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Governo radicaliza e pune 14 controladores
Após autorização de Lula, que classificou movimento de "desrespeito", Aeronáutica deflagrou plano de contingência
Líder dos operadores de vôo recebeu ordem de prisão; apesar das medidas, 35% dos vôos registravam atrasos superiores a 1 h
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de nove meses de crise nos aeroportos, o governo
fez ontem justamente o oposto
do que chegou a anunciar no
início: em vez de "desmilitarizar" o controle do tráfego aéreo, como exigiam os controladores, o Comando da Aeronáutica interveio ontem e radicalizou a militarização do sistema.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu pela manhã
com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito,
criticou os líderes dos controladores, classificou o movimento
de "desrespeito" e determinou:
"Faça o que tiver de ser feito
para botar a casa em ordem".
Saito deflagrou o plano de
contingência articulado desde
abril para sufocar os controladores e interveio no Cindacta-1
(Brasília), foco do que o governo chama de "insubordinação".
Mesmo com as medidas, 35%
dos 1.784 vôos previstos para
ontem tinham atraso superior
a uma hora. Os vôos chegaram a
ser suspensos em vários aeroportos do país.
Agora, todos os supervisores,
que antes eram sargentos, terão patente de tenente, com ordens para reagir duramente a
atos de indisciplina -como a
negativa de operar aparelhos
considerados em boas condições pelos técnicos.
Um dos líderes, Moisés Gomes de Almeida, recebeu ordem de prisão, 13 foram afastados do serviço (inclusive o líder
Wellington Rodrigues, da associação dos controladores) e três
outros, que se disseram "psicologicamente impedidos" de trabalhar, foram retirados e considerados solidários ao grupo e,
portanto, insubordinados.
Os afastados, que são sargentos e reivindicavam que a carreira de controlador fosse civil,
foram deslocados para o Centro de Operações Militares, onde funciona o serviço de controle de vôo de defesa do espaço
aéreo, estritamente militar.
Os punidos ficarão lá até que,
em cerca de dez dias, saia o resultado do IPM (Inquérito Policial Militar) que apura responsabilidades pelo "motim"
de 30 de março, que parou os
aeroportos de todo o país. Os 13
provavelmente serão indiciados nesse IPM, assim como outros dos centros de controle de
Curitiba e de Manaus que aderiram à greve de março.
A operação autorizada pelo
presidente Lula e executada
sob o comando de Saito foi toda
baseada numa radicalização do
sistema militar, e o "núcleo duro" dos profissionais chamados
para a eventualidade de cobrir
novas baixas é composto de
controladores da área de defesa
militar.
"O momento é de extrema
gravidade!... Este comportamento [do grupo de controladores] é inaceitável, porque
violenta o inalienável direito de
ir e vir das pessoas, criando
enormes sofrimentos para os
passageiros", disse Saito, ao
anunciar as medidas.
A operação inclui quatro esquadrões que têm grupos de
comunicação e radares de vigilância, com pessoal qualificado
para operar o controle aéreo:
Fortaleza, Natal, Santa Maria
(RS) e Canoas (RS).
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