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Comunidade espera há 11 anos retorno de profeta morto
Meu Rei, conhecedor das dificuldades dos sertanejos, é considerado o último profeta do sertão pernambucano
Seguidores moram em vila onde não se matam animais nem se joga futebol, seguindo a filosofia de seu líder
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A BUÍQUE (PE)
Último profeta do sertão
pernambucano, Meu Rei costumava dizer que não morreria. No máximo, viajaria e
voltaria depois. Mas, em janeiro de 1999, contrariando
as previsões, ele morreu, aos
113 anos de idade.
Meu Rei é Cícero José de
Farias, um pernambucano
de barbas brancas que pregava a paz, abominava o futebol e mantinha uma comunidade no Vale do Catimbau,
em Buíque (282 km de Recife). Hoje, 11 anos depois de
sua morte, há quem o espere
voltar da viagem.
Na fazenda Porto Seguro,
onde ergueu seu reino entre
serras e grutas, fiéis mantêm
intacto seu "palácio", uma
construção em forma de torre, com cinco andares, cheia
de passagens e escadas apertadas e assimétricas.
Lá, tudo está do jeito que
ele deixou, após 23 anos de
reinado. Os aposentos estão
sempre limpos. Na mesa usada em reuniões e festas, a
toalha continua bem esticada, enfeitada com um vaso
de flores de plástico.
O corpo do líder, peregrino
e conhecedor das dificuldades dos sertanejos, foi enterrado no subsolo.
Último assessor de Meu
Rei, Edvaldo Bezerra de Melo, 67, diz que o profeta voltará à fazenda em 2040 para
continuar a comandar "o
processo de universalização
da paz no terceiro milênio".
FAZENDA DE DEUS
Melo diz, inclusive, que
Meu Rei já está entre nós. Seu
espírito teria reencarnado
quatro meses após a sua morte, em um bebê nascido na
comunidade. O menino não
mora mais no local e o seu
nome é mantido em sigilo.
A fazenda, para onde retornaria aos 41 anos, pertence hoje a Deus. A doação foi
feita por Meu Rei no cartório
do 2º Ofício de Buíque, três
anos antes de ele morrer.
O documento informa que
Deus assinou os papéis "representado por Sadabe Alexandre de Farias Rei", codinome que identificava o profeta como filho Dele.
Meu Rei criou também
uma moeda própria, o talento, para ser usada nos tempos de bonança universal.
Nas cédulas plastificadas, foram impressos o seu rosto e a
"origem" das notas: a "Casa
da Moeda Divina".
Hoje, as poucas pessoas
que continuam na fazenda
cuidam para que os ensinamentos do líder se perpetuem. Na vila, não se matam
animais nem se joga futebol.
"Meu Rei dizia que o futebol gera disputa e violência",
conta Maria do Carmo Florêncio, 57, que começou a
acompanhar o profeta aos 17.
Das 42 casas erguidas,
apenas sete estão ocupadas.
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