São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Governo radicaliza e pune 14 controladores

Após autorização de Lula, que classificou movimento de "desrespeito", Aeronáutica deflagrou plano de contingência

Líder dos operadores de vôo recebeu ordem de prisão; apesar das medidas, 35% dos vôos registravam atrasos superiores a 1 h

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de nove meses de crise nos aeroportos, o governo fez ontem justamente o oposto do que chegou a anunciar no início: em vez de "desmilitarizar" o controle do tráfego aéreo, como exigiam os controladores, o Comando da Aeronáutica interveio ontem e radicalizou a militarização do sistema.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu pela manhã com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, criticou os líderes dos controladores, classificou o movimento de "desrespeito" e determinou: "Faça o que tiver de ser feito para botar a casa em ordem".
Saito deflagrou o plano de contingência articulado desde abril para sufocar os controladores e interveio no Cindacta-1 (Brasília), foco do que o governo chama de "insubordinação".
Mesmo com as medidas, 35% dos 1.784 vôos previstos para ontem tinham atraso superior a uma hora. Os vôos chegaram a ser suspensos em vários aeroportos do país.
Agora, todos os supervisores, que antes eram sargentos, terão patente de tenente, com ordens para reagir duramente a atos de indisciplina -como a negativa de operar aparelhos considerados em boas condições pelos técnicos.
Um dos líderes, Moisés Gomes de Almeida, recebeu ordem de prisão, 13 foram afastados do serviço (inclusive o líder Wellington Rodrigues, da associação dos controladores) e três outros, que se disseram "psicologicamente impedidos" de trabalhar, foram retirados e considerados solidários ao grupo e, portanto, insubordinados.
Os afastados, que são sargentos e reivindicavam que a carreira de controlador fosse civil, foram deslocados para o Centro de Operações Militares, onde funciona o serviço de controle de vôo de defesa do espaço aéreo, estritamente militar.
Os punidos ficarão lá até que, em cerca de dez dias, saia o resultado do IPM (Inquérito Policial Militar) que apura responsabilidades pelo "motim" de 30 de março, que parou os aeroportos de todo o país. Os 13 provavelmente serão indiciados nesse IPM, assim como outros dos centros de controle de Curitiba e de Manaus que aderiram à greve de março.
A operação autorizada pelo presidente Lula e executada sob o comando de Saito foi toda baseada numa radicalização do sistema militar, e o "núcleo duro" dos profissionais chamados para a eventualidade de cobrir novas baixas é composto de controladores da área de defesa militar.
"O momento é de extrema gravidade!... Este comportamento [do grupo de controladores] é inaceitável, porque violenta o inalienável direito de ir e vir das pessoas, criando enormes sofrimentos para os passageiros", disse Saito, ao anunciar as medidas.
A operação inclui quatro esquadrões que têm grupos de comunicação e radares de vigilância, com pessoal qualificado para operar o controle aéreo: Fortaleza, Natal, Santa Maria (RS) e Canoas (RS).


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