São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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TRANSPORTE

Destino da receita mensal de R$ 1,9 milhão vai depender da adesão dos trabalhadores ao convênio médico da categoria

Viações podem lucrar com decisão de Marta

ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo depois de abrir mão de uma receita mensal de R$ 1,9 milhão para evitar uma greve de ônibus em São Paulo, a prefeitura não terá garantias de que esse dinheiro será repassado integralmente pelas viações em benefício dos motoristas e cobradores.
O destino da verba vai depender da adesão dos trabalhadores ao convênio médico da categoria.
A administração Marta Suplicy (PT) aceitou anteontem abdicar da retenção de R$ 0,02 da passagem de R$ 1,40, totalizando R$ 1,9 milhão por mês, para que as empresas de ônibus assumissem um compromisso de pagar R$ 50 do plano de saúde dos trabalhadores, cujo valor médio atinge R$ 100.
Esse benefício, porém, não será depositado diretamente na conta de todos os motoristas e cobradores. Ele só será dado pelas viações para quem aderir ao convênio e estiver disposto a pagar os valores restantes -ou seja, perto de R$ 50 para os planos familiares.
Atualmente, a adesão ao convênio médico é de apenas 25% dos 50 mil trabalhadores. Se não houver novos interessados, do R$ 1,9 milhão que os empresários deixarão de pagar à prefeitura, apenas R$ 625 mil serão gastos com a concessão desse benefício. Ou seja, "lucro" de cerca de R$ 1,3 milhão das viações de ônibus.
Para que toda a verba que Marta abriu mão seja destinada ao convênio médico, mais de 76% da categoria terá que se interessar por um subsídio apenas parcial do plano de saúde, tendo que bancar os valores complementares.
A prefeitura havia decidido reter R$ 0,02 da passagem na assinatura dos contratos emergenciais, em janeiro passado. O valor correspondia a uma taxa de gerenciamento do sistema, sendo utilizado para consertos e reformas em terminais de ônibus.
Os diretores do sindicato dos motoristas disseram ontem acreditar em uma adesão em massa da categoria ao convênio. "Estamos mobilizando as garagens para termos uma adesão próxima da total", afirmou Edivaldo Santiago, presidente da entidade.
O problema é que, apesar do benefício de R$ 50 que pode ser dado pelas empresas, pagar a outra metade para ter um convênio médico, próxima de R$ 50, significa um impacto significativo no salário dos motoristas e cobradores, cujos pisos, hoje, são de R$ 1.027 e R$ 546, respectivamente.
"Mas a gente espera que, conforme os trabalhadores começarem a aderir, será possível diminuir os preços do plano de saúde", afirmou Paulo Cezar Barbosa, um dos coordenadores do convênio médico do sindicato.
Ele estima que, além dos cerca de 12.500 motoristas que já participam hoje do convênio médico dentro das viações, outros 10 mil também tenham planos independentes, fora do trabalho.

TRT
A juíza Maria Aparecida Pelegrina, do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), sugeriu ontem de manhã, durante audiência de conciliação, que os empresários de ônibus concedessem 8% de reajuste salarial aos motoristas e cobradores. Ela também propôs a elevação de 8% do valor do vale-refeição, atualmente em R$ 6,80.
O índice foi aceito pelos trabalhadores, que reivindicavam 9,26% de reajuste e 5% de aumento real. O Transurb (sindicato das viações), porém, manteve a proposta de 2% de reajuste feita anteontem. O TRT, por falta de acordo entre as duas partes, decidiu fazer um julgamento do dissídio da categoria amanhã.
O posicionamento do tribunal agradou os motoristas, que suspenderam as ameaças de paralisação até que haja uma decisão final. "Até agora, está sendo uma vitória. Mas ainda vamos aguardar um índice final do TRT para poder descartar qualquer tipo de greve", afirmou Santiago.



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