São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Comunidade espera há 11 anos retorno de profeta morto

Meu Rei, conhecedor das dificuldades dos sertanejos, é considerado o último profeta do sertão pernambucano

Seguidores moram em vila onde não se matam animais nem se joga futebol, seguindo a filosofia de seu líder


FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A BUÍQUE (PE)

Último profeta do sertão pernambucano, Meu Rei costumava dizer que não morreria. No máximo, viajaria e voltaria depois. Mas, em janeiro de 1999, contrariando as previsões, ele morreu, aos 113 anos de idade.
Meu Rei é Cícero José de Farias, um pernambucano de barbas brancas que pregava a paz, abominava o futebol e mantinha uma comunidade no Vale do Catimbau, em Buíque (282 km de Recife). Hoje, 11 anos depois de sua morte, há quem o espere voltar da viagem.
Na fazenda Porto Seguro, onde ergueu seu reino entre serras e grutas, fiéis mantêm intacto seu "palácio", uma construção em forma de torre, com cinco andares, cheia de passagens e escadas apertadas e assimétricas.
Lá, tudo está do jeito que ele deixou, após 23 anos de reinado. Os aposentos estão sempre limpos. Na mesa usada em reuniões e festas, a toalha continua bem esticada, enfeitada com um vaso de flores de plástico.
O corpo do líder, peregrino e conhecedor das dificuldades dos sertanejos, foi enterrado no subsolo.
Último assessor de Meu Rei, Edvaldo Bezerra de Melo, 67, diz que o profeta voltará à fazenda em 2040 para continuar a comandar "o processo de universalização da paz no terceiro milênio".

FAZENDA DE DEUS
Melo diz, inclusive, que Meu Rei já está entre nós. Seu espírito teria reencarnado quatro meses após a sua morte, em um bebê nascido na comunidade. O menino não mora mais no local e o seu nome é mantido em sigilo.
A fazenda, para onde retornaria aos 41 anos, pertence hoje a Deus. A doação foi feita por Meu Rei no cartório do 2º Ofício de Buíque, três anos antes de ele morrer.
O documento informa que Deus assinou os papéis "representado por Sadabe Alexandre de Farias Rei", codinome que identificava o profeta como filho Dele.
Meu Rei criou também uma moeda própria, o talento, para ser usada nos tempos de bonança universal. Nas cédulas plastificadas, foram impressos o seu rosto e a "origem" das notas: a "Casa da Moeda Divina".
Hoje, as poucas pessoas que continuam na fazenda cuidam para que os ensinamentos do líder se perpetuem. Na vila, não se matam animais nem se joga futebol.
"Meu Rei dizia que o futebol gera disputa e violência", conta Maria do Carmo Florêncio, 57, que começou a acompanhar o profeta aos 17.
Das 42 casas erguidas, apenas sete estão ocupadas.


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