostituição, lan houses e salas de bate-papo virtual. Jambo, que há
três anos atua como juiz federal, disse que a Justiça precisa
sair da "mesmice".
Três condicionantes se relacionam à educação dos acusados: freqüentar instituição de
ensino, comprovar presença e
aproveitamento nas aulas, ler e
resumir os textos indicados.
Os três rapazes aceitaram as
condições e já estão soltos. Como os jovens são peritos em internet, o magistrado determinou que os relatórios sobre as
obras deverão ser feitos pelos
jovens de próprio punho.
Sobre a escolha das obras de
Ramos e Rosa, o juiz destacou o
caráter educativo. "Nada como
ler um "Vidas Secas" para perceber o que é vida dura, o que é
necessidade de dinheiro."
Segundo Jefferson Witame
Gomes Júnior, advogado de
Oliveira, seu cliente ainda não
se matriculou na faculdade,
mas já comprou os livros. "a decisão [judicial] foi uma forma
de integrá-los à sociedade e
uma redenção, porque já não
há educação no Brasil. Uma decisão dessas favorece jovens a
utilizar a inteligência para fins
positivos."
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